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Artes

Do karaokê ao Spotify, Miss Violência é primeira trans com som regional

“Eu fui a primeira, mas não serei a única, assim espero”, diz a cantora, torcendo pela cena musical LGBTQIA+

Bárbara Cavalcanti | 14/08/2021 08:29
Miss Violência é primeira trans negra com som pop regional. (Foto: Divulgação)
Miss Violência é primeira trans negra com som pop regional. (Foto: Divulgação)

Alice Ferreira, de nome nome artístico Miss Violência, criou um marco na cena pop campo-grandense como artista trans negra com som regional pop. O debut dela em “Sigilo”, projeto feito com Júlio Ruschel, foi o início tanto na carreira musical de Miss Violência, quanto na cena LGBTQIA+. “Eu fui a primeira, mas não serei a única, assim espero”, reforça.

O clipe de Sigilo “quebrou” a comunidade e teve repercussões acima do esperado de toda produção. Com hoje 4,8 mil visualizações, ainda foi parar em 1º lugar na lista do Spotify Regional. E para Miss Violência, essa foi a primeira vez que ela “soltou a voz” em uma produção audiovisual como essa.

O primeiro contato com a música veio do karaokê, que o Lado B conferiu e fez a cobertura completa. ”Eu comecei lá, fazendo um freela, servindo bebidas para as pessoas. Foi então que um dos produtores me convidou para participar, o Talisson Perez ajudou a me descobrir”, comenta.

Miss Violência cantou pela primeira vez em clipe "Sigilo". (Foto: Divulgação)
Miss Violência cantou pela primeira vez em clipe "Sigilo". (Foto: Divulgação)

Sem qualquer preparo de voz, se jogou na área nova do canto. Já tinha alguma experiência de dança até se firmar na arte drag. “Em “Sigilo”, é basicamente o que Miss Violência faz na noite. Eu sempre fazia o que todo mundo faz, que são as dublagens, o que é o que qualquer artista da cena noturna também faz. Aqui em Campo Grande, essa área é bem rica, tem muitos artistas e bailarinos performáticos, mas é mais isso da dublagem”, detalha.

Cantar agora, veio para ficar na arte de Miss Violência. Já diz estar preparando um EP, com outras músicas, singles e clipes e fala com ansiedade na próxima Parada do Orgulho, quando for possível ser realizada. “Fazer um EP é febre entre os artistas”, ri. “Mas eu já estou vendo com um studio e produtores”, revela.

Avalia a cena musical pop e ainda LGBTQIA+ de Campo Grande ainda como tímida, diante da forte influência de outros estilos musicais, como o sertanejo. “Amo artistas como Marina Peralta e Paolla. A Paolla mesmo flerta um pouco com o pop, mas ainda assim, o pop mesmo ainda é um pouco apagado e tímido”, avalia.

Miss Violência durante gravação de Sigilo. (Foto: Divulgação)
Miss Violência durante gravação de Sigilo. (Foto: Divulgação)

O sentimento de ter sido a primeira trans negra com som regional pop é agridoce. “É triste ser a primeira, mas é importante para abrir espaço, o que torna uma honra. Você olha para os lados e não vê muitos como você, mas isso então se torna o motivo para persistir. Nesse sentido, Julio e eu compartilhamos do sentimento de que a repercussão de Sigilo seja só o início e que a cena pop cresça”, reforça.

Miss Violência também comenta sobre a mentalidade mais fechada e conservadora existente na Capital para artistas e ainda por cima da comunidade LGBTQIA+. “Campo Grande é uma cidade complicada e ainda muito hostil para esses artistas. Mas a gente não tem obrigação de mudar as pessoas. Nossa obrigação é fazer uma arte muito bem feita e polida pela nossa comunidade”, expressa.

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