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Educação e Tecnologia

Editora vê com "espanto" decisão de MS em "censurar" livro

Companhia de Letras alega que recolhimento é baseado em distorções do conteúdo e trechos isolados

Por Natália Olliver | 07/03/2024 13:03
Livro alvo de polêmicas no país ganhou prêmio de literatura, Jabuti, em 2021 (Foto: Divulgação)
Livro alvo de polêmicas no país ganhou prêmio de literatura, Jabuti, em 2021 (Foto: Divulgação)

A editora Companhia de Letras, responsável pela publicação do livro polêmico ‘O Avesso da Pele”, do escritor e professor Jeferson Tenório, se pronunciou após o governador Eduardo Riedel (PSDB) anunciar que vai retirar o material das escolas de Mato Grosso do Sul. Segundo a editora, a decisão é baseada em distorções do conteúdo abordado e trechos isolados fora de contexto. A empresa usa a palavra "espanto" para descrever o sentimento.

Questionada pelo Campo Grande News, a editora alega que o título, assim como o conteúdo, foi inscrito e avaliado pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD 2021) para ser trabalhado no Ensino Médio.

“Causa espanto a decisão. Ao decidir pelo recolhimento dos livros, após a repercussão da veiculação de um vídeo que distorce e tira de contexto trechos isolados do livro, a Secretaria de Educação não apenas limita o acesso à informação, mas também mina a autonomia dos educadores e das escolas prevista no PNLD e na legislação educacional. Ela também cerceia a liberdade de pensamento, o direito à educação e à literatura dos jovens”

A editora afirma que a obra foi aprovada por uma banca de educadores, especialistas, mestres e doutores em literatura e língua portuguesa juntamente com outros 530 títulos, e eu, posteriormente, foi escolhido pelos educadores e equipe gestora das unidades escolares para chegar aos colégios.

“Ressaltamos que as obras inscritas no edital seguem acompanhadas de materiais digitais de apoio pedagógico aos educadores, bem como vídeo aulas. Já os exemplares distribuídos aos estudantes são acompanhados de paratexto que discorre sobre as temáticas da obra relacionadas à BNCC, gênero textual, narrador e formas expressivas. Ou seja, as obras aprovadas já dispõem de “encaminhamentos pedagógicos. Repudiamos qualquer tentativa de impor uma visão única e limitada sobre a realidade, seja por meio da censura de livros, pela restrição de temáticas no ambiente escolar ou de qualquer outra forma de obstáculo à liberdade de expressão”. 

O romance "O avesso da pele", é vencedor do Prêmio Jabuti de 2021 e fala sobre identidade e as complexas relações raciais, sobre violência e negritude. A editora acrescenta que Tenório traz à superfície um país marcado pelo racismo e por um sistema educacional falido, e um denso relato sobre as relações entre pais e filhos.

Entenda -  Na terça-feira (6) a Secretaria de educação do Estado disse que iria analisar conteúdo do livro, que fala de racismo e sexo. A decisão aconteceu após o assunto ter sido levado até a Assembleia Legislativa. Deputados descreverem a narrativa como "nojenta".

Segundo o jornal Folha de São Paulo, depois da polêmica, as vendas de "O Avesso da Pele", aumentaram em 400% na Amazon desde sexta-feira. Por R$ 50 em média, hoje é um do livros brasileiros mais vendidos no País.

Em entrevista ao UOL, o Jeferson Tenório disse que não está surpreso com a reação, porque em 2022 o romance já virou polêmica em Salvador e ele chegou a ser ameaçado de morte.

"Pinçam trechos e falam em livro erótico, o que não é verdade. O livro é uma crítica à branquitude, à forma como os brancos enxergam os negros e isso passa pela sexualização, sobre a forma como o branco vê um corpo preto",  diz.Na opinião dele, só quem perde é a escola, porque perde a oportunidade de falar sobre sexualidade.

"O problema não é a palavra usada e a falta de interesse em discutir o assunto que é tão pertinente. A questão no Brasil é que todo mundo virou especialista em literatura. Nenhuma autoridade tem o poder de tirar da escola um livro enviado pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático", avalia.

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