Lama tinge de marrom água límpida e população faz campanha por Córrego das Antas
A causa pode estar ligada a desmatamento para expansão agropecuária na região
A lama tingiu de marrom as águas límpidas do Córrego das Antas, em Piraputanga, distrito de Aquidauana e a 122 km de Campo Grande, no portal do Pantanal. O barro avança junto com a preocupação de moradores, que temem que a causa seja desmatamento ligado à atividade agropecuária.
O empresário Jorcelino Rosa da Cunha, 53 anos, conta que a nascente fica no morro, numa fazenda de 250 hectares. Na sequência, a água passa pela sua chácara, até batizada de Recanto Paraíso, pela beleza cênica do córrego. “É espetacular, quem vai lá se encanta. Quando comprei a chácara, o corretor mandou foto e comprei por causa do rio”, diz.
Contudo, do encanto se fez lama. Jorcelino conta que começou a perceber alteração no córrego em dezembro, quando as chuvas se avolumaram. “Percebi que descia barro vermelho e as pedras do leito começaram a ficar manchadas, com uma camada fina de lama. Agora, ficou um lamaçal”, afirma o empresário.
Ele relata que em outros períodos chuvosos, a água ficava turva, mas o córrego logo voltava a ser cristalino.
“Há uma lenda que em cima da serra [Serra de Maracaju] foi preparada uma grande área para cultivo de soja ou para plantação de eucalipto”, diz Jorcelino. Segundo o empresário, o Instituto Estrada Parque avalia fazer levantamento com drone, porque a área é de difícil acesso, além de ficar numa propriedade particular.
O morador lidera campanha de coleta de assinaturas cobrando resolução para o turvamento do Córrego das Antas. E já tem apoio de muita gente da comunidade. Inclusive, criaram a #salvemocorregodasantas e também abriram abaixo-assinado.
"Ainda bem que temos grupo de WhatsApp, porque uma andorinha só não faz verão. Lembro que há 20 anos, quando meu pai comprou casa em Piraputanga, a gente mergulhava em um rio super clarinho. Converso sempre com pessoas mais idosas, gente de 60 anos e eles dizem que mudou tudo, até o volume da água", diz a contadora Ana Paula Cunha.
Segundo ela, não foi um problema que surgiu de uma hora para a outra. "Há dois anos eu fiquei meio afastada e agora assustei quando voltei. Além do Córrego das Antas, o outro Córrego Piraputanga que a gente passava e agora não tem mais".
Secretário de Cultura e Turismo de Aquidauana, o vereador licenciado Youssef Saliba afirma que a fazenda onde nasce o rio tem carvoaria e eucalipto.
“A área pode ter sido gradeada e a chuva levou a terra ou retirada a vegetação perto da nascente. Mas precisa de algum tipo de proteção porque uma hora vai assorear tudo”, afirma.
De acordo com ele, autorização para supressão de vegetação é dada pelo Imasul (Instituto de Meio Ambiente de MS), sem passar pela prefeitura. O Córrego das Antas faz parte da bacia do Rio Aquidauana.
A PMA confirma que recebeu as denúncias e percorreu as propriedades rurais ao longo do córrego, como foi feito no Rio da Prata, que teve turvamento semelhantes. As equipes encontraram problemas como desmatamento ilegal e falta de conservação do solo, os donos já foram notificados e terão de tomar providencias como criação de curvas de nível imediatamente.
Segundo a Polícia Ambiental, em uma bacia hidrográfica há sempre mais de um motivo para o turvamento. Há também uma estrada municipal que escoa os sedimentos até o córrego. Por isso, a prefeitura de Aquidauana também foi notificada.
Mas já há uma lista de possíveis causas e os responsáveis terão de responder administrativamente.
O Campo Grande News também questionou o Imasul sobre a situação do córrego, mas até agora não teve retorno.