A história do garoto que, aos 6 anos, trocou os brinquedos pela pasta-base
A infância foi curta e interrompida quando o garoto trocou os brinquedos pela pasta-base, aos 6 anos. Hoje, aos 17, ele conta sua própria história com a vontade de ter feito tudo diferente e de nunca ter experimentado as drogas, que conheceu dentro de casa, com a mãe.
A primeira que experimentou foi o álcool. “Minha mãe bebia todo dia, e eu tomava junto com ela”, conta. Depois vieram o tabaco, a maconha, a cocaína e a pasta-base, praticamente tudo junto.
O pai morreu quando ele ainda era bebê e a mãe faleceu de cirrose, quando tinha 12 anos. Sozinho, ele foi morar com a avó materna. Ficou por um ano, época também que abandonou os estudos, concluídos só até a 7ª série do ensino fundamental.
Desde então, ele vive nas ruas do Centro da Capital, perambulando entre botecos e bocas-de-fumo. O pulo da dependência para a criminalidade foi inevitável.
Para manter o vício, o adolescente conta que pede dinheiro na rua e cuida de carros, mas admite: já furtou e roubou. Vez ou outra, confessa que acaba sendo "laranja" para conseguir em troca algumas paradinhas. Também já matou.
“Tenho dois homicídios e uma tentativa”, relata, baixando a cabeça e diminuindo o tom de voz, que quase não sai, diante de uma verdade que não quer revelar. Em todas as ocasiões, ele afirma que estava sob o efeito de drogas. “O cara achou que eu era moleque, então preguei o ferro... Quando vi, já era tarde, tinha matado”, conta o garoto sobre um dos crimes que cometeu.
No último dia 22, a vítima foi ele. O garoto foi baleado com um tiro no braço e outro na perna, em frente a uma conveniência próxima ao Mercadão Municipal. “Eu estava usando droga, não me lembro de muita coisa. Só vi uma camionete passando e um cara atirando”, conta.
Ele ficou quatro dias internado na Santa Casa, recebeu alta no dia 25 de setembro e foi terminar a recuperação no Abrigo Oseas (Organização Social Evangélica de Apoio à Sociedade), onde está desde então sem usar drogas.
Apesar do ar de um adolescente bem esperto e vivido, o rosto é de um menino. Um menino que desde cedo viu o lado cruel da vida e teve poucas oportunidades, ou nenhuma, de criar expectativas em escrever uma história diferente da realidade na qual sempre conviveu.
"Eu quero largar as drogas, mas não consigo. Eu queria ir embora de Campo Grande, ficar longe das pessoas que me incentivam a usar droga, aqui eu não vou conseguir", admite o menino.
Da infância ele tem poucas recordações. Da mãe, também fala pouco, praticamente se limita em dizer que se lembra dela com tristeza. Dos sete irmãos que tem, não sabe por onde andam e diz que tem pouco contato apenas com dois deles. E sobre a avó, o garoto diz que não se dá bem com ela.
O futuro? Hoje ele não planeja muitas coisas, tem consciência de que com a vida que leva não conseguirá chegar muito longe. Mas, no coração de menino, ainda há sonhos. "Quero mexer com animais. Quero ser um laçador. Você me ajuda, tia?", pede o garoto, com um brilho nos olhos que traduzia o mais sincero desejo de um dia ser um grande campeão.