Tomado por areia, lago vira "praia" de 50 capivaras no Parque das Nações
Ao lado do reservatório assoreado, a placa “Preserve o meio ambiente, preserve a vida” surge sem sentido
Essencial para a saúde do grande lago do Parque das Nações Indígenas, onde repousam 68 milhões de litros de água, o lago de contenção de sedimentos, na junção dos córregos Prosa e Reveilleau, está sufocado pela areia.
A faixa de terra se tornou “praia” para 50 capivaras, como mostra o cenário encontrado pela reportagem na manhã desta quinta-feira (dia 28). Ao lado do reservatório assoreado, a placa “Preserve o meio ambiente, preserve a vida” surge sem sentido.
“É preciso mais cuidado. Investem em Casa de Natal, no Aquário, mas falta cuidado com o parque que a gente realmente usa”, afirma a comerciante Adelita de Freitas, de 41 anos. Vizinha ao espaço, ela visita o parque todas as semanas. Nas manhãs ensolaradas, ter um “quintal” de 118 hectares, tomado por verde e animais, faz da caminhada um convite irresistível.
No maior parque da cidade, o verde de fato renova os ânimos. Pela pista de atividade física, uma sinfonia de simpáticos “bom dia” espanta a tal fama de sisudo dos campo-grandenses.
Pela imensidão, ecoa o canto dos pássaros. Por ali, revoam araras, joões-de-barro, gaviões-pega-macacos, tucanos e mutuns. Já no deck do lago principal, a garça surge impassível e se deixa apreciar pelos curiosos, que entre assustados e encantados sacam o celular para tirar foto a curta distância da elegante ave.
Criado por decreto em 1993, o parque é território do Cerrado e faz parte da bacia hidrográfica do Rio Paraguai. Dádivas da natureza, os cursos de água têm sofrido com a expansão da cidade. Em 2019, a situação se tornou insustentável, com uma palavra “vergonha” escrita no banco de areia que tomou o lago.
Nesse caminho das águas, o Prosa nasce fora do parque, resultado da junção do Joaquim Português com o Desbarrancado.
No passado, o Prosa foi o primeiro manancial a abastecer a vila de Campo Grande e o nome teria derivado da prática de prosear perto de suas margens. Ele passa pelo parque e segue para a Praça das Águas, em frente ao Shopping Campo Grande.
Há três anos, com a pressão da sociedade, perplexa diante da possibilidade de mais um lago morrer, vieram obras de R$ 1,5 milhão no Parque das Nações.
Entre agosto e outubro de 2019, o lago principal foi esvaziado para uma faxina geral, com drenagem para retirada de sedimentos. Foram quase 10 mil viagens de caminhão para retirada dos sedimentos. Do lago menor, os 15.474 metros cúbicos de areia exigiram 1.500 viagens de caminhão.
Sem paisagismo ou decks, o lago menor tem função de segurar a areia e nem sempre é avistado por quem passeia pelo local. Com visitas esporádicas ao Parque das Nações, Alberto Vieira, 35 anos, que mora no Parque do Lageado, conta que hoje viu o lago pela primeira vez. “Venho muito raramente e agora que vi esse lago assoreado”, diz, ao lado do filho de cinco anos.
O Parque das Nações recebe milhares de visitantes por dia. No caso de Deise Duek, 62 anos, até há opções mais perto de onde mora, no Bairro União, mas ela visita a área verde nos Altos da Avenida Afonso Pena duas vezes por semana.
“Acho que está bem cuidado e os animais divertem a gente”. Para ela, ainda falta espaço para a venda de alimentos, que também poderia ser abrigo quando viesse chuva forte. Perto do lago menor, os banheiros ficam sempre fechados.
Um dos coordenadores do projeto “Amigos do Parque”, Alfredo Sulzer afirma que a ação da sociedade, com reforço do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), resultou em importantes obras de infraestrutura no entorno do Parque das Nações Indígenas.
O governo custeou investimento no Parque dos Poderes, no Córrego Joaquim Português. Já a prefeitura faz a obra de piscinão no cruzamento das avenidas Mato Grosso e Hiroshima. Contudo, ele lembra que essa última atrasou e ainda carreia muitos sedimentos.
“Pena que começou atrasada e está carreando mais terra para dentro do parque. Mas logo, logo, vamos voltar a cobrar que façam o desassoreamento dos dois lagos”, diz Alfredo, destacando que foi dado um período de armistício com o poder público.
O Campo Grande News questionou a Semagro (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar) sobre a limpeza no lago de contenção e custos, mas não obteve resposta até a publicação da matéria.
A reportagem também tentou contato com o secretário de Obras de Campo Grande, Rudi Fiorese, mas a ligação não foi atendida.
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