Alvo de operação, obra do PAC teve problemas um mês após conclusão
“A minha pobreza não entende essas coisas”. A afirmação é de Antônio Alves, que há 15 anos tem uma banca ao lado da avenida Lúdio Martins Coelho, obra de R$ 55 milhões do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Entregue em dezembro de 2011, já tinha buracos um mês depois, em janeiro de 2012. A pavimentação fez parte do projeto Lagoa e está na mira da operação Lama Asfáltica, que detectou prejuízo de R$ 11 milhões ao avaliar contratos.
Antônio, 65 anos, conta que acompanhou toda a obra, executada por meio de parceria entre a prefeitura de Campo Grande, governo do Estado e União. “Vi que o asfalto começou a quebrar, buraco para todo o lado, pensava que era por conta do movimento de caminhão e carro. Mas com essas notícias, já mudou”, afirma.
A banca fica em frente a uma depressão acentuada no asfalto empossa água. “Nem precisa chegar em casa para tomar banho”, diz, fazendo graça ao contar que os veículos passam em alta velocidade e a água atinge quem está por perto.
A estudante Suellen Vieira, 22 anos, usa a pista que margeia a avenida para caminhar e andar de patins. “A rua até que está boa. Mas a pista tem 'montanhas' no asfalto, degraus que dão mais de três dedos”, afirma.
Para o estudante Wellington Thiago, 18 anos, o maior problema da avenida é a má sinalização. “Porque acontece muitos acidentes. Para cruzar a via, ninguém sabe exatamente de quem é a preferencia. Tinha que ter mais sinalização horizontal e semáforo”, avalia.
Dois nomes - A avenida, subdividas em dois trechos – Lúdio Martins Coelho (ex-prefeito) e Nasri Siufi (dentista e pai do vereador Paulo Siufi) -, foi inaugurada em 17 de dezembro de 2011, dentro do Complexo Lagoa, obra do PAC 1.
A prefeitura executou o trecho entre a rua Antonio Bandeira até o macroanel rodoviário, num total de seis quilômetros. A justificativa da administração municipal foi de que os problemas eram pontuais.
O governo do Estado foi responsável pelo trecho de 4,6 km entre avenida Duque de Caxias à rua Antonio Bandeira. À época, a informação era de que os buracos estavam em um asfalto feito em 2003.
A parte do governo custou R$ 19 milhões, sendo R$ 13,6 milhões da União. O primeiro contrato foi publicado em 25 de dezembro de 2009 no Diário Oficial do Estado. No valor de R$ 16,5 milhões, o documento foi firmado pelo então secretário estadual de Obras, Edson Giroto, e o representante do Consórcio Lagoa, João Alberto Krampe Amorim.
O consórcio era constituído pelas empresas Moviterra Construções e Comércio Ltda e Proteco Construções e Comércio Ltda.
Batidas – A operação Lama Asfáltica, deflagrada ontem pela PF, CGU (Controladoria-Geral da União) e Receