“Eu não fazia ideia”: mãe de Sophia diz que ex é pedófilo e psicopata
Stephanie de Jesus da Silva afirmou que só teve certeza do estupro quando ouviu depoimento de médico legista
Última a ser ouvida no primeiro dia de julgamento da morte Sophia de Jesus Ocampo, a ré e mãe da menina, Stephanie de Jesus da Silva, 26 anos, afirmou ao juiz Aluízio Pereira dos Santos, que não fazia ideia da gravidade da situação ao ouvir as qualificadoras do homicídio que é acusada junto com Christian Campoçano Leitheim, 27 anos, que foi tirado do plenário.
RESUMO
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No primeiro dia do julgamento pela morte de sua filha de 2 anos e 7 meses, Stephanie de Jesus da Silva, acusada junto a Christian Campoçano Leitheim, alegou ter vivido um relacionamento abusivo com Christian, sofrendo agressões verbais e físicas. Ela afirmou ter fingido usar drogas por medo dele e que desconhecia a gravidade da situação de Sophia, acreditando inicialmente em uma intoxicação alimentar. Stephanie negou ter agredido a filha, atribuindo a responsabilidade a Christian, e expressou profundo arrependimento e descrença em sua própria culpa.
O depoimento da acusada começou às 18h09 desta quarta-feira (4) com as perguntas feitas pelo titular da 2ª Vara do Tribunal do Júri. Ao magistrado, Stephanie contou que morava há seis meses com Christian e que os dois se conheciam há apenas um ano, contando com o tempo de namoro. Durante todo o julgamento, a ré esteve com um terço na mão esquerda, onde também tem uma tatuagem no punho com o nome da filha Sophia.
No relato, ela afirma que o começo do relacionamento dos dois era bom até irem morar juntos, que foi quando ele começou a se mostrar agressivo. “Conforme o tempo ele foi se mostrando uma pessoa mais agressiva, só que verbalmente, não fisicamente. Ele não gostava que eu respondesse. Eu tinha que pisar em ovos para falar com ele”, relatou.
Ainda diante do magistrado, acusada relembrou uma das agressões que sofreu do rapaz ainda durante a gestação da filha do casal. Que, segundo ela, aconteceu quando ela estava grávida de oito meses e ele queria sair sozinho de casa.
“Quando fui atrás, ele ficou bravo e saiu me puxando no meio de todo mundo. Praticamente me arrastando. Foi um dia desses que eu tirei a foto que fiquei com a boca e olhos roxos, até com sangue dentro também. Eu fiquei com muito medo, porque na hora comecei a sentir muita dor no pé da minha barriga”, disse Stephanie, ressaltando que vivia em relacionamento abusivo.
Ao ser questionada de o porquê não saiu do relacionamento, já que tinha condições para isso, Stephanie afirmou ao juiz que tinha medo do que Christian pudesse fazer com ela, com as crianças ou até mesmo com sua mãe e avó. “Ele sabia onde eu trabalhava, onde minha mãe e minha avó moravam, ele sabia de tudo. Ele podia muito bem fazer alguma coisa com qualquer uma de nós. Quando resolvi juntar provas, tentar criar coragem, não deu tempo”, afirmou aos prantos.
Sobre o envolvido do casal com drogas e o uso na frente das crianças, Stephanie alegou ao juiz que fingia usar cocaína por medo do rapaz. “Eu fingia para ele me deixar em paz. Fazia o mesmo gesto que eles, mas não cheirava. As crianças estavam dormindo e alguém tinha que estar sã, por isso falei na outra vez que não recordava, eu tinha medo de falar”, explicou a ré.
Sobre a declaração de ter batido em Sophia na casa da ex-sogra, Stephanie disse que Luciana Campoçano Leitheim mentiu, pois quem agrediu a menina foi Christian, que inclusive acabou entrando em luta corporal com o pai por conta disso.
“Eu estava com o filho dele na rede, na varanda e com a nossa filha. Peguei a Sophia lá no quarto correndo, e depois as outras duas crianças, e sai de lá. O pai do Christian pegou uma faca e foi atrás dele lá na casa onde a gente morava. Bateu o pé no portão querendo derrubar para matar ele. Não era eu que estava batendo, era ele. Ela é uma mentirosa para poder defender o próprio filho”, pontuou a acusada.
Dia do crime – No dia do crime, Stephanie relata que de manhã havia mandado uma mensagem para a gerente avisando que não iria para o trabalho para levar a filha ao médico. “Depois, eu mandei mensagem para minha mãe falando para poder ir para o posto e ela falou para irmos aquela hora”. No entanto, segundo ela, Christian disse que a menina ia melhorar, pois ela tinha acabado de dar remédio.
“A minha intuição falava para levar ela aquela hora, só que ele conseguiu me convencer a levar mais tarde, porque realmente eu tinha dado o remédio para ela. E passado esse tempo, ela melhorou um pouco. Tinha parado de vomitar, porém, ela estava reclamando bastante de dor”, afirmou.
Segundo o relato, a família dormiu após o almoço e quando Stephanie acordou se desesperou ao ver que Sophia estava com a barriga inchada. “Tenho certeza que foi aquele monstro. Eu não achei que ela estava morta”, alegou Stephanie.
Sobre afirmar ser inocente, a jovem disse ao juiz que jamais faria qualquer coisa com a filha. “Eu não teria coragem de fazer uma crueldade com minha filha, nunca. Eu acredito que ele fez isso quando levou ela para o banheiro. Eu fui para o quarto vestir minha outra filha e depois que eu saí, ele veio com ela no braço. Não escutei nada porque a bebê estava chorando muito e o quarto ficava distante do banheiro, eu não sei o que ele fez”.
Stephanie alegou ainda que soube de todos os fatos quando foi presa e que reação ao saber da notícia foi porque estava em choque, por isso, foi até a maca e queria apenas abraçar a filha. “Me tiraram com toda a força de lá, só deu para pegar na mão dela. Foi aí que comecei a me desesperar, porque não me deixaram encostar na minha filha”.
O juiz Aluízio, então, leu a acusação contra Stephanie e Christian de homicídio qualificado por motivo fútil em razão de desgostarem do comportamento da criança, e ela discorda dizendo que sempre amou a filha. Em seguida, o magistrado cita que foi empregado meio cruel que provocou sofrimento constante e desnecessário na criança.
“Mas eu nem sabia que minha filha estava nesse ponto. Eu não fazia ideia. Eu achava que era só uma intoxicação alimentar como da outra vez que levei ela no posto. Eu não fazia ideia da gravidade da situação”, explicou aos prantos. (Veja vídeo abaixo)
Acusação – Em seguida, o promotor de Justiça José Arturo Iunes Bobadilla, perguntou sobre a separação de Stephanie com Jean Ocampo, pai de Sophia. Ela afirmou que foi abandonada pelo rapaz, que oficializou o divórcio depois. Em seguida, o representante do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) questiona por que a jovem não procurou ajuda na Defensoria Pública ou por outros meios judiciais.
“Ele batia nas crianças pelas costas. Eu não chegava a ver ele batendo. Ele sempre tinha uma desculpa, falava ou que ela tinha caído ou que tinha sido o filho dele que mordeu, ou beliscou. Nunca era ele”, disse ressaltando que tinha medo de Christian.
O promotor ainda pontuou sobre o motivo apontado na denúncia pelo homicídio da menina ter sido o comportamento dela ser “banal” e Stephanie afirma não existir razão para fazer isso com uma criança. “Eu queria que fosse eu hoje debaixo da terra do que minha filha”.
Sobre a acusação de estupro, a ré relatou que ouviu no posto de saúde, mas não acreditou porque Christian afirmava que lavava apenas a cabeça da menina e que ela tinha ensinado Sophia higienizar o restante do corpo. “Só tiver certeza do estupro no depoimento do médico”, finalizou.
A acusada foi questionada ainda por seus advogados sobre não ter entregue a menina aos cuidados do pai. "Ela era o meu porto seguro. Ela quem me dava força para conseguir seguir em frente depois de tudo o que aconteceu comigo. Era só eu e ela", finalizou Stephanie.
A advogada de Stephanie passou a fazer perguntas e mostrou a ela o relatório do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado) que encontrou no celular de Christian fotos e vídeos que mostram ele se masturbando no mesmo ambiente que as crianças.
Stephanie chora e repete que não fazia ideia deste comportamento do marido. “Ele é um pedófilo, psicopata, manipulador. Um monstro. Eu não fazia ideia disso”.
A mãe de Sophia também relatou que foi obrigada a fazer sexo com o então companheiro 13 dias após ter o bebê do casal. Prova disso seria pesquisa feita por ela no celular sobre as consequências de ter relações sexuais durante o resguardo. Veja:
No fim do depoimento, ao ser questionada se amava a filha, Stephanie chorou bastante “Eu não amava, eu ainda amo. Ela sempre foi tudo para mim. Ela era a minha base, minha fortaleza, meu tudo”.
Presa desde a morte da filha há 678 dias, ela revelou ainda que não tem mais vontade de viver e já pensou em suicídio. Veja:
A ré não respondeu às perguntas da defesa de Christian. O depoimento foi o último deste primeiro dia de julgamento e deve o relato do réu acusado de participação no crime ficou para a quinta-feira (5).
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