Chi e Cárdenas, os pequenos Bolsonaros bolivianos
Fechadas as urnas bolivianas, os prognósticos foram confirmados: com 84% dos votos apurados, Evo Morales está com 45% dos votos e seu principal opositor, Carlos Mesa, ocupa a segunda posição com 37% dos votos. A Bolívia viverá o segundo turno. Não é pouco, muitos bolivianos já comemoram a derrota de Evo que, pela primeira vez em 14 anos, não venceu no primeiro turno. Apesar do Tribunal eleitoral ter interrompido o escrutínio dos votos alegando algo estranho, um conflito entre a transmissão de dados, entre o órgão central e os dos departamentos (o similar dos Estados brasileiros), os demais candidatos já declaram em off ou publicamente que apoiarão Carlos Mesa em dezembro.
Os Bolsonaros bolivianos.
A vitória de Bolsonaro no Brasil foi aplaudida por um setor da população boliviana, em especial em Santa Cruz, a região mais próspera da Bolívia e onde a oposição a Evo Morales sempre foi forte. Nas eleições deste ano, dois candidatos chamaram a atenção da imprensa por serem considerados pequenos Bolsonaros bolivianos. Ambos coincidem com o brasileiro em algumas propostas e também na articulação de seus partidos com as igrejas evangélicas.
O fator Dr. Chi
Chi Hyun Chung não é apenas um nome estranho para os bolivianos. É simples, Chi não é boliviano, é sul coreano. Foi à Bolívia aos 12 anos acompanhando seus pais, missionários evangélicos da Coreia do Sul. Essa missão teve muito êxito. Hoje conta com 70 igrejas, uma clínica e uma universidade.
Esperando por uma oportunidade para ingressar na política, o Dr. Chi, como é chamado pelos bolivianos, aproveitou a crise do Partido Democrata Cristão, fundado e dirigido através de várias gerações exclusivamente por católicos, para substituir seu candidato original, que renunciou na metade da campanha.
Dr. Chi está com 8% dos votos e é considerado o mais importante possível apoio para o segundo turno. A imprensa boliviana diz que para quem ele pender, as eleições estarão resolvidas. Seu principal discurso é de que os incêndios das florestas bolivianas ocorreram recentemente como um castigo de Deus pela existência de homossexuais no país. Tudo indica que apoiará Mesa, mas ainda não foi à imprensa confirmar o apoio.
Cárdenas, o Indio que não apoia Indio e quer armar as mulheres.
Víctor Hugo Cárdenas foi o primeiro indígena que ocupou o cargo de vice-presidente da Bolívia entre 1993 e 1997. Tal como outros indígenas da região do Lago Titicaca, Cárdenas é protestante. Logo depois de uma longa trajetória na luta indigenista e como opositor moderado de Evo Moraes, Cárdenas entrou na campanha presidencial como representante de um partido tradicional, União Cívica Solidariedade que indicou como seu vice um pastor protestante. Seus inimigos são os homossexuais e as feministas. Entre outras ideias relacionadas com a linha de Bolsonaro, vem propondo combater a violência contra as mulheres. Mas há uma grande diferença entre Bolsonaro e Cárdenas, o boliviano quer armar todas as mulheres bolivianas e não os homens.