Após uma vida dando aula, Maria só quer dançar aos 102 anos
Escritora e poeta, ela foi professora até os 80 anos, parou devido a saúde, mas hoje tem prazer em dançar
A arte de ensinar e compartilhar conhecimento Maria Dornelles Mugarte da Silva, de 102 anos, domina como ninguém. Professora, escritora, poeta, criadora do hino de Cachoeirão, a 50 km de Terenos, Maria deu aula até os 80 anos. Hoje, ela ainda sente saudade da lousa, o giz e de esclarecer todas as dúvidas infantis que sempre a rodearam.
Em casa, Maria recorda parte da história que tem registrada em documentos, como o livro que escrever sobre Cachoeirão. Ela comenta como iniciou a carreira e o interesse pela alfabetização.
“Desde que eu vi criança precisando estudar comecei a ensinar. Fui parar só agora depois de velha, quando não conseguia mais enxergar e ler direto as coisas”, diz.
Sem escolas no distrito, a professora adaptou parte da chácara com lousa, cadeiras e mesas para ensinar os menores. Na propriedade, ela dedicava o dia a ensinar crianças de diferentes idades, além dos quatro filhos. Em meados de 1950, a educadora alfabetizou os primeiros de muitos alunos que viriam depois.
Maria garante que nunca foi encrenqueira, porém não ‘aceitava encrenca’. A mulher também ressalta que nunca ‘esperou por ninguém’. Por isso, ela encontrou o jeito de auxiliar os filhos dos moradores da região e bateu o pé para que fosse erguida uma escola.
O carinho por Cachoeirão sempre foi imenso, por isso, ela não só escreveu o livro como também fez o hino oficial do distrito. Religiosa, ela também esteve envolvida na construção da Capela Santa Luzia. Já o lado festeira de ser resultou na celebração que se tornou tradição, o ‘Festeiro de São Sebastião’.
Mesmo depois de ter vindo com a família para a Capital, Maria retornou ao distrito de Terenos onde novamente lecionou, em 1982. A chegada da terceira idade não a limitou e ela deu um jeito de fazer o que amava. Hoje, a professora aposentada relata a saudade que tem da época.
“Eu gostava de tudo, porque qualquer assunto ou dificuldade das crianças tudo eu explicava. [...] Até hoje acho falta das crianças, ser professora, mestra, é a melhor coisa que você acha no mundo, porque você tem carinho pelas crianças. Eu ensinava eles a brincar, a sorrir, a fazer o que eles queriam”, afirma orgulhosa.
Apesar dos 102 anos, Maria conserva a jovialidade que a faz dançar na varanda entre a filha Maria Regina, a neta Daniele e a amiga Marli. Ela levanta do banco e dá uns passos sozinha. Posteriormente, Marli se junta e elas formam o par.
A dança é só uma das que ela fez recentemente. Em outra ocasião, Maria mostrou um pouco do talento durante um dia de lazer com a família.
Veja o vídeo:
Inspiração - O jeito da avó sempre foi algo que a jornalista Daniele Mugarte, de 24 anos, admirou. A diversão dela era visitar Maria na chácara. Na propriedade ambas compartilhavam momentos que seguem inesquecíveis para a jornalista.
Ainda pequena, Daniele não sabia que iria fazer jornalismo, porém sentia paixão pelas palavras e adorava escrever na máquina de datilografia. A profissional explica como o exemplo da avó foi essencial.
“Me lembro que todas as vezes que ia na fazenda a minha avó pegava uma caixa bem grande onde guardava as poesias e textos para o jornal. Ela me mostrava o rascunho do livro, tudo. Ela tinha uma máquina de escrever e minha maior diversão era ficar digitando. Não sabia o que estava fazendo, mas sabia que era apaixonada por isso. Sempre me identifiquei muito por ela ter uma questão social muito forte. O amor pela escrita foi despertado por ela", diz emocionada.
Após muita conversa, histórias e recordações, a despedida de Maria vem com um convite. Um dia, ela quer mostrar pessoalmente para a equipe à propriedade no interior do Estado.
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