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Educação ou Copa do Mundo?

Por Nelson Valente (*) | 30/05/2011 08:47

Por que o governo brasileiro não briga pela educação como faz pela Copa do Mundo de Futebol?

Por que futebol e educação sempre jogaram em campos opostos?

O Japão, a Coreia, a China, a Alemanha questiona, pois, o seu modelo educacional. Enquanto isso, no Brasil, os Ministros da Educação saem felizes do Governo porque deram merenda às crianças carentes.

Veja-se o caso da educação. Muitos criticam a sua falta de força política. Seria ausência de marketing?

O povo brasileiro considera a educação como principal fator de mudança na sociedade.

Por falta de marketing e a existência de circunstâncias sobre as quais não se tem domínio, como é o caso da segurança e da saúde, a educação passou a uma posição secundária, o que dificulta considerá-la prioridade.

Para o leigo, ela deixou de ter a mesma importância de dez ou 15 anos atrás. Entre as reformas preconizadas para a educação brasileira, seria originalíssimo pensar numa estratégia de marketing que valorizasse a vontade política do país, no sentido de dar à educação a precedência que lhe é devida.

Só assim, viveríamos novos tempos de esperança, no setor que é fundamental para o nosso crescimento rápido e autossustentado.

Melhor fariam, é claro, se pudessem colocar esses recursos para melhorar o atendimento educacional, oferecendo uma solução de raiz, que falta ao Brasil.

Portanto, há um enorme desafio para reverter esse quadro, exigindo maior atenção das pessoas responsáveis deste País. A educação é o caminho, antes que o país afunde de vez na ignorância, miséria e violência.

Foram muitas as leis definidoras da educação brasileira. Enfrentando muitos atropelos e uma vida média, em geral, inferior a dez anos, sucederam-se as reformas: BENJAMIM CONSTANT (1890); EPITÁCIO PESSOA (1901); RIVADÁVIA CORREIA (1911); CARLOS MAXIMILIANO (1915); ROCHA VAZ (1925); FRANCISCO CAMPOS (1931); GUSTAVO CAPANEMA (1942); LDB n.º 4.024, de 20 de dezembro de 1961;Lei n.º 5.540, de 28 de novembro de 1968; Decreto-Lei n.º 464, de 11 de fevereiro de 1969; Lei de Atualização e Expansão do Ensino de 1º e 2º Graus –Lei n.º 5.692, de 11 de agosto de 1971; Lei n.º 7.044, de 18 de outubro de 1982; Lei n.º 9.131, de 24 de novembro de 1995 e finalmente, LEI N.º 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996, Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN. Uma colcha de retalhos. Uma salada pedagógica. Enfim, uma vergonha. Enfim, uma parafernália de mudanças. Tudo muito bonito, mas efetivamente inócuo.

O Brasil não tem uma Pedagogia. Tem várias, sobrepostas, muitas vezes sem conexão umas com as outras. A história da Pedagogia brasileira é uma espécie de colagem de modelos importados, que resulta em um quadro sem sequência bem definida.

Não existe uma pedagogia “pura”, ou seja” sem influência de outras pedagogias ou do contexto social em que se desenvolve.

Última moda é o Construtivismo, que nem é método pedagógico, mas sim um conjunto de teorias psicológicas sobre as estratégias utilizadas pelo ser humano para construir o seu conhecimento.

O QUE É CONSTRUTIVISMO?

Mais do que uma Pedagogia, é uma teoria psicológica que busca explicar como se modificam as estratégias de conhecimento do indivíduo no decorrer de sua vida.

Surgiu a partir do trabalho do pesquisador suíço JEAN PIAGET (1896-1980), que mostrou que o ser humano é ativo na construção de seu conhecimento (daí o termo construtivismo) e não uma “massa disforme”, que é moldada pelo professor.

No Brasil essa teoria é também muito influenciada pela argentina EMÍLIA FERREIRO (que estudou como as crianças constróem o conhecimento da leitura e escrita) e do russo L.S.VYGOTSKY (que ressalta a influência dos outros e da cultura no processo de construção do conhecimento). Essas teorias mais recentes costumam ser agrupadas sob a denominação Construtivismo pós-piagetiano.

