Entreguem a fronteira à Inglaterra, nunca aos gaúchos
Existe uma rua Joaquim Murtinho. Uma escola centenária leva esse nome. Mais importante ainda: há uma cidade que homenageia a família Murtinho levando seu nome. É um estupor! Um dos maiores desatinos de nossa história. Essa foi uma poderosa família que se aproveitou de seus cargos políticos para se tornar imensamente rica, às custas de nosso desenvolvimento. Joaquim Murtinho, o mais importante deles, era um declarado militante anti-industrial.
Usando seus cargos públicos, criaram um banco.
A recém nascida República, fez concessões a determinados grupos políticos brasileiros. Aos Murtinho, permitiu que eles explorassem uma linha férrea que sairia de Catalão, em Goiás, indo a Cuiabá e chegando à fronteira com a Bolívia. Não conseguiram criar essa estrada, aliás, sonho e frustração dos cuiabanos por décadas. Mas foram favorecidos com a criação do primeiro banco do Mato Grosso ainda uno - o Banco Rio e Mato Grosso. Esse banco, compraria, em 1.892, 14.540 ações, das 15.000 existentes, da gigantesca empresa ervateira Matte Laranjeira. Um empreendimento pra lá de condenável. Essa imensa empresa possuía exército próprio, campo de concentração, escravos e moeda cunhada por eles mesmos. E era uma jogada esperta. Como parte fundamental do dinheiro saia da Argentina, seus administradores eram todos daquele país. Também não aceitavam brasileiros trabalhando em seus vastos domínios. Os trabalhadores eram todos paraguaios. Essa é uma história de como o poder político pode ser usado para o enriquecimento fácil. Tudo começou quando D.Pedro II doou para um comerciante chamado Tomás Laranjeira a exploração dessas terras, que constituem nossa fronteira com o Paraguai.
Doem a fronteira para os ingleses, nunca para os gaúchos.
Muitos gaúchos permaneceram na fronteira após a Guerra de Solano Lopes. Serão eles que facilitarão a chegada de milhares de seus conterrâneos quando de uma guerra civil ocorrida no Rio Grande do Sul. Ao chegarem na fronteira, dominada totalmente pelos Murtinho, travaram outra guerra. Não foi uma guerra tradicional - de tropas enfrentando outras tropas em um terreno descampado. Foi uma guerra de guerrilha. Os Murtinho a venceram, com facilidade, durante algumas décadas. Mataram e expulsaram uma grande quantidade de gaúchos. E, também, conseguiram várias prorrogações de uso dessas terras. Mandavam e desmandavam. Era, na prática, um Estado dentro de um Estado. Até que em 1.916, tomaram as terras e as venderam ou doaram para os gaúchos. O plano era vender pouco mais de 400 hectares para cada família de gaúchos… mas a bagunça é a maior da leis brasileiras. E é eterna. A última tentativa dos Murtinho foi mais jogada de vingança que propriamente de negociata. Apostaram que essas ricas terras em mate nativo deveriam ser entregues aos ingleses… nunca aos gaúchos, seus perpétuos inimigos.
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