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Economia

Passagem da caravana pelo Paraguai redescobre marco dos pioneiros

De Salta, Argentina, Silvio Andrade | 31/08/2017 10:55
Passagem da caravana pelo Paraguai redescobre marco dos pioneiros
Participantes da caravana em Filadelfia no Paraguai (Foto: Silvio Andrade)
Participantes da caravana em Filadelfia no Paraguai (Foto: Silvio Andrade)

A rota bioceânica unindo Brasil, Paraguai, Argentina e Chile por rodovias, que motivou a realização da segunda etapa do Rila (Rota de Integração Latino-Americana) com a participação de 25 caminhonetes, na estrada há uma semana para provar a viabilidade de um corredor altamente atrativo economicamente para os quatro países, é um sonho que nasceu lá atrás, há pelo menos 26 anos.

A poucos quilômetros da fronteira com a Argentina, no Rio Pilcomayo, pela carreteira paraguaia de terra e poeira que sai de Carmelo Peralta, ao lado de Porto Murtinho, no trevo que dá opção à Bolívia, uma estrutura de madeira chama a atenção de quem se aventura por aquele lugar sem nenhuma infraestrutura, a ser asfaltado agora.

Trata-se de um marco fincado pelos pioneiros que idealizaram um sonho então impossível de integrar o Brasil à costa do Pacífico. Em um trevo próximo à comunidade de Pozo Hondo, como naquele fim dos anos de 1990, comemorou-se um projeto no papel com churrasco e mandioca. Os pecuaristas queriam se fortalecer oferecendo uma carne macia, insuperável.

Apoio dos menonitas - O Chaco paraguaio, se hoje tem restrições de transporte pela precariedade de suas estradas, era praticamente intransponível, enquanto cresciam as áreas de produção agropecuária ao estágio atual, onde a carne e o leite produzidos na região são imbatíveis em qualidade in natura.

Um movimento surgiu na fronteira com Mato Grosso do Sul – na época, Mato Grosso no – e argentinos e chilenos deram total apoio à iniciativa.

Um encontro reuniu, em 1999, empresários e políticos do sul da Bolívia, o governador de Sala, uma das principais províncias da Argentina, e do Chile. Do lado paraguaio, o departamento de Loma Plata participou com caravanas de três cooperativas dos menonitas, que hoje dominam o mercado de lácteos.

Pioneirismo - A proposta central era abrir um caminho, desde a fronteira com Porto Murtinho, aos portos chilenos. As estradas eram precárias, não havia infraestrutura.

Como vencer uma distância longa sem uma boa logística, era o assunto que predominou o encontro histórico, com os participantes dispostos a superar os desafios, os quais ainda hoje são entraves para mudar a rota das exportações feitas pelo Estado via portos de Santos e Paranaguá.

Um longo passeio dos produtos para alcançar os mercados europeus e asiáticos. O que havia naqueles tempos eram picadas no meio do Chaco e a intransponível Cordilheira dos Andes, ainda hoje um desafio aos caminhoneiros.

O agropecuarista Flávio Queiróz, 57, grande produtor de bovinos em Carmelo Peralta, que ajudou a fundar em 2007, e ex-político em Porto Murtinho, conta que, como agora, havia um entusiasmo muito grande para consolidar o corredor bioceânico e vários encontros se sucederam.

Paraguai não cumpriu - Alguns empresários, entre os quais Flávio Queiróz, e o argentino Aristides Carafenches, realizaram em terra batida o trecho até os portos do Chile, hoje refeito pela caravana do Sindicado das Empresas de Transporte de Cargas e Logística.

O corredor não foi concretizado porque o Paraguai não cumpriu a sua parte desder aquela época, mas agora assume concretamente que asfaltará 628 km para abrir o caminho da integração, até 2020.

O governo brasileiro também não é muito de cumprir prioridades, como a ponte de concreto sobre o Rio Paraguai, fundamental para a produção da região Centro-Oeste chegar aos portos do Chile. Agora, a construção da ponte depende de aval do Congresso Nacional.

O secretário Marcelo Miglioli, o prefeito de Murtinho e Flávio Queiroz. (Foto: Silvio Andrade)
O secretário Marcelo Miglioli, o prefeito de Murtinho e Flávio Queiroz. (Foto: Silvio Andrade)

Madeira de lei - "Não foi ideia de alguns, mas de todos, transportistas, do empresariado, com o apoio governamental, como está acontecendo agora", diz Flávio Queiróz. "O governo de Mato Grosso do Sul assumiu a nossa luta e estamos esperançosos em realizar agora o sonho impossível que idealizamos ."

Para marcar os primeiros encontros do corredor bioceânico, os cinco países (incluindo a Bolívia) registraram o pioneirismo em um marco de madeira, localizado próximo à fronteira do Paraguai com a Argentina.

Cada país levou uma madeira nativa, aroeira, quebracho branco, santa fé, algarrobo e coromilho. Uma bandeira brasileira tremula naquela triângulo, redescoberto agora com a passagem da segunda edição do Rila, cuja etapa está se encerrado amanhã em Assunção, percorrendo mais de 6 mil km.

Assunção, último destino - A caravana organizada pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística de MS esteve na quarta-feira (30) em Salva, capital da província de Salta e uma das mais importantes cidades do noroeste da Argentina.

Terra da verdadeira saltenha, servida aos empresários e gestores públicos do governo federal e do Estado, Salta exportou em 2016 mais de um bilhão de dólares e tem o brasil como um dos seus principais importadores.

Os integrantes da caravana se reuniram com empresários e representantes do governo da província, os quais demonstraram interesse em aproximar as relações comerciais com Mato Grosso do Sul com a viabilização da rota bioceânica.

Nicolas Ramos, secretário de Comércio, fez uma explanação do potencial econômico e turístico da região, onde 70% da produção é primária. O principal produto é o tabaco, exportado para 116 países.

Nesta quinta-feira, a Rila segue para Assunção, distante 1.100 km de Salta, para cumprir a última agenda, na sexta (1 de setembro), cuja agenda se encerrará à tarde.

Participante da expedição no marco dos pioneiros (Foto: Silvio Andrade)
Participante da expedição no marco dos pioneiros (Foto: Silvio Andrade)
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