Investimentos param com a crise e Capital amarga anos de promessas
De Capital do desenvolvimento a estagnação. Campo Grande que já foi promessa de emprego e crescimento econômico, hoje vive dias de espera. Espera por novos investimentos, parceiros e empresas. Que tragam de volta a geração de emprego e renda e o status de 'economia pujante'.
Na última década, a cidade que hoje completa 117 anos, recebeu vários investimentos que não só encheram os polos industriais, como levaram esperança para empresários e trabalhadores. Porém, com o passar dos anos muitos projetos foram ficando pelo caminho e hoje se resumem ao passado.
É fácil enumerá-los. O Outlet Premier concluiu este ano as obras em um terreno do Indubrasil, com a proposta de oferecer produtos com 70% de desconto, mas o prazo de inauguração é adiado mês a mês. A fábrica de tablets da empresa Uninter, nem saiu do papel.
Em 2012, as obras foram anunciadas com toda a pompa e circunstância que merece uma empresa que promete alto impacto na economia local. Mas, quatro anos depois, a empresa afirma que busca maneiras de viabilizar o projeto com recursos próprios. "A empresa almeja começar o mais rápido possível, porém, ainda não tem data prevista para o início das obras".
Ainda tem o no projeto feito para revolucionar a logística da Capital. As obras do intermodal de cargas começaram em 2007, com a ideia de alavancar as exportações estaduais, mas nove anos depois nem a infraestrutura foi concluída. A empresa responsável por comercializar e operar o intermodal de cargas, a Park X, não tem previsão para concluir as obras.
O que fazer - Tais projetos, se concluídos, seriam capaz de mudar a matriz econômica campo-grandense. Hoje, os empregos se dividem em poucas industrias, muitas empresas e comércio decadente. Para o presidente do Corecon/MS (Conselho Regional de Economia), Thales Campo, "Campo Grande precisa urgentemente um planejamento industrial".
O economista explica que atualmente o setor de Serviços "sustenta a cidade" devido a grande demanda, porém é necessário iniciar o processo de industrialização. "Se você analisar os últimos 10 anos, houve um grande processo de desenvolvimento na região do Bolsão de MS, onde se instalaram grandes industrias. O mesmo não aconteceu com a Capital".
Ele lembra que muita coisa ocorreu nesse período, mas que é preciso evoluir nesse processo, com a vinda de industrias que agreguem mais valor aos produtos locais, por exemplo. "Não temos densidade demográfica suficiente para consumir o que é produzido aqui, então precisamos agregar valor e enviar para outros estados e países", destaca.
Thales ainda lembra que o Porto Seco seria ideal nesse processo de industrialização. "É fundamental para a logística ferrovia e rodoviária ter um intermodal desse porte. É de extrema importância que ele saia do papel".
Ponto a ponto - Detalhista, o economista e consultor Pedro Pedrossian Neto, afirma que é necessário sair da venda de produtos in natura, para dar outro passo na cadeia industrial. "Campo Grande tem que ser inserido nesse contexto de desenvolvimento econômico pelo qual passa o Estado".
Para ele, a inauguração da fábrica de tablets seria a oportunidade da cidade avançar por novos ares. "É preciso investimentos em inovação, tecnologia, pesquisa e essa empresa seria a porta de entrada para outras do segmento. Ia ser um simbolo dessa invocação tecnológica".
Pedro que já trabalhou na secretaria de Desenvolvimento Econômico estadual ressalta ponto a ponto de como a cidade poderia crescer. Assim como o economista Thales, Pedrossian concorda que é preciso agregar valor a produção local. "Grandes indústrias deveriam estar aqui, a Nestlé é uma delas, por exemplo".
Trazer empresas não é uma tarefa fácil, depende de vontade política e trabalho para vencer as guerras fiscais. "A disputa entre estados é ruim, mas tem o seu lado positivo, podemos ganhar espaço com isso e conquistar novos investimentos", afirma o consultor.
Em Campo Grande, o órgão responsável por captar novos negócios é o Codecon (Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico), ligado a prefeitura municipal. Porém, desde abril não realizada reuniões. O que, na prática, significa que empresários dispostos a investir aqui estão a espera de uma posição do município há quatro meses.
As reuniões foram remarcadas diversas vezes, ora por falta de quórum, ora por algum erro dos conselheiros. Mas, desde junho, a prefeitura não marca novas reuniões e o motivo é desconhecido. A administração municipal também foi procurada para falar sobre os projetos de desenvolvimento econômico municipal, porém preferiu não se manifestar.