Na fronteira surgiam cabeças em estacas nas encruzilhadas
O subdelegado de policia de Ponta Porã, em 1.906, escreveu que desordeiros e bandidos do Paraguai se refugiavam naquela localidade. Tinham, conforme esse delegado “malévolos intentos, desde que lhes permitta a occasião - o roubo, o assassinato e violação ao lar doméstico”, afirma Francisco Lopes de Aguiar. Estava ocorrendo um singular fluxo migratório, milhares de gaúchos, e um número não determinado de paraguaios, passava a viver nessa região, antes despovoada.
Fugitivos da desolação.
Os paraguaios entraram pela via fluvial e pela fronteira seca, através de inúmeras passagens que permitiram trânsito livre de gente, de bois e de mercadorias entre os dois países, como nas regiões de Bela Vista e Ponta Porã. Vieram fugidos da desolação do pós-guerra em seu país de origem, da fome, da insegurança e falta de garantias de vida, agravadas pelas frequentes crises politicas e revoluções, que se sucederam de forma continua em um país destroçado, endividado e sem perspectivas de desenvolvimento. Não encontraram uma vida mais tranquila deste lado da fronteira. Acabaram se tornando escravos da gigantesca empresa Matte Laranjeira que explorava os ervais nativos.
Sem lei e sem dono.
A sociedade forjada na fronteira adquiriu as marcas da contravenção e da violência. Um imenso território sem controle administrativo. Desguarnecido militarmente, sem policia, sem barreiras fiscais adequadas, era um território sem lei e sem dono. A violência era estrutural. Não raro, encontravam cabeças espetadas em estacas nas encruzilhadas para servir de exemplo. “O respeito era imposto pelo 44 que todos traziam na guaica atupetada de balas”.
Pobres quartéis.
Os raros soldados sofriam a falta de comunicação com seus superiores vivendo em outras regiões distantes. Recebiam soldos irrisórios. Careciam da insuficiência de abastecimento de viveres, gêneros de primeira necessidade, fardamento, remédios, armas e munições. Eram muito vulneráveis a bandidos que infestaram a fronteira. Não conseguiam sequer defender suas próprias vidas. E ainda havia os desertores que tinham de ser exilados definitivamente para o país vizinho. A maioria das vezes, esses desertores iam engrossar as fileiras do banditismo. Também sofriam com as arbitrariedades dos comandantes e pela má qualificação. Muitas vezes eram compulsoriamente recrutados.
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