Derruba a noção clássica do erro, pois demonstra que a criança formula hipóteses sobre o objeto de conhecimento e vai “ajustando” essas hipóteses durante a aprendizagem – e portanto, o erro é inerente a esse processo. No Brasil, o termo é muitas vezes usado de forma incorreta.

Outra insensatez é a incompetência para enfrentar o drama do magistério. Os professores são mal formados e pessimamente remunerados. Segundo, o professor Arnaldo Niskier e, desafia os governantes na área educacional deste país:

Nossas escolas públicas têm bibliotecas? Não. Têm laboratórios equipados? Não. A distorção idade-série está sob controle? Não. Reduzimos os fenômenos da evasão e da repetência? Não. Há iniciação científica nas escolas? Não. Os índices de leitura estão crescendo? Não. Os livros didáticos distribuídos gratuitamente são bem escolhidos e bem distribuídos? Não.

E acrescento:As universidades devem ensinar o quê? É para continuar formando quais profissionais na graduação? Nós queremos universidades de qualificação mundial no Brasil? Queremos universidades de ponta comparadas às de outros países? O que devemos ensinar aos estudantes universitários?

A Coreia do Sul está lutando bravamente para constituir universidades de qualificação mundial. A China tem um plano de fazer 100 universidades de qualificação mundial até 2021. A Alemanha tem um programa de 2,5 bilhões de euros para a qualificação.

O presidente francês deu autonomia para as principais universidades e exigiu que elas se qualifiquem. Portugal e Austrália também têm feito movimentos nessa direção. A Inglaterra tem pelo menos três universidades de classe mundial e os EUA tem um caminhão delas. E o Brasil, quer o que com seu ensino superior?

E a sociedade certamente enxerga que a educação deveria merecer um tratamento permanente. É um mistério na vida política brasileira saber porque conseguimos fazer isso com a economia e não conseguimos com a educação.

Os governos brasileiros, federal e estaduais, têm alergia à ideia de órgãos autônomos, sejam agências reguladoras, sejam universidades, sejam conselhos educacionais. Por isso, por exemplo, universidades brasileiras não gozam de autonomia verdadeira. Acho que os políticos brasileiros pensam que autonomia seja equivalente à soberania. E soberanos, como sabemos, no nosso caso, são mesmo os políticos.

Neste sentido, é de certa forma irônica observar que foi certa autonomia do Banco Central que deu ao Brasil a estabilidade da qual hoje se beneficia o país.

O governo brasileiro e seu projeto na área educacional, estão presos a ásperas condições sociais e seus sonhos e de pouca relação com a realidade da educação brasileira.

O Brasil tem o terceiro pior índice de desigualdade no mundo e, apesar do aumento dos gastos sociais nos últimos dez anos apresentam uma baixa mobilidade social e qualidade educacional entre gerações.

Os dados estão no primeiro relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) sobre América Latina e Caribe. Educação no Brasil é pior do que o de Paraguai, Equador e Bolívia. Enfim, a pior do mundo em todos os níveis e modalidades de ensino.

Ao analisar o cumprimento das quatro principais metas estabelecidas pela Unesco, constata-se que o Brasil não tem um bom desempenho no que se refere à alfabetização, ao acesso ao ensino fundamental e à igualdade de gênero.

Tem um baixo desempenho quando se analisa o percentual de alunos que conseguem passar do 5° ano do ensino fundamental, cujos objetivos são: ler, escrever e contar. O relatório aponta que o Brasil apresenta alta repetência e baixos índices de conclusão da educação básica.

Na região da América Latina e Caribe, a taxa de repetência média para todas as séries do ensino fundamental é de 4,4%. Mas no Brasil, o índice é de 18, 7% - o maior de todos os países da região.

A educação brasileira é um dos tristes marcos do período republicano e nos dois últimos governos. E talvez venha a repetir o mesmo ciclo de frustrações no atual governo.

EDUCAÇÃO, JÁ!

(*) Nelson Valente é professor universitário, jornalista e escritor.

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