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Reportagens Especiais

Refúgio rural, bairro vive expectativa de população ser multiplicada por 7

Região recebe condomínios de luxo e é cotada para se tornar um novo Jardim dos Estados

Aline dos Santos | 26/08/2022 06:40
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade
Cavalos pastam ao lado de anúncio de obra: Chácara dos Poderes vive transição com expansão imobiliária. (Foto: Paulo Francis)
Cavalos pastam ao lado de anúncio de obra: Chácara dos Poderes vive transição com expansão imobiliária. (Foto: Paulo Francis)

“Está muito bom e daqui uns três anos vai estar ótimo. Asfalto já chegou, fizeram essa rede de luz”. A entusiasmada afirmação é de Eurides de Souza, 74 anos, que há três décadas arrenda pasto na Chácara dos Poderes.

Agora, o gado pasta nas imediações de empreendimentos de condomínio fechado. A expectativa é de que a população atual do bairro, nascido para veraneio, seja multiplicada por sete até 2028, além de infraestrutura que inclui viaduto para circulação da frota acrescida de 3.300 veículos.

A partir do Parque dos Poderes, após a travessia da BR-163, na Uniderp Agrárias, o asfalto avançou pela Avenida Desembargador Leão Neto do Carmo, onde também há ciclovia. Como exibidos nas placas, a melhoria é uma “realização Plaenge”, empresa responsável pelos condomínios.

O viaduto de 60 metros também será custeado pela construtora, numa medida compensatória definida pela prefeitura de Campo Grande, a partir de Estudo de Impacto de Vizinhança. Na confluência com a rodovia, o fluxo diário é de 9.305 veículos.

“Está muito bom e daqui uns três anos vai estar ótimo", diz Eurides sobre benfeitorias. (Foto: Paulo Francis)
“Está muito bom e daqui uns três anos vai estar ótimo", diz Eurides sobre benfeitorias. (Foto: Paulo Francis)

Ao longo da avenida asfaltada, surgem obras e placas típicas de regiões que vivenciam expansão imobiliária, com profusão de avisos de vende-se e anúncio de futuras construções. A maioria dos informativos conta com QR code (código de barras que é reconhecido pela câmera do celular e leva ao conteúdo do projeto).

Mas pelo terceiro maior bairro em extensão de Campo Grande, a realidade é de muita via de terra, com "ilhas de asfalto" na Desembargador Leão Neto do Carmo e na Rua Ide Abdul Ahad, onde se localizam os empreendimentos imobiliários. Na parte de terra, a rua ainda  tem nas porteiras das chácaras o nome de Barra Bonita, apesar da mudança de nomenclatura por decisão da Câmara Municipal ter sido oficializada desde novembro de 2020.

A expectativa é que nos próximos seis anos a região atraia mais de sete mil pessoas. Atualmente, são 1.500 moradores espalhados por 1.459 hectares. Em extensão, os maiores bairros da cidade são o Núcleo Industrial, o Indubrasil, (2.421 hectares) e Moreninha (1.758 hectares).

Terceiro maior bairro em extensão, Chácara dos Poderes tem "ilhas" de asfalto. (Foto: Paulo Francis)
Terceiro maior bairro em extensão, Chácara dos Poderes tem "ilhas" de asfalto. (Foto: Paulo Francis)

De acordo com a Planurb (Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano), o crescimento da cidade é planejado a partir do cruzamento de dados sobre projeção populacional, capacidade de suporte (infraestrutura urbana, social e econômica), monitoramento de densidades demográficas, vazios urbanos, geotecnia e hidrologia (análise do solo/distribuição de água), unidades de conservação e parques urbanos e hierarquia do sistema viário.

As informações são apresentadas em audiências públicas para discussão da sociedade civil organizada.

Para loteamento fechado, como o Riviera Home Club, o empreendedor precisa cumprir requisitos previstos no artigo 48 da Lei Complementar 74, de 6 de setembro de 2005. O dispositivo prevê apresentação de GDU (Guias de Diretrizes Urbanísticas), destinação de área para vias de circulação pública e  implantação de redes (água, energia elétrica, galerias pluviais).

