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Cidades

Nos 30 anos de criação, PCC conquista "paz" em MS à base de banho de sangue

Aparente "clima de paz" é decorrente da hegemonia no narcotráfico e chacinas que minaram concorrência

Silvia Frias e Helio de Freitas, de Dourados | 31/08/2023 11:45
No quadro, mortes registradas pelo Campo Grande News entre 2022 e 2023 de pessoas que seriam ligadas ao PCC. (Foto/Arquivo)
No quadro, mortes registradas pelo Campo Grande News entre 2022 e 2023 de pessoas que seriam ligadas ao PCC. (Foto/Arquivo)

“Mas tem alguém do PCC em Mato Grosso do Sul?”, perguntou o então deputado federal Arnaldo Faria de Sá a Marcos William Herbas Camacho, o "Marcola", durante a CPI do Tráfico de Armas, em junho de 2006. “Deve ter, claro. Deve ter em todos os Estados. Deve ter. Paulista está em todo lugar, não é? Principalmente nas cadeias”.

Naquele ano, o Primeiro Comando da Capital já tinha 13 anos de fundação, apesar da postura evasiva do principal líder da facção durante interrogatório ocorrido no presídio de Presidente Bernardes (SP) à Comissão Parlamentar de Inquérito. Em maio daquele ano, a facção foi responsável por onda de ataques a agentes de segurança e presídios em todo o país, entre eles, quatro estabelecimentos em Mato Grosso do Sul.

Hoje, ao completar 30 anos, o PCC mantém-se no topo da hierarquia do crime. Na fronteira com Paraguai e Bolívia, na região de Mato Grosso do Sul, conquistou hegemonia de ação e sensível e incerto “clima de paz”, à base de chacinas e "banho de sangue".

“As execuções cinematográficas pararam, parece que há uma nova liderança que prima pelo diálogo”, disse uma fonte policial ouvida pela reportagem do Campo Grande News.

O “clima de paz” na fronteira se deve, segundo esta fonte, ao domínio exercido pelo novo líder no transporte e na distribuição da droga, principalmente da cocaína. “Os grupos à parte podem comprar, desde que deles [PCC]”. Quando há interesse, há intervenção da nova liderança. “Há uma negociação boa para se evitar conflitos”.

Além do controle na distribuição de droga, o PCC reina absoluto depois de várias execuções na região de fronteira e até em Campo Grande para manter-se no controle do crime. A guerra envolvendo facções começou em 2016, com a morte de Jorge Rafaat Toumani, em Pedro Juan Caballero. O “Turco” era considerado o chefe do tráfico na região.

A morte de Rafaat foi o estopim para a disputa pelo controle do narcotráfico na fronteira, sendo citada em duas edições do Atlas da Violência, elaborador pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

“O assassinato do traficante Jorge Rafaat Toumani (...) acentuou ainda mais a disputa do narconegócio, uma vez que que tinha como pano de fundo o controle do mercado criminal na fronteira e, por conseguinte, a obtenção de um grande diferencial competitivo, com a integração vertical da cadeia de valor, a partir do acesso privilegiado à droga produzida e comercializada na Bolívia, no Peru e no Paraguai”, citou o relatório divulgado em 2019.

Este ano, a violência na fronteira também fez parte do Atlas da Violência, que cita com preocupação com as execuções, embora tenha ocorrido redução em relação aos índices ocorridos partir da morte de Rafaat.

Em 2022, Mato Grosso do Sul registrou 515 mortes violentas intencionais (MVI), segundo dados do anuário. Isso representa queda em relação aos 511 registros do ano anterior. A classificação inclui homicídios dolosos, latrocínios, lesão corporal seguida de morte e mortes por intervenção policial.

Um exemplo foi a morte de Edson de Souza Alencar, conhecido como “Edinho Cadeirante”, sendo uma das principais lideranças do PCC em Dourados. Foi executado em junho de 2022, a tiros de pistola 9 milímetros.

As mortes mais recentes, segundo a fonte consultada pela reportagem, são acertos domésticos. “Maioria desacerto de dinheiro, passional, nada de guerra”. Segundo ele, o PCC “aparou as arestas com banho de sangue, impôs sua força a tiros de fuzil e, agora, tenta mandar sob um suposto clima de paz”.

Sobre a nova liderança, a informação é que é criminoso mais discreto, mudança em relação aos antigos chefes do PCC na região, que ficaram conhecidos pela ostentação, como Elton Leonel Rumich da Silva, o “Galã do PCC”, ou Sérgio de Arruda Quintiliano Neto, o “Minotauro”.

1533 – O PCC foi criado durante partida de futebol no dia 31 de agosto de 1993 por oito presos do anexo da Casa de Custódia de Taubaté, o Piranhão. A facção nasceu um ano depois do Massacre do Carandiru, sob a justificativa de que o crime deveria se unir para enfrentar a polícia e o Estado. “Paz, Justiça e Liberdade” é a assinatura usual do grupo. Também se usa o “1533”, referente às letras no alfabeto que formam a sigla.

A “filosofia” do crime se espalhou nos presídios, tendo base forte em Mato Grosso do Sul a partir do ano de 2000, com a vinda de presos faccionados de outros estados para Campo Grande e Dourados. Na linha de fronteira, a região foi primordial para o fortalecimento do narcotráfico dominado pelo PCC, como porta de entrada para droga e armas.

O grupo criminoso tem estatuto contendo 18 artigos com punições como a morte, conhecidas no “Tribunal do Crime”.

O Sindicato dos Servidores da Administração Penitenciária de MS informou que pede que os agentes sempre redobrem atenção na data, por conta de possíveis emboscadas ou rebeliões nos presídios.

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