Fahd é "equilíbrio" à fronteira, dizem prefeito e presidente de Câmara à Justiça
Declarações foram feitas em pedido de prisão domiciliar para "Rei da Fronteira"
Exercício de convencimento da Justiça para colocar em prisão domiciliar o “Rei da Fronteira”, Fahd Jamil, na prisão há pouco mais de um mês, inclui encaminhamento à Justiça de cartas de elogio assinadas por nada menos que o prefeito de Ponta Porã, Hélio Peluffo Filho, e o presidente da Câmara de Vereadores, Rafael Modesto Carvalho Rojas, ambos do PSDB.
Com texto igual, as declarações conferem a “Fuad” a responsabilidade de “importante equilíbrio” à região fronteiriça Brasil/Paraguai, “pelos bons relacionamentos que mantém com forças policiais do Brasil e do Paraguai”.
Tal qual uma carta de recomendação, a mensagem prossegue atestando se tratar de empresário “conhecido e bastante respeitado na região da fronteira de Ponta Porã”.
Aqui constituiu família e negócios, vivendo em paz e de maneira harmoniosa com todos que com ele se relacionam”, prossegue o texto.
Além dos dois chefes de poderes municipais citados, há um terceiro documento, sob assinatura do advogado Hosne Esgaib, ex-deputado estadual e ex-vereador em Ponta Porã. Na comunicação de Esgaib, além do tom de deferência a “Fuad”, é feito o alerta sobre a existência de riscos à segurança da família.
“Está jurado de morte por bandidos envolvidos com o tráfico na região, em especial o PCC, conforme inclusive foi divulgado em áudio de celular recentemente”.
O áudio citado, como mostrou reportagem do Campo Grande News, foi mandado ao sobrinho de Fahd, o advogado Arnaldo Escobar, atual morador na mansão da família em Ponta Porã.
Recebida no dia 28 de novembro de 2020, dois dias depois de chacina com quatro mortes na região, a gravação está sendo alvo de inquérito da Polícia Civil.
No processo - Tudo isso está relatado no pedido de prisão domiciliar de Fahd Jamil em análise na 1ª Vara Criminal em Campo Grande, em trâmite desde quando o réu na operação Omertà, contra o crime organizado, desistiu da fuga de 10 meses e se apresentou.
O juiz responsável pela decisão, Roberto Ferreira Filho, determinou realização de perícia médica oficial para conhecer o estado de saúde do acusado. Para dar base ao laudo, foram feitos 20 tipos de exames, cujos resultados saíram na semana passada.
Pelo que apurou a reportagem, vence nesta segunda-feira (24), o prazo para a entrega do resultado da perícia.
Com ela em mãos, o juiz vai analisar se permite a Fahd Jamil responder em prisão domiciliar às 4 ações nas quais é réu, por crimes ligados ao comando de organização criminosa dedicada a eliminar inimigos por desavenças pessoais ou de negócios.
O empresário está em cela do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assaltos e Sequetros) desde 19 de abril.