Versão 2.0 de robô da Ficha Limpa é o ‘olho que tudo vê’ da Justiça Eleitoral
Dispositivo foi criado para ajudar na varredura dos registros de candidatura em MS
No Metaverso da Justiça Eleitoral existe um funcionário que nunca descansa. Se fosse materializado, seria um robozinho todo atarefado, segurando pilhas e pilhas de papel e contando os segundos para acabar o expediente puxado de labuta para voltar para casa.
No mundo real o dispositivo de fato existe, mas não se caracteriza como no imaginário popular. Batizado como Robô da Ficha Limpa, ele foi desenvolvido pela equipe de Tecnologia da Informação do MPE-MS (Ministério Público Eleitoral de Mato Grosso do Sul) otimizou a vida de quem tem demanda triplicada em período eleitoral.
Trata-se de um sistema que transforma um emaranhado de dados em pesquisa minuciosa sobre a ficha de cada um que deseja um mandato. Este ano, embora a missão de peneirar os postulantes esteja com o MPF (Ministério Público Federal), a tecnologia segue auxiliando, sendo a primeira vez em uma eleição geral.
Até dois anos atrás a inspeção pela qual todos os registros de candidatura têm que passar era feito quase que artesanalmente pelos promotores eleitorais e agora tudo é resolvido digitalmente em menos de dois minutos. Basta dar os comandos necessários para que o robô, faça rápida varredura e identifique se quem quer ter mandato está ou não implicado na Lei da Ficha Limpa.
Conforme contou o procurador-geral adjunto do MPE, Paulo Cezar Zeni, tudo começou em 2016 quando um Centro de Inteligência foi montado para tentar dar celeridade na análise dos registros de candidatura. À época foram mais de quatro mil pedidos de pesquisas e o que era para ser uma experiência positiva, acabou frustrada.
“Chegaram os pedidos de registro de candidatura e tínhamos cinco dias para analisar e impugnar. Trabalhamos dia e noite, aos fins de semana e ainda não foi suficiente para fazer a varredura necessária”.
Mas do limão, veio a limonada. Com ideia amadurecida, ficou evidente a necessidade de um mecanismo que usasse a inteligência artificial a favor dos promotores incumbidos de analisar nome a nome. O ano de 2019 foi inteiro dedicado à criação do robô e no primeiro semestre de 2020 ele enfim nasceu.
Os ajustes valeram a pena. Para se ter ideia entre 21 de setembro de 2020 e 4 de outubro do mesmo ano foram feitas 7.267 conferências, sendo que o índice de sucesso chegou a 93,3%. Cruzamento de dados de pelo menos sete órgãos fiscalizadores como TCU (Tribunal de Contas da União) e TCE (Tribunal de Contas do Estado), além do Tribunal de Justiça, Tribunal Regional Federal e Conselho Nacional de Justiça, possibilitou que muitos nomes que não poderiam concorrer às eleições fossem impugnados.
Também entraram no mecanismo os Portais da Transparência dos 79 municípios sul-mato-grossenses e conselhos regionais de 33 profissões, já que se torna inelegível aquele que tem o registro profissional cassado, seja qual for o motivo.
“Como é que a gente vai saber que fulano de tal foi demitido da prefeitura de Tacuru, por exemplo? Se eu tiver que entrar um por um não consigo pesquisar sete mil nomes. Então a gente montou uma base de dados que envolveu prefeituras, Estado e legislativos de modo geral e mais os conselhos profissionais”, ilustrou.
Passado – Na tentativa de tentar dar agilidade às pesquisas em eleições passadas, os promotores chegavam a iniciar o processo de averiguação meses antes do pleito. Segundo Zeni, eles pegavam os nomes de candidatos que disputaram anteriormente ou os que já indicavam que tentariam concorrer e investigavam por conta própria.
“Claro que muitas vezes não era eficiente porque as condenações poderiam sair depois da pesquisa, mas era uma forma de tentar adiantar parte do trabalho”. Hoje o robô executa o que cerca de 20 pessoas fariam. “Então além de mais rápido, também gera economia porque na verdade nós nem temos esse efetivo”.
Modelo – O robô da Ficha Limpa, que rendeu ao MPE-MS o primeiro lugar no Prêmio CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) 2021 na categoria Inovação e Inteligência, já atraiu interessados no modelo. Os Ministérios Públicos de São Paulo, Mato Grosso, Piauí e Pará, por exemplo, querem implementar o modelo desenvolvido em Mato Grosso do Sul.