O Festival da Embriaguez. Os deuses viviam no fundo da garrafa
Os antigos egípcios eram engraçados. Gastavam mais dinheiro em seus túmulos que em seus palácios. E achavam que a cerveja tinha salvado a humanidade. E, para completar, tinham o Festival da Embriaguez, algo chocante para as sensibilidades atuais.
Uma celebração anual.
O Festival da Embriaguez era uma celebração anual da deusa Hathor e da salvação da humanidade através do milagre da cerveja. Coincidia com a cheia anual do Nilo, que trazia fertilidade às terras. Era realizado no templo de Hathor e dele participavam multidões de ricaços. Devia ser bem escandaloso.
Com as melhores roupas.
O festival começava no crepúsculo. Os adoradores se reuniam na margem do Nilo enquanto o sol se punha do outro lado. Todos vestiam suas melhores roupas. As mulheres usavam seus colares típicos, bem grandes, maquiagem nos olhos e coroas na cabeça. As pessoas eram ungidas com um óleo de aroma doce. Flores eram espalhadas por toda parte, para que o local tivesse um cheiro divino. Até aqui, a história é bem fofa. Calma, que a barra vai pesar.
Chegava a barca.
Eles esperavam pela barcaça cerimonial que apareceria no Nilo. Hathor estava chegando. As mulheres começavam a bater em seus tambores de mão enquanto a barca se aproximava e atracava. Havia nela um sacerdote, carregando consigo uma tigela cheia de cerveja vermelha para apresentar à deusa.
Dança no pedaço.
Os tambores soavam e Hathor desembarcava. Era cercada por uma procissão de sacerdotes e dançarinas que faziam a dança tradicional da cerveja: braço direito levantado e cotovelo em um angulo de noventa graus. Aprenderam? Os dançarinos se vestiam de babuínos e outros macacos - para mostrar que Hathor era a deusa de toda a natureza.
Vai começar a diversão!
Após bater em bolas de barro, algo semelhante ao golfe atual, o faraó voltava para casa e a diversão começava de verdade. Quantidades enormes de cerveja circulavam. Havia bem pouca comida. Bebiam com um único motivo: embriaguez sagrada. As pessoas entornavam a bebida. Ficavam mamadas. Um sacerdote subia em um palanque e lia hinos de louvor. A ultima frase do sacerdote é super pesada: “Deixe-o beber, deixe-o comer, deixe-o fod***”.
Adoravam o esfrega-esfrega.
A cultura egípcia adorava e endeusava o esfrega-esfrega. Todos estavam ungidos em óleo - o corpo inteiro. As estrelas já tinham surgido, a lua subia no céu. Então, eles praticavam o sexo, bem ali, no saguão do templo. Na verdade era chamado de “Salão das Idas ao Charco”. Ir ao charco, era para os egípcios, praticar sexo.
Vai acabar!
Por fim, os adoradores faziam o que todo mundo faz depois de ficar terrivelmente bêbado, vomitar (pulei essa parte de propósito) e transar com desconhecidos: dormiam. Nas últimas horas da noite, o Saguão da Embriaguez era tomado por roncos das pessoas. Era então que a mágica acontecia. No oratório ao lado do templo havia uma grande estatua de Hathor. Abriam as portas e levavam essa estátua até o Salão da Embriaguez. Tocavam os tambores e todos acordavam como bêbados acordam: meio perdidos. E era aí que aparecia à frente deles uma estátua iluminada pelo sol nascente. Era uma epifania. Um momento místico. Vivenciavam a presença da deusa. E nesse instante de crença celestial, podiam pedir qualquer coisa à deusa.