Expedição Langsdorff, entre rios e memórias
Por Alexsandro Nogueira, jornalista
Em uma jornada épica que se estendeu por oito anos, de 1821 a 1829, 39 homens se lançaram ao desconhecido, atravessando seis estados brasileiros e desafiando os limites da resistência humana. Contudo, a selva implacável cobrou seu preço: apenas 12 conseguiram chegar ao destino final. Entre os que pereceram, um foi tragicamente atacado por uma onça, enquanto outro desapareceu nas profundezas de um rio caudaloso no norte de Mato Grosso. A situação tornou-se tão desesperadora que, consumido pela malária, o comandante perdeu a razão, sucumbindo à selvageria das matas. Ao evocar tais eventos, a narrativa se assemelha a um roteiro de um filme de Indiana Jones, mas são, na verdade, os fatos que compõem a mais importante exploração científica que cruzou o Brasil no século XIX: a Expedição Langsdorff.
Tragédia e loucura
Tão ousada quanto trágica, essa aventura, está ligada à história de Mato Grosso do Sul. Mais precisamente ao norte do Estado, quando o grupo de expedicionários chegaram a região de Varadouro de Camapuã. Um vilarejo de poucas casas que chamou a atenção dos aventureiros pela escassez de comida. Uma gororoba feita de milho, farinha e açúcar socada em um pilão serviu de refeição para a tropa de aventureiros antes deles seguirem viagem cruzando os rios Coxim, Taquari e Paraguai, até chegarem à Cuiabá. No meio do caminho, ainda teve o entrevero com os nativos e a relação cordial com índios ribeirinhos.
Riedel governa, Florence julga: os descendentes
No meio a essa odisseia, dois homens se destacaram pela resiliência: o biólogo Ludwig Riedel e o artista e inventor Hercule Florence, responsáveis por catalogar as riquezas da flora brasileira e as peculiaridades de cada região. Por essas coincidências do destino, o governador Eduardo Riedel é descendente direto de Ludwig Riedel, responsável pela criação da seção de botânica do Museu Nacional do Rio de Janeiro, em 1831. Essa relação vai além de um simples detalhe familiar e curiosamente, é um legado que ainda perdura. O apreço pela biologia, ciência e meio ambiente, que tanto moveu seu antepassado, ainda ressoa hoje no posicionamento do governador sobre a defesa do ecossistema. Ao lado de Ludwig, Hercule Florence, tataravô do desembargador do TJMS, Rui Celso Florence, trouxe uma visão artística que ia além do visível. Com suas tintas, ele capturou a essência das paisagens, revelando a beleza intrínseca da terra que habitavam. Juntos, eles documentaram a biodiversidade, além de teceram um elo entre ciência e arte, passado e presente.