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Economia

Mesmo com vagas, salários baixos afastam trabalhadores do mercado formal

Campo Grande tem mercado aquecido, mas salário médio de R$ 1.700 faz com que vagas "sobram", diz Feintramag

Por Mylena Fraiha | 16/12/2024 15:29
Anúncio de vaga de trabalho em loja na Rua 14 de Julho, em Campo Grande (Foto: Juliano Almeida)
Anúncio de vaga de trabalho em loja na Rua 14 de Julho, em Campo Grande (Foto: Juliano Almeida)

Mesmo com vagas abertas no setor de comércio e serviços, uma parcela dos trabalhadores da Capital tem optado por seguir em trabalhos informais, sem carteira assinada, já que os salários propostos em vagas são avaliados como “muito baixos” para a carga horária e função exigida.

A avaliação foi feita pelo presidente da Feintramag (Federação Interestadual dos Trabalhadores na Movimentação de Mercadorias em Geral) de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, José Lucas da Silva. Segundo ele, a Capital tem um “mercado de trabalho aquecido”, mas ele avalia que os “subempregos” têm feito com que vagas sobrem.

De acordo com o SEC (Sindicato dos Empregados do Comércio de Campo Grande), para funções como caixa ou repositor de mercadorias, o salário-base estipulado por convenções e acordos coletivos é de R$ 1.839.

Entretanto, conforme apontado por José Lucas, embora alguns trabalhadores recebam acima desse valor, a maioria enfrenta condições de trabalho pouco atraentes, como a escala 6x1, com apenas um dia de folga semanal, geralmente no domingo.

Segundo ele, essas condições têm levado muitos trabalhadores a buscar alternativas no mercado informal, como vendedores ambulantes ou serventes de pedreiro. “Por ser um bico, há mais flexibilidade na carga horária, e ele acaba recebendo mais do que isso. Além disso, ele não fica 'preso' a um empregador, com a obrigação de ir todos os dias e bater o ponto. Isso está acontecendo em grande parte do país”, aponta o presidente da Feintramag.

Marlucia aponta que recorreu ao mercado informal devido à carga horária e melhor remuneração (Foto: Juliano Almeida).
Marlucia aponta que recorreu ao mercado informal devido à carga horária e melhor remuneração (Foto: Juliano Almeida).

Uma dessas trabalhadoras que recorreu ao mercado informal é a cabeleireira Marlucia Silva Lopes, de 58 anos, que hoje trabalha em salões de beleza de Campo Grande, mas como autônoma. Ela relata que ganha por comissão e chega a receber R$ 4.000 por mês.

Marlucia conta que já foi adepta ao mercado formal, com carteira assinada, mas que a exigência de tempo e os baixos salários a levaram a trabalhar como autônoma. "Eu tentei vaga CLT, mas acho que não me encaixo mais, principalmente por causa da exigência de horários. A minha família depende muito de mim, então eu faço o meu horário".

Isabel prefere o trabalho com carteira assinada devido às garantias legais que a CLT concede ao trabalhador (Foto: Juliano Almeida).
Isabel prefere o trabalho com carteira assinada devido às garantias legais que a CLT concede ao trabalhador (Foto: Juliano Almeida).

Por outro lado, a auxiliar de cozinha Isabel Arnoldi Martins Ferreira, de 47 anos, prefere o trabalho com carteira assinada devido às garantias legais que a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) concede ao trabalhador.

“Hoje, eu prefiro buscar um emprego com carteira assinada. Apesar de a informalidade me dar alguma flexibilidade, na CLT a gente tem mais amparo legal. Por exemplo, no comércio, que é um lugar perigoso, pode acontecer alguma coisa, e na CLT eu teria direito a auxílio-acidente ou auxílio-doença. Na informalidade, não tenho nenhum direito e nem como cobrar nada”, comenta Isabel.

Isabel aponta que ficou desempregada recentemente e tem optado por trabalho informal, como a venda de brigadeiros que ela mesma faz e vende na região central de Campo Grande. Ela diz que, apesar de defender o trabalho formal, os salários estão muito abaixo das expectativas dos trabalhadores que estão à procura de uma vaga. “Tem vaga. Quem quiser trabalhar e tiver boa vontade, acha. O problema é a remuneração. As oportunidades existem, mas os salários precisam melhorar para atrair e valorizar os trabalhadores”.

Além dos salários baixos, um dos aspectos que Isabel acha ruim no mercado formal é a carga horária cansativa imposta em algumas vagas, especialmente no comércio e no setor de serviços, como é o caso dela.

"Quando eu trabalhava em restaurante, eu entrava às 7h da manhã, mas tinha que sair de casa às 4h porque dependo de transporte público. Só voltava às 19h. A gente passa 12, 13, até 15 horas fora de casa. É muito cansativo. Mas, se a remuneração no comércio ou em restaurantes fosse maior, eu ficaria muito mais motivada. Campo Grande é uma cidade cara. Hoje, com R$ 600, você não faz quase nada. Só de aluguel, eu pago R$ 600 por um lugar pequeno".

Anúncio de vaga de trabalho em loja na Rua 14 de Julho, em Campo Grande (Foto: Juliano Almeida)
Anúncio de vaga de trabalho em loja na Rua 14 de Julho, em Campo Grande (Foto: Juliano Almeida)

Salário e consumo - Na visão do presidente da Feintramag, para que o comércio e demais setores consigam atrair mais trabalhadores, é preciso que os empregadores tenham uma mudança de perspectiva e aumentem os salários, além de oferecerem mais benefícios.

“É preciso ter algo para chamar a atenção dos trabalhadores. Seja um plano de saúde, um ticket de alimentação, uma cesta básica. Só que só isso também não chama atenção. É preciso ter o crescimento do salário”, diz José Lucas.

Ele aponta que, além de melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores, isso também tem o potencial de aumentar o consumo e, consequentemente, fazer a economia girar. "Se o empregado ganha bem, ele gasta bem. Esse dinheiro retorna para o mercado. Se ele ganha R$ 1.500, ele vai gastar os R$ 1.500. E, se ele ganha R$ 3.000, ele gasta R$ 3.000. Quando o empregador não enxergar que o trabalhador é um fomentador da riqueza e aumentar os salários, isso com certeza vai atrair mais interessados nas vagas. Porque o trabalhador quer consumir, quer comprar um tênis, uma roupa, algo para os filhos".

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