"As pessoas do velório me salvaram", diz amigo de empresário morto
Agnaldo Espinosa da Silva diz que policial rodoviário federal foi armado até carro de amigo morto para atirar também nele e no filho adolescente; amigos festejavam aniversário do jovem baleado
Sobrevivente do ataque a tiros que matou o empresário Adriano Correia do Nascimento, 33 anos, na manhã de sábado (31), o supervisor comercial Agnaldo Espinosa da Silva, 48, agradece a participantes de um velório por sua vida e a do filho, um estudante, de 17. Segundo ele, foram os gritos das testemunhas que impediram que o policial rodoviário federal Ricardo Hyun Sun Moon, 46, de também atirar neles.
“Quando meu amigo (Nascimento) bateu a caminhonete, já morto, no poste, ele (Moon) desceu do carro dele e veio em nossa direção com a arma em punho. Ele ia terminar o serviço. Só mudou de idéia porque o pessoal do velório começou a gritar e chamou a atenção”, disse Silva.
As testemunhas relatadas pelo supervisor estavam no velório de um jovem morto por um policial militar, na região do Horto Florestal, na avenida Ernesto Geisel, e viram o momento que Moon desceu de sua Mitsubishi Pajero prata e foi até as vítimas que estavam no Toyota Hilux branca com a arma em punho.
“Estava com o braço (esquerdo) quebrado. E pulei a janela do carro. Comecei a puxar meu filho desesperado. Íamos morrer também. Foi no instinto para sobreviver”, completou Silva ao Campo Grande News ainda na Santa Casa, onde segue internado em observação. O filho recebeu alta nesta manhã após passar por cirurgia para a retirada das duas balas nas pernas, onde foi atingido.
“Ele (adolescente) está abalado, chora toda hora. Esse cara destruiu a gente, arruinou a vida de uma pessoa de bem, empreendedora, honesta, que dava emprego para mais de 40 pessoas e nunca fez mal a ninguém”, disse a vítima.
Revolta – Apesar de indiciado em flagrante pela Polícia Civil, Moon responderá o processo em liberdade após a Justiça negar neste domingo (1) o pedido de prisão preventiva por 30 dias. O policial alega legítima defesa.
Segundo Nascimento, o motivo alegado pelo atirador é “revoltante.” “Como ele pode dizer um negócio desses. Em nenhum momento fizemos menção de estarmos armados. Ele poderia ter atirado para o alto, mas acertou nove vezes o carro, duas vezes o coração do Adriano. Nós não agredimos ele”, disse.
O representante comercial diz que será difícil superar a morte do amigo, que conhece há cerca de 12 anos. No último sábado, eles haviam ido comemorar o aniversário do adolescente. “Falei que estava sem dinheiro e o Adriano se prontificou a pagar a festa. Era um momento de alegria, estávamos nos divertindo. Iríamos dormir um pouco e depois ir para a chácara dele (em Bandeirantes, a 70km de Campo Grande) onde aproveitaríamos o resto do dia”, disse.
Para a vítima, não há justificativa para o ato. “Ele diz que a gente ultrapassou ele, mas não foi nada ofensivo. Meu amigo pediu desculpas ainda. Não fechamos ele. Estávamos felizes, sem pressa. Quando ele (Moon) desceu armado, o Adriano não falou nada. Quem falou fui eu. Ainda me chamou para voltar à caminhonete quando viu a arma”, disse.
Em todo momento, segundo Silva, Moon foi agressivo. “Dizia sem parar que era polícia e ia chamar as viaturas, mas não se identificava. Só ficou com a arma na mão. Nossa conduta todo o tempo era para se chamar a viatura. É um delinqüente. Um descontrolado que não pode ser policial, cuidar da segurança dos outros”, completou.
Nascimento era dono da Sushi Express, um restaurante oriental na região do Jardim dos Estados. O amigo diz ter esperança de que a justiça seja feita. “Se não der pela dos homens, que seja pela de Deus. Confio nele”, disse.