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Comportamento

Expressão de sofrimento profundo, automutilação é dor que persiste

Psicóloga explica que fenômeno não é nada recente, mas visibilidade se tornou maior com as redes sociais

Por Aletheya Alves | 17/09/2024 06:36
Automutilação pode ser física e envolver comportamentos nocivos. (Foto: Paulo Francis)
Automutilação pode ser física e envolver comportamentos nocivos. (Foto: Paulo Francis)

“A automutilação é uma expressão de um sofrimento profundo e invisível” e, apesar de estar longe de ser um fenômeno recente, ganhou uma visibilidade maior na psicologia no século passado. Atingindo principalmente adolescentes e adultos de até 24 anos, ganhou novas proporções com as redes sociais, mas a busca por ajuda segue sendo um tabu.

Psicóloga e psicanalista especialista na infância e adolescência, Jamile Tannous usou a primeira frase do texto para resumir de que se trata a automutilação. Adicionando explicações, ela contextualiza que esse fenômeno é o resultado, geralmente, de uma combinação de fatores hereditários, psicológicos, ambientais e sociais.

“É um fenômeno multifatorial que geralmente envolve a tentativa de aliviar uma dor emocional insuportável”. Seja através de filmes, séries, redes sociais ou na vida real, é comum encontrar relatos de pessoas que se machucam durante períodos difíceis, principalmente na adolescência e, segundo a psicóloga, há explicações possíveis.

Entre os 12 e 24 anos, os adolescentes e jovens estão passando por mudanças emocionais intensas, além das corporais, hormonais e sociais. Jamile descreve que essa combinação pode gerar vulnerabilidades e dificuldades em lidar com o sofrimento.

Mas, apesar de ser mais comum com esse público, a automutilação também aparece em adultos e crianças. Isso porque a dificuldade em lidar com a tristeza, os episódios depressivos e transtornos de personalidade não possuem restrição de idade.

Para entender mais sobre o assunto, a psicóloga explica que o ato de se ferir aparece historicamente em contextos e culturas diferentes. Há aplicações com significados religiosos inclusive como forma de penitência.

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A prática de autolesão entre adolescentes pode parecer mais presente hoje, em parte devido ao fácil acesso à informação e ao compartilhamento de experiências nas redes sociais, mas também porque em nossa sociedade tem aumentado a atenção aos transtornos mentais e ao sofrimento emocional. Portanto, embora o comportamento seja antigo, a maneira como ele aparece e é tratado na contemporaneidade está mais em evidência”, descreve a psicóloga.

Identificar que alguém está em sofrimento e pratica a automutilação também pode ocorrer de forma diferente dos machucados físicos. Casos de comportamento alimentar desordenado, ingestão de substâncias nocivas e envolvimento com comportamentos destrutivos e de risco também são motivos de alerta.

Isso porque, como Jamile destaca, a automutilação, no fim das contas, é uma tentativa de externalizar ou de lidar com um sofrimento que não é colocado em palavras.

A partir dessa contextualização, a psicóloga detalha que o ato de se machucar pode estar relacionado a transtornos mentais, mas o diagnóstico precisa vir através de um profissional. Esse comportamento pode ser um sintoma de condições diferentes.

Como procurar ajuda e como ajudar?

“Para quem está passando por um momento de automutilação, o primeiro passo é reconhecer que precisa de ajuda e que não há vergonha nisso. Falar com alguém de confiança, seja um amigo, familiar ou profissional, pode ser o ponto de partida. Buscar terapia é fundamental para entender as causas profundas desse comportamento e aprender novas maneiras de lidar com as emoções. Se for difícil falar diretamente, pode-se começar escrevendo sobre o que está sentindo. O importante é não enfrentar isso sozinho”.

De acordo com a psicóloga, ao invés de focar apenas no comportamento, é necessário abordar suas causas emocionais e psíquicas que estão por trás. É nesse sentido que a busca da ajuda profissional faz toda diferença.

Já para aqueles que querem ajudar, Jamile descreve que o passo inicial é observar. “Aos pais ou amigos de um adolescente ou jovem que só se veste com roupas de manga longa, mesmo no verão, fica um alerta. Busque se aproximar e conversar sobre os motivos desse comportamento, pois muitas vezes por trás disso, existe um desejo de esconder as lesões”.

Inclusive, esse processo de ajuda requer paciência, empatia e a necessidade do não julgamento.

“Evite reações exageradas ou culpar a pessoa, pois isso pode agravar o comportamento. Ofereça apoio emocional e incentive a pessoa a procurar ajuda profissional, como um psicólogo ou psiquiatra, para que ela possa trabalhar as causas subjacentes do comportamento. Criar um espaço seguro onde a pessoa possa expressar suas emoções sem medo de ser julgada é essencial”. Caso haja risco iminente de lesões graves ou de suicídio, o caminho é procurar ajuda imediatamente com serviços de emergência.

“Se você ou alguém próximo está enfrentando isso, saiba que é possível superar esse momento com apoio adequado”, completa Jamile.

Caso queira conversar e ainda não saiba como começar, em Campo Grande, o GAV (Grupo Amor Vida) presta um serviço gratuito de apoio emocional a pessoas em crise através do telefone 0800 750 5554. Ligue sempre que precisar. O horário de funcionamento é das 7h às 23h, inclusive, sábados, domingos e feriados.

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