Antes do Nobel: prêmios e revistas acadêmicas
Os primeiros prêmios Nobel foram entregues em 1901 todavia, as recompensas pelas descobertas e invenções já existiam há muito tempo. Já no século XVII, nas origens da ciência experimental moderna, os cientistas perceberam a necessidade de algum sistema de recompensa e reconhecimento que incentivasse os avanços científicos.
Antes do Nobel, foi o presente que reinou na ciência. Os primeiros médicos, engenheiros, filósofos, alquimistas e astrônomos ofereceram conquistas maravilhosas, descobertas, invenções e obras de literatura ou arte como se fossem presentes para os ricos, geralmente da realeza. A maioria deles trabalhava fora das incipientes universidades, mesmo os que desfrutavam de um salário acadêmico modesto tinham grandes dificuldades de arrumar algum financiador.
A apresentação para agradar um possível patrono.
As descobertas e invenções tinham de ser apresentadas a um possível financiador com drama e talento. Galileu Galilei (1564-1642) apresentou suas luas, recém-descobertas, aos duques Medici como um presente que estava literalmente fora deste mundo. Em troca, o príncipe Cosimo de Medici "enobreceu" Galileu com o título de filósofo e matemático da corte. Tycho Brahe (1546-1601), o grande astrônomo da Renascença da Dinamarca, recebeu tudo que aspirava, desde dinheiro a segredos químicos, animais exóticos e ilhas em troca de suas descobertas. Mas isso era incomum. O normal era receber medalhas com seus retratos cunhados em ouro. Essa é uma condecoração que o Nobel fez viver até os dias atuais. A medalha podia ser vendida, mas a utilização de qualquer forma de divulgação contendo o nome do rico e poderoso, era proibida, ofendia.
Um navio cheio de robôs.
Havia uma disputa entre os poderosos da época de quem dispunha dos melhores cientistas em suas cortes. O rei Jaime I, da Inglaterra, levou um navio cheio de maravilhosos autômatos - os robôs da época - para cortejar a realeza da Índia. Também presenteou o marajá com a "arte de esfriar e refrescar" o ar em seu palácio, uma técnica que fora desenvolvida pelo engenheiro da corte inglesa Cornelis Debbrel (1562-1633). Debbrel havia conquistado sua posição na corte simplesmente aparecendo por lá, sem hora marcada. Seu autômato era tão extraordinário que o rei o recebeu sem vacilar. A ideia mais extravagante para dar os méritos a um cientista veio de Bacon. Sugeriu que fosse construída uma enorme galeria com as estátuas dos cientistas do passado e uma outra galeria com os pedestais vazios para serem preenchidos com os novos.
Revistas científicas: movendo-se para a modernidade.
Logo, os cientistas entenderam que as descobertas e invenções raramente eram feitas por uma só pessoa. Tinham de mudar os sistemas de premiações. Deveriam apoiar especialmente os estudos que fossem feitos por um grupo de cientistas. A "Leopoldina" atual, a sociedade científica da Alemanha, fundou sua revista em 1670. Era dado o primeiro passo para as mudanças. A ideia era "exibir [a descoberta ou invenção] ao mundo com a menção louvável de seu nome". Tudo indica que esse início foi dado com o trabalho sobre iluminação feito por Chistian Adolp Balduin (1632-1682). Apresentou ao rei os produtos químicos particularmente brilhantes que ele descobriu de forma espetacular. A apresentação "enlouqueceu" a corte. Balduin apresentou uma esfera com os brasões imperiais que ao brilhar, aparecia o nome do rei Leopold. Como se constata, Thomas Edison, o homem da lâmpada, o Feiticeiro de Melon Park, como era mais conhecido, teve um predecessor mais de 200 anos antes de sua casa no dia de Natal, recoberta com lâmpadas. As revistas científicas criaram um novo mundo para as ciências. Surgiram as academias de ciências em toda a Europa.
Um intermediário para recompensar cientistas.
À partir de 1670, a academia de ciências contou nada menos de 15.000 participantes em um concurso que colocaria em sua revista os melhores cientistas do ano. Em 1794, outra mudança decisiva, a Royal Academy of Scienses, da Inglaterra, começou a premiar aqueles que levavam seus trabalhos à revista que publicavam. O dinheiro para os prêmios continuavam vindo da nobreza e do clero, mas agora o fazia através de um intermediário: a academia de ciências. O maior prêmio que um cientista ganhou à partir da era das revistas parece ter sido dado pela solução do mistério da longitude no mar.
20 mil libras para um relojoeiro.
No dia 26 de março de 1762, o grande mistério da longitude foi resolvido quando um cronômetro orientou com sucesso o navio HMS Deptford, que viajava da Inglaterra para a Jamaica. Durante grande parte da história, muitas mentes científicas brilhantes tentaram encontrar um método para determinar a longitude exata, fundamental tanto para a cartografia quanto para a navegação oceânica. Até a invenção do cronômetro para a navegação, os navios só viajavam em paralelo e muito próximos das praias. As viagens no mar distante das praias eram consideradas suicidas. No século XI, o erudito muçulmano Al-Biruni, estabeleceu a moderna noção de que o tempo e a longitude estão relacionados ao conceito de que a Terra girava sobre um eixo. À partir daí, uma imensa multidão de cientistas passou a se dedicar ao estudo da longitude. Em vão. Quando um erro de navegação resultou no afundamento do navio Scilly, mais um em uma lista de milhares, o governo inglês estabeleceu um prêmio de 20 mil libras - algo como R$500 mil, feitas as atualizações - para quem apresentasse uma solução. Um relojeiro autodidata chamado John Harrison acreditava que a solução estava em um dispositivo mecânico que poderiam ser colocados em navios. Harrison projetou e construiu um complicado relógio marítimo, com duas barras interligadas para suportar o balanço de um navio no mar distante da costa. Em 1737, o dispositivo foi testado em uma viagem da Inglaterra para Portugal. Tudo funcionou a contento. Todavia, Harrison era um perfeccionista e não aceitou o resultado. E continuou construindo cada vez mais cronômetros, cada um mais perfeito que o antecessor.