Nova cultivar de amendoim forrageiro apresenta até 29% em teor de proteína
Resultado de 15 anos de pesquisa, a nova cultivar é uma opção alimentar para bovinos, equinos e ovinos
Foram 15 anos de pesquisa e que contaram com a parceria da Embrapa Gado de Corte (MS), Embrapa Cerrados (DF), Embrapa Amazônia Oriental (PA) e Embrapa Pecuária Sudeste (SP). No final nasceu a variedade BRS Oquira, uma cultivar de amendoim forrageiro recomendada para o consórcio com pastagens nos biomas Cerrado, Amazônia e Mata Atlântica. Rica em proteína e com alta produção de forragem, a tecnologia é alternativa para intensificar a produção de carne e leite e viabilizar uma pecuária a pasto mais sustentável. A cultivar acaba de ser lançada no mercado.
Estudos mostraram que, em cultivos adubados e irrigados, o teor de proteína bruta na planta chega a 29%, valor que garante alimento de qualidade para o rebanho e melhora a produtividade animal. Resultado de avaliação e seleção de materiais genéticos, a nova cultivar foi testada nas condições de clima e solo dos três biomas e, entre outros aspectos, se destaca, principalmente, pela alta concentração de proteína, elevada produtividade de forragem e maior tolerância à seca.
Mais alimento para o gado
Segundo a Embrapa, por ser nutritivo e palatável, o amendoim forrageiro pode ser utilizado na dieta de bovinos, equinos e ovinos, sob pastejo direto, em pastos consorciados com gramíneas, em plantios puros que funcionam como bancos de proteína ou fornecido no cocho como forragem verde picada, feno e silagem. A BRS Oquira demonstrou alto desempenho também na produtividade de forragem, em relação a outras cultivares de amendoim forrageiro.
Em cultivos sem uso de adubação e irrigação, a cultivar produziu entre 13 e 16 toneladas de massa seca de forragem por hectare/ano na Amazônia, enquanto, no Cerrado, a produção variou de 10 a 13 toneladas por hectare/ano. No bioma Mata Atlântica, experimentos adubados e irrigados produziram entre 15 e 20 toneladas de matéria seca por hectare/ano. “Esse desempenho representa um aumento que varia de 10% até 44% na produtividade de forragem, capaz de proporcionar ganhos reais na produtividade do rebanho”, ressalta a pesquisadora da Embrapa-Acre, Giselle de Assis.
Alta resistência e perenidade
Além do elevado valor nutritivo e alto desempenho na produção de forragem, os estudos revelaram alta superioridade da BRS Oquira em outros aspectos que influenciam a eficiência da tecnologia. “Em todas as avaliações comparativas, a cultivar mostrou maior tolerância à seca. Em localidades do Cerrado, onde o período de estiagem é mais longo, em torno de cinco meses, e severo, perdeu folhas e apresentou ressecamento dos talos, mas rebrotou vigorosamente com o retorno das chuvas. Essa alta capacidade de reprodução vegetativa faz com que a planta permaneça na pastagem por muitos anos, sem a necessidade de replantio”, afirma a pesquisadora.
Outra característica que confere perenidade a pastos consorciados com a cultivar é que, mesmo associada com gramíneas de maior porte, em condições de sombreamento, se desenvolve bem. Além disso, por ser uma espécie estolonífera (possui caule com diversos pontos de enraizamento), consegue se multiplicar rapidamente na pastagem e cobrir totalmente o solo, aspecto que evita processos erosivos e confere persistência quanto ao pastejo e pisoteio do gado.
Os resultados das pesquisas mostraram, ainda, que a nova cultivar de amendoim forrageiro também é tolerante a solos encharcados. Essa característica possibilita o consórcio com gramíneas adaptadas a essa condição, em áreas afetadas pela síndrome da morte do braquiarão, doença associada ao encharcamento do solo e ataques de fungos, considerada o principal fator de degradação de pastagens na Amazônia.
Consórcio com gramíneas
A BRS Oquira apresenta alta compatibilidade com todas as cultivares de gramíneas dos gêneros Brachiaria, Cynodon e Panicum maximum. Recomendada para cultivo em solos úmidos, de média fertilidade, com texturas variando de argilosa a arenosa, a tecnologia pode ser adotada por pequenos, médios e grandes empreendimentos rurais.
Carlos Maurício Andrade, também pesquisador da Embrapa Acre, explica que a formação de pastos consorciados com a BRS Oquira pode ser feita com o plantio simultâneo de gramíneas com a leguminosa, durante a reforma da pastagem, ou com plantio em pastos já estabelecidos. A cultivar deve ser plantada durante a estação chuvosa, quando já houver regularidade de chuvas e o solo se encontrar úmido. O primeiro passo é adquirir mudas certificadas para formação de viveiros na propriedade, multiplicação das plantas e posterior plantio.
“A formação de pastos consorciados com amendoim forrageiro requer um pouco mais de atenção e planejamento do que pastos puros de capim. Realizar todas as etapas desse processo de acordo com recomendações técnicas é essencial para garantir a eficiência máxima da tecnologia. O esforço do produtor será recompensado no médio e longo prazo, com uma pastagem mais produtiva e persistente, autossuficiente em nitrogênio e com baixo custo de manutenção”, ressalta o pesquisador.