Miranda se diz surpreso, nega irregularidade no Dnit e entrega futuro a Deus
Ele afirma que não pretende recorrer da decisão do ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos.
Demitido da superintendência do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) em Mato Grosso do Sul, Marcelo Miranda Soares se disse surpreso com o resultado do processo disciplinar, que resultou na queda do cargo que ocupava desde 2003.
“Esse processo começou em 2006 e foi discutido por três comissões, mas nunca encontraram nenhum tipo de irregularidade. Agora, houve indicação para a substituição dos cargos”, afirma. Além dele, foram demitidos Guilherme Alcântara de Carvalho, o segundo na hierarquia regional do Dnit, e Carlos Roberto Milhorim, chefe do órgão federal em Dourados. Miranda enfatiza que não houve irregularidades
Quanto à demissão, ele afirma já estar ciente nas últimas semanas. “Falaram que ia sair na quarta-feira, mas publicaram hoje”. Ele diz que não pretende recorrer da decisão do ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos.
Conforme a portaria, Miranda desrespeitou dois artigos da lei sobre deveres dos servidores públicos federais: observar as normas legais e regulamentares; e levar ao conhecimento da autoridade superior as irregularidades de que tiver ciência em razão do cargo.
“Transmiti todas as informações ao diretor-geral, que na época era o Mauro Barbosa”, afirma Miranda. Segundo ele, surgiram denúncias porque o filho de Milhorim trabalhava na empresa que fazia fiscalização da obra. “Mas isso não quer dizer que estava fazendo alguma coisa de errada. O filho dele passou no concurso em terceiro lugar e hoje trabalha no Dnit”, relata.
Em 2006, Milhorim foi acusado de chefiar um esquema de desvio de verbas públicas. A PF (Polícia Federal) apreendeu documentos na sede do órgão federal em Dourados. Uma empresa contratada para operações tapa-buraco funcionava dentro do Dnit.
Marcelo Miranda conta que já esvaziou as gavetas e que ainda não se decidiu sobre os próximos passos. “Deus é quem sabe”. Conforme a assessoria de imprensa do ministério, deve ser nomeado em breve e de forma interina um novo superintendente no Estado.
Denúncias – Neste ano, o TCU (Tribunal de Contas da União) apontou problemas em obras de recuperação em 50 quilômetros da BR-163: fiscalização ou supervisão deficiente ou omissa nas obras; execução de serviços com qualidade deficiente e projeto executivo deficiente ou desatualizado.
O mesmo tipo de problema foi apontado nos serviços efetuados na BR-267, num trecho inicial de 62 quilômetros da rodovia. À época, Marcelo Miranda considerou as denúncias velhas.
Em dezembro, o MPF (Ministério Público Federal) identificou sobrepreço de R$ 216 mil em obras realizadas em três trechos da BR-262, que liga Corumbá, na fronteira com a Bolívia, ao resto do País.
As denúncias ganharam fôlego em julho, após a queda do então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento. Na ocasião, a classe política defendeu a permanência de Miranda a frente do Dnit.
Expulso do governo – Em 1991, Marcelo Miranda foi praticamente posto para fora do governo de Mato Grosso do Sul. “Já era o fim do mandato e o governo entrou em colapso financeiro. Não tinha como pagar os servidores. A dívida era assustadora”, recorda o historiador Hildebrando Campestrini.
Sem receber, os servidores passaram as últimas semanas do mandato de Miranda acampados na Governadoria. Os salários foram pagos quando Pedro Pedrossian assumiu o governo e fez um empréstimo. Por ter sido governador, ele recebe pensão vitalícia. Miranda também foi prefeito de Campo Grande e senador.