Corujão da Madrugada é mão amiga de motoristas que não desistiram de aplicativos
Grupo foi criado em 2018 com a intenção de reunir a categoria e realiza ações sociais
Quando o medo afastava muita gente do trabalho noturno, os motoristas de aplicativos de Campo Grande, Allan Teixeira e Ueliton Siqueira criaram o grupo Corujão da Madrugada, hoje com 160 membros. A turma é "profissional", tem até sistema de monitoramento, app de rádio amador e um grupo no Whatsapp, 24 horas no ar, para atender qualquer chamado, seja no centro ou nos bairros afastados. Além disso, desde fevereiro passaram a realizar ações sociais na Capital.
Allan relata que devido ao número de assaltos, roubos e até mesmo por “camaradagem”, os condutores entraram no grupo e não deixam ninguém na mão. “Temos nove meses e criamos o canal porque estávamos em outro, porém havia muitas regras. A gente já trabalha conta própria, se impor normas complica mais. Queríamos algo diferente e assim surgiu o Corujão da Madrugada”, conta.
Desde o começo, os motoristas se encontram todos os dias, às 9h da manhã em uma chiparia localizada na Rua Barão do Rio Branco. No local, conversam, comentam sobre as corridas inusitadas, se alimentam e voltam para o “batente”. No início, os condutores rodavam apenas na madrugada, o que deu origem ao nome grupo. Contudo, com a chegada de novos integrantes passaram a funcionar durante o dia também.
“Viramos família. Fazemos o rastreamento, temos um grupo no Whatsapp, o rádio no qual os motoristas ficam on-line. Teve caso de pedir ajuda e o pessoal foi atrás, já tivemos que acionar a polícia”, conta Allan sobre o cotidiano da equipe.
O motorista relata que os membros se comunicam o tempo inteiro no canal do Corujão. “Compartilhamos a localização, alguns usam rastreador próprio, mas toda hora tem gente falando. O desafio do dia a dia são os buracos nas ruas, falta de iluminação, assaltos. Nos policiamos bastante para que nada de ruim aconteça e até agora, nenhum integrante foi assaltado”, afirma.
Algumas orientações básicas são passadas para os membros. “Pedimos para que quando forem em lugares estranhos e se sentirem medo, não embarquem, por precaução. Mas se embarcou e pediu o rastreamento, a galera é parceira, tanto é que tem gente que está no Nova Lima e vai para o Aero Rancho socorrer”, disse.
Para o administrador do Corujão, locais estranhos seriam; Nhá-Nhá, Nova Lima, Caiobá, Noroeste e bairros afastados, escuros, sem nenhum apoio. “Levamos para esses locais, mas na madrugada é complicado porque a maioria dos roubos acontece à noite”.
Além dos motoristas homens, o grupo conta com 15 condutoras, algumas até trabalham no período noturno, como a Taize Moreira. “Nunca aconteceu nada de ruim comigo, mas já ajudei muito a gurizada. Eles falam que sou mais homem que alguns por aí. Se acontecer algo com parceiro, largo tudo e vou atrás. Conheço muitos bairros”, disse.
Apesar de ter uma quantidade boa de integrantes, o grupo está aberto para novos membros, desde que o interessado seja motorista de aplicativo e tenha um conhecido no Corujão da Madrugada. “Esse é o critério para garantir a segurança de todos. Às vezes, encontramos alguém que está rodando, que é motorista, mas não conhece ninguém. Ai adicionamos”, explica.
Saia justa - Na conversa, Allan Teixeira falou sobre alguns apertos que passaram nesses nove meses. “Teve um companheiro que embarcou três passageiros após o evento na Expogrande, uma menina e dois rapazes. O motorista pediu o acompanhamento no grupo e levou o trio para o Itamaracá. Ao chegar no destino, foram desviando a rota e quando o condutor percebeu, já estava no meio do mato”, relata.
“O motorista só não foi assaltado porque os integrantes do grupo Corujão chegaram em seguida. O trio notou os carros se aproximando e disse que ficaria por lá mesmo”, contou. O administrador da equipe também passou por um momento de tensão.
“Comigo foi neste mês também, no Columbia. Embarquei dois rapazes, bêbados, que usaram o aplicativo de um terceiro e estava com o destino para Parque dos Poderes. Já no local, a dupla disse que não era ali e estava armada. Acionei os companheiros pelo rádio, nisso a pessoa que solicitou a corrida me ligou dizendo que fui para o destino errado. No fim, deixei os dois na Vila Nasser, enquanto os membros chegavam para dar apoio. Deu certo”, lembra.
Outra dificuldade do grupo é com relação aos passageiros embriagados. “Os bêbados são desafios, mais até que os usuários de drogas. Pois dá para notar que é usuário e podemos recursar a corrida, mas com os bêbados é diferente”, diz. Apesar de ser necessário recursar algumas viagens, Teixeira afirma que não pode escolher muito.
“Na escassez de corrida, não podemos escolher muito. É um período de vários aplicativos, motoristas e é difícil recusar. Há bairros que precisamos ter precaução e a orientação é; portas travadas e vidros fechados. O nosso aplicativo de rádio e grupo do Whatsapp são 24h. Quando precisa, socorremos, até mesmo quando o combustível acaba”, relata.
Solidários - Desde fevereiro de 2019, a equipe realiza ações sociais para também contribuir com a população da Capital. Allan Teixeira informa que o grupo pretende, uma vez por mês, ajudar aqueles que estão em situação vulnerabilidade. “A primeira atividade foi doar sangue para a menina de 4 anos que se envolveu em um acidente entre carro e ônibus no Nova Lima. Ela estava na CTI [Centro de Tratamento Intensivo] da Santa Casa correndo risco de ter anemia, nos mobilizamos para ajudá-la”, conta.
Além disso, nesta semana, mais de 30 motoristas do grupo realizaram uma corrida gratuita para passageiro que solicitavam viagens de UPAs (Unidade de Pronto Atendimento). “Teve uma pessoa que agradeceu o condutor por ser de graça porque, ou pagava a corrida ou não teria o que comer no dia seguinte. Montamos um sacolão para ela”, falou.
O aplicativo Me Busque ajudou o grupo a montar o sacolão que foi entregue na quinta-feira (11), no bairro Estrala Dalva para a passageira, pelos motoristas.