Aquele Natal em que o padre se animou demais e os convidados saíram de fininho
As histórias do Baú vão surgindo com a dinâmica do calendário e com as situações, tipo uma coisa puxa a outra. Enquanto enfrentava um Atacadão entupido hoje de manhã, de repente me lembrei daquele Natal. Foi na época que eu tocava na noite pra ganhar "cenhão" e uma senhora queria porque queria que eu tocasse na festa de Natal da casa dela. Disse que pagava trezentão.
Puxa vida... passar o Natal fora e trabalhando? Mas o bolso chiou e aceitei o convite. Cheguei às 22h, casona bonita, família, moçada e criançada. De repente a anfitriã me chama e pergunta se eu sabia tocar alguma coisa religiosa. Pô... fui organista de missa um tempão e aquela também era minha praia.
Ela disse: "O padre fulano é nosso convidado e quero que ele dê uma benção para nós". Legal! O padre chegou numa alegria só e ao sentir meu repertório, se animou e a benção virou uma celebração. A dona da casa foi arrumar o altar e eu comecei a tocar umas modas.
O povo se animou, fez aquela roda e, dê-lhe cerveja. Como prévia para a celebração... Sei não... Onze e meia o padre chamou os "fiéis" já bem calibrados e a dona da casa teve que arrastar os convidados para o altar. A introdução do celebrante foi bem comprida.
Os mais velhos se sentaram, os jovens foram lá pro fundão e a criançada sumiu pra dentro ver televisão. Quando chegou a hora do sermão mesmo, aí o padre se animou bonito e não parou mais.
De onde eu estava via o panorama todo e quando finalmente o padre resolveu encerrar a prédica, já passava da meia noite e a moçada tinha saído de fininho, embora mesmo, de carro e tudo. Comida e bebida tinha prum batalhão e sobraram só os velhos, o padre e eu, com a incumbência de reanimar a festa, levantar os ânimos e deixar todo mundo feliz. Foi o trezentão mais suado que ganhei e o Natal mais desencontrado que tive. Feliz Natal do Baú da Tia Lê para todos os amigos!!!
*Lenilde Ramos é sanfoneira, jornalista e conta suas histórias aqui no Lado B.