Na vizinhança de futuro residencial popular, obra é vista com desconfiança
Área no Cabreúva foi doada para construção de 554 apartamentos, destinados a quem ganha até 5 salários mínimos
Vizinhos do futuro residencial popular no bairro Cabreúva estão divididos entre a expectativa de melhoria na segurança e o incomodo pela falta de consulta prévia ao moradores. Serão 554 apartamentos, a serem comercializados a custo acessível, em terreno atrás da obra abandonada do Centro de Belas Artes.
Esta semana, a prefeitura divulgou que os interessados poderão fazer inscrição a partir de 1º de junho até 15 de julho, podendo participar famílias com renda de até cinco salários mínimos, o que equivale hoje a R$ 5.225. A construção será feita com recursos do programa Casa Verde Amarela. O sorteio foi agendado para 6 de agosto. A previsão inicial é que obras comecem no segundo semestre deste ano.
O advogado Jeoval Teixeira, 62 anos, aluga sala em centro comercial localizado na rua Udinese, em frente ao terreno onde será construído o residencial. “Vai ser até bom, porque aí na frente junta muito usuário de droga, gente desocupada e isso pode ser segurança para a gente”, avaliou, explicando que é trecho deserto e com pouca iluminação, o que também facilita ação de ladrões.
A mesma opinião é compartilhada pela jornalista Luany Mônaco, 23 anos, que aluga imóvel na rua Platão, há 4 anos, outra rua de frente para o terreno. “Achei o máximo, porque aqui é localização totalmente diferente de onde costumam construir casas populares, aqui é bairro de pessoas ricas”, disse, acreditando que esse público irá se incomodar com a construção do residencial.
A área em questão é chácara localizada na margem esquerda do Córrego Segredo e foi doada pela prefeitura e teve sanção publicada no dia 7 de maio, no Diogrande, destinada à empresa Cesari Engenharia e Construção. O terreno é avaliado em R$ 20.585.403,43, logo atrás da obra do Centro de Belas Artes.
Obrigatoriamente, o terreno será usado para a construção do residencial e uma emenda, votada e aprovada pela Câmara reserva 10% dos 554 apartamentos para sorteio via Amhasf (Agência Municipal de Habitação e Assuntos Fundiários). Os outros imóveis também serão vendidos a preço acessível, para famílias com renda de até cinco salários mínimos, por meio do Programa Casa Verde Amarela.
O assistente parlamentar Ari Milas de Oliveira, 54 anos, morador de condomínio próximo, foi um dos contrários ao projeto. Ele conta que houve apresentação de requerimento à prefeitura, na tentativa de barrar a doação mas, sem sucesso. “Isso aqui é área de preservação, vai dar muito transtorno, aqui no fim de tarde já tem que enfrentar muita gente usando droga nessa calçada, não podemos passear, é dificuldade danada”, reclamou. “É uma área verde bonita que vão desmatar”.
“Tem dois lados da moeda, pode ser bom ou ruim, deveria ser coisa mais estudada por parte do poder público”, avaliou o advogado Altamir Barbosa Arantes, dono do centro comercial na rua Udinese, próximo ao futuro empreendimento. Ele questiona a falta de diálogo com os moradores do entorno, que não foram consultados sobre a construção do residencial e não puderam opinar sobre outras alternativas, além do processo de doação da área.
Arantes aponta, ainda, que faltou consultar a população no entorno para saber quais as necessidades da comunidade local. “Deveriam ter consultado a população para saber que tipo de empreendimento nós queríamos por aqui; eu penso que não é tudo que vem do poder público que temos de engolir. Pagamos imposto e deveriam consultar a população para ver do que ela precisa”, ponderou.