“Não é normal”, diz especialista sobre vídeo de arara pousando em rapaz
Ave silvestre que se aproxima de pessoas pode ter sido vítima de tráfico de animais ou domesticada
A imagem é linda e inusitada. Imagine que você esteja correndo e ‘do nada’ uma arara-canindé se aproxima e pousa no seu braço. Isso aconteceu com o policial civil Kaléu Freitas, 39 anos, neste sábado (29), durante a prática de exercícios em uma área rural de Jardim, a 233 km da Capital.
“Tinha um casal de araras no fio de alta tensão. Eu vi que elas estavam me olhando muito. Depois que passei por elas, percebi que estava sendo seguido e essa arara ficou dando rasante até pousar no meu braço”, conta.
A experiência durou cerca de cinco minutos e foi registrada nos vídeos que ele compartilhou nas redes sociais. “Ontem eu ganhei o ano. Me senti uma pessoa privilegiada, é raro ver isso acontecer. É uma vez na vida e todos estão falando o quanto sou muito abençoado por Deus e que tenho uma alma boa. Acho que o animal sabe quem gosta dele”, justificou Kaléu.
Ele afirma que não tocou na ave e chegou a ficar com receio de ser ferido com o bico da arara. Mas se manteve calmo e chegou a tentar deixá-la em uma cerca, mas o animal não descia do braço. “Aí, do nada ela voou e foi embora. Acho que esse encontro não vai acontecer de novo. Voltei lá hoje e não as encontrei”, revelou.
No entanto, apesar de parecer um momento bonito, não é normal. A bióloga, mestre em Ciências Florestais, doutora em Zoologia e presidente do Instituto Arara-azul, Neiva Guedes, afirma que nenhum animal silvestre se aproxima do ser humano desta forma.
“Isso é totalmente alterado. Nenhuma arara silvestre faz isso, só a domesticada. Alguém amansou esse bicho, que se acostumou com gente, que deve comer com gente e por isso ela vai em qualquer pessoa. A sorte que esse rapaz é do bem e não levou ela embora”, ressalta.
A especialista lamentou a situação. “Isso é muito triste. Na verdade, o rapaz não sabe, mas realmente é muito triste. Se fosse um traficante já levava e ia vender facilmente, porque é um bicho manso. As pessoas não devem fazer isso. Ela deve ter dono, alguém amansou ela ou comprou, porque tem pra vender”.
A médica veterinária Maria Eduarda Monteiro, que participa dos projetos de pesquisa do Instituto Arara-azul, também destacou que a ave deve ter crescido com a aproximação humana. “Não é um comportamento normal que a gente observa na natureza. Pela imagem parece um animal jovem, quase adulto. O que pode ter acontecido nesta situação com a aproximação deste nível é ter muito contato com humano durante o desenvolvimento”.
Outro ponto relevante a ser mencionado é a prática de ceva, que é quando o homem alimenta animais silvestres. “Ele [animal] pode estar sendo cevado, algumas pessoas podem estar oferecendo alimento. Parece que ele já está acostumado com a presença humana, isso não é normal. Por isso falamos que não pode ficar pegando, passando a mão, eles são muito sociáveis e se acostumam com o ser humano. Se a pessoa começa a oferecer comida desde novinho, ele volta para buscar alimento de novo. Isso não é legal. Essa pessoa ainda é do bem, deixou a arara, mas tem gente maldosa, que cria essa dependência do ser humano. Queremos animais livres na natureza, com comportamento natural”, concluiu.