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Educação e Tecnologia

SED diz que vai analisar livro chamado de "nojento" por deputados

Assunto ganhou a assembleia nesta terça-feira; Livro "O avesso da pele” foi vencedor do Prêmio Jabuti em 2021

Por Natália Olliver | 06/03/2024 11:09
Obra "O Avesso da Pele' de Jeferson Tenório, ganhou prêmio Jabuti em 2021 (Foto: Divulgação)
Obra "O Avesso da Pele' de Jeferson Tenório, ganhou prêmio Jabuti em 2021 (Foto: Divulgação)

Secretaria de educação do Estado vai analisar conteúdo do livro "O Avesso da Pele", que fala de racismo e sexo. A obra do escritor Jeferson Tenório foi tema de polêmica na assembleia legislativa de Mato Grosso do Sul nesta terça-feira (6). Preocupada com a repercussão, a SED (Secretaria de Estado de Educação) informou que o material é distribuído pelo Ministério da Educação e que a inspeção será aprofundada.

“Para o encaminhamento, o MEC cria uma lista com as obras disponíveis e as unidades escolares fazem a opção pelos acervos de interesse. Após a escolha feita pelas escolas, o Ministério faz o envio direto para as escolas”.

A polêmica no plenário juntou a turma da direita da esquerda. Na opinião de alguns o conteúdo não poderia estar à disposição dos alunos porque usa palavras de baixo calão. Segundo esses deputados estaduais isso “é nojento”.

Rinaldo Modesto (Podemos) foi quem levou a discussão ao plenário. O evangélico disse que desde a noite de domingo tem recebido várias mensagens de pais revoltados com a obra. Rinaldo, inclusive, pediu apoio aos colegas com assinaturas em documento que será encaminhado ao governo do Estado para que o romance seja retirado das bibliotecas nas escolas.

“Em respeito às mulheres, avós que estão aqui, não consigo nem repetir os termos que ele usa no livro. Mas não podemos admitir que esse tipo de obra fique na biblioteca, à disposição dos nossos jovens. Não gosto dessas pautas de costume, mas é a banalização do sexo. Parece conversa de pescador. Adolescentes podem falar sobre temas do tipo, mas com responsabilidade”, argumentou Rinaldo.

A esquerda também questionou o conteúdo do livro. “Tenho recebido mensagens e algumas fake news de que foi o governo Lula que distribuiu. Mas foi distribuído em 2022, durante o governo Jair Bolsonaro”, informou o deputado Pedro Kemp (PT).

O petista também falou das ressalvas sobre a escolha. “Entrando no mérito do conteúdo do livro, também tenho muitas reservas e dúvidas se é adequado aos estudantes do Ensino Médio”.

A obra - O livro foi avaliado e incluída no Programa Nacional do Livro e do Material Didático. A editora responsável, Companhia das Letras, tem rebatido os ataques. “Para chegar ao colégio em questão, ainda precisou passar por aprovação da própria diretora, que assinou o documento de ‘ata de escolha’ da obra e agora contesta o conteúdo do livro. Esses dados são transparentes e públicos”, escreveu.

A editora ainda repudiou a censura à obra. “A retirada de exemplares de um livro, baseada em uma interpretação distorcida e descontextualizada de trechos isolados, é um ato que viola os princípios fundamentais da educação e da democracia”.

O autor apresenta o romance como literatura sobre identidade e as complexas relações raciais, inclusive, sobre violência. O resumo mostra a história de Pedro, que após a morte do pai, assassinado numa desastrosa abordagem policial, sai em busca de resgatar o passado da família e refazer os caminhos paternos.

O autor admite que usa uma narrativa por vezes brutal, para trazer à superfície um país marcado pelo racismo e por um sistema educacional falido, com um denso relato sobre as relações entre pais e filhos. Ainda conforme a apresentação, em O Avesso da Pele, o que está em jogo é a vida de um homem abalado pelas inevitáveis fraturas existenciais da sua condição de negro em um país racista, um processo de dor, de acerto de contas, mas também de redenção, superação e liberdade.

Margareth Menezes,  ministra da Cultura, também saiu em defesa do livro.  “Somos absolutamente contrários a qualquer tipo de limitação ao acesso a obras. Para um livro ser levado às escolas, um conselho formado por um grupo de pessoas decidiu. O livro não é colocado de graça. O Ministério da Educação tem essa sensibilidade”.

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