ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
JULHO, SEGUNDA  22    CAMPO GRANDE 25º

Comportamento

Após uma vida dando aula, Maria só quer dançar aos 102 anos

Escritora e poeta, ela foi professora até os 80 anos, parou devido a saúde, mas hoje tem prazer em dançar

Jéssica Fernandes | 21/10/2022 06:40
Maria mostra recordação do grupo de alunos que ensinou. (Foto: Kísie Ainoã)
Maria mostra recordação do grupo de alunos que ensinou. (Foto: Kísie Ainoã)

A arte de ensinar e compartilhar conhecimento Maria Dornelles Mugarte da Silva, de 102 anos, domina como ninguém. Professora, escritora, poeta, criadora do hino de Cachoeirão, a 50 km de Terenos, Maria deu aula até os 80 anos. Hoje, ela ainda sente saudade da lousa, o giz e de esclarecer todas as dúvidas infantis que sempre a rodearam.

Em casa, Maria recorda parte da história que tem registrada em documentos, como o livro que escrever sobre Cachoeirão. Ela comenta como iniciou a carreira e o interesse pela alfabetização.

“Desde que eu vi criança precisando estudar comecei a ensinar. Fui parar só agora depois de velha, quando não conseguia mais enxergar e ler direto as coisas”, diz.

Na terceira idade, ela seguiu dando aulas para os pequenos. (Foto: Kísie Ainoã)
Na terceira idade, ela seguiu dando aulas para os pequenos. (Foto: Kísie Ainoã)

Sem escolas no distrito, a professora adaptou parte da chácara com lousa, cadeiras e mesas para ensinar os menores. Na propriedade, ela dedicava o dia a ensinar crianças de diferentes idades, além dos quatro filhos. Em meados de 1950, a educadora alfabetizou os primeiros de muitos alunos que viriam depois.

Maria garante que nunca foi encrenqueira, porém não ‘aceitava encrenca’. A mulher também ressalta que nunca ‘esperou por ninguém’. Por isso, ela encontrou o jeito de auxiliar os filhos dos moradores da região e bateu o pé para que fosse erguida uma escola.

O carinho por Cachoeirão sempre foi imenso, por isso, ela não só escreveu o livro como também fez o hino oficial do distrito. Religiosa, ela também esteve envolvida na construção da Capela Santa Luzia. Já o lado festeira de ser resultou na celebração que se tornou tradição, o ‘Festeiro de São Sebastião’.

Escritora, ela abordou história de Cachoeirão numa das obras que produziu. (Foto: Kísie Ainoã)
Escritora, ela abordou história de Cachoeirão numa das obras que produziu. (Foto: Kísie Ainoã)

Mesmo depois de ter vindo com a família para a Capital, Maria retornou ao distrito de Terenos onde novamente lecionou, em 1982. A chegada da terceira idade não a limitou e ela deu um jeito de fazer o que amava. Hoje, a professora aposentada relata a saudade que tem da época.

“Eu gostava de tudo, porque qualquer assunto ou dificuldade das crianças tudo eu explicava. [...] Até hoje acho falta das crianças, ser professora, mestra, é a melhor coisa que você acha no mundo, porque você tem carinho pelas crianças. Eu ensinava eles a brincar, a sorrir, a fazer o que eles queriam”, afirma orgulhosa.

Apesar dos 102 anos, Maria conserva a jovialidade que a faz dançar na varanda entre a filha Maria Regina, a neta Daniele e a amiga Marli. Ela levanta do banco e dá uns passos sozinha. Posteriormente, Marli se junta e elas formam o par.

A dança é só uma das que ela fez recentemente. Em outra ocasião, Maria mostrou um pouco do talento durante um dia de lazer com a família.

Veja o vídeo:

Inspiração - O jeito da avó sempre foi algo que a jornalista Daniele Mugarte, de 24 anos, admirou. A diversão dela era visitar Maria na chácara. Na propriedade ambas compartilhavam momentos que seguem inesquecíveis para a jornalista.

Ainda pequena, Daniele não sabia que iria fazer jornalismo, porém sentia paixão pelas palavras e adorava escrever na máquina de datilografia. A profissional explica como o exemplo da avó foi essencial.

“Me lembro que todas as vezes que ia na fazenda a minha avó pegava uma caixa bem grande onde guardava as poesias e textos para o jornal. Ela me mostrava o rascunho do livro, tudo. Ela tinha uma máquina de escrever e minha maior diversão era ficar digitando. Não sabia o que estava fazendo, mas sabia que era apaixonada por isso. Sempre me identifiquei muito por ela ter uma questão social muito forte. O amor pela escrita foi despertado por ela", diz emocionada.

Após muita conversa, histórias e recordações, a despedida de Maria vem com um convite. Um dia, ela quer mostrar pessoalmente para a equipe  à propriedade no interior do Estado.

Emocionada, Daniele fala sobre a avó que a inspirou.  (Foto: Kísie Ainoã)
Emocionada, Daniele fala sobre a avó que a inspirou.  (Foto: Kísie Ainoã)

Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial, Facebook e Twitter. Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui).

Confira a galeria de imagens:

  • Em 1982, Maria retornou ao distrito de Terenos para dar aulas. (Foto: Kísie Ainoã)
  • Em casa, professora aposentada dança com Marli. (Foto: Kísie Ainoã)
  • (Foto: Kísie Ainoã)
  • (Foto: Kísie Ainoã)
  • (Foto: Kísie Ainoã)
  • (Foto: Kísie Ainoã)
Nos siga no Google Notícias