Obra no bairro Chácara dos Poderes, atrás da Uniderp Agrárias. (Foto: Marcos Maluf)
Obra no bairro Chácara dos Poderes, atrás da Uniderp Agrárias. (Foto: Marcos Maluf)

De acordo com a Plaenge, são 249 lotes, com aproximadamente 210 famílias (cerca de 800 pessoas). A construtora informa que a escolha da região aconteceu após estudos e potencial de valorização. São destacados atributos como a proximidade com o Parque dos Poderes (área verde) e deslocamento fácil até o Centro.

“A escolha por projeto de empreendimento horizontal surgiu a partir do sentimento e pedido dos nossos clientes. Entendemos como algo natural, e por termos expertise no segmento, percebemos que o campo-grandense buscava por esse tipo de imóvel, como alternativa de negócios e futura moradia”, informa a empresa.

Um novo Jardim dos Estados – Para o corretor João Araújo Filho, CEO (diretor executivo) do Cimi (Clube Internacional do Mercado Imobiliário), a região em crescimento, que inclui Jardim Veraneio e Chácara dos Poderes, tem potencial para no futuro ser um novo Jardim dos Estados, bairro que se consolidou com a chegada de escritórios e clínicas. “É o grande ‘filé’ da cidade, como se tornou o Jardim dos Estados”, afirma.

Na Chácara dos Poderes, os terrenos são de cinco mil metros quadrados, o equivalente a meio hectare ou metade de uma quadra de bairro.  “Quando a pessoa faz uma infraestrutura agrega valor. A maioria faz tela, cerca, uma construção. Tem imóveis ali valendo R$ 1 milhão já embutido o valor do terreno. E quando asfaltar, vai duplicar esse preço”, afirma.

Em condomínio de luxo de alto padrão, somente o lote de 500 metros quadrados é cotado a R$ 1 milhão. “Agrega valor pela segurança, tecnologia, asfalto e infraestrutura completa”, explica o corretor de imóveis.

Fachada do Riviera Home Club, empreendimento com 249 lotes. (Foto: Paulo Francis)
Fachada do Riviera Home Club, empreendimento com 249 lotes. (Foto: Paulo Francis)

Uma cidade, 74 bairros – O perímetro urbano de Campo Grande é de 5.941,08 hectares, território de 74 bairros. O atual retrato reflete as mudanças do avançar por 123 anos.

Como registra o Perfil Socioeconômico do município, o traçado viário urbano da vila foi elaborado em 1909. O engenheiro Nilo Javary Barem criou as ruas Afonso Pena (atual Rua 26 de Agosto), 7 de Setembro, 15 de Novembro e a Avenida Marechal Hermes (atual Avenida Afonso Pena).

Também fazia parte a criação das ruas José Antônio, 15 de Agosto (atual Rua Padre João Crippa), Pedro Celestino, 24 de Fevereiro (atual Rua Rui Barbosa), 13 de Maio, 14 de Julho, Santo Antônio (atual Avenida Calógeras) e Rua Anhanduy. Criava-se também um espaço para a praça que abrigou por algum tempo o cemitério (hoje Praça Ary Coelho).

Em 1910, com a planta já delimitada, a vila passou a contar com iluminação pública por meio de 80 lampiões de querosene em postes nas esquinas e nos centros das quadras.

Registro da Rua Barão do Rio Branco, em Campo Grande. (Foto: Biblioteca/IBGE)
Registro da Rua Barão do Rio Branco, em Campo Grande. (Foto: Biblioteca/IBGE)

Mas a “verdadeira explosão” do tecido urbano ainda tardaria, se efetivando na década de 1960. Neste período, surgiram os grandes loteamentos afastados do centro comercial, destinados, na sua maioria, a abrigar a população de baixa renda.

“Consolidou-se assim uma configuração urbana radial onde praticamente todos os acessos convergem para o centro, reforçando a centralidade comercial e de serviços que caracterizam a cidade de Campo Grande desde a década de 1960”, destaca o documento.

O total de vias na área urbana atingiu, em 2020, 4.061,50 quilômetros, onde 2.874,00 Km das vias são pavimentadas e aproximadamente 1.187,50 Km não possuem pavimentação. O dado foi verificado com base nas informações do Google Street View / Google Maps.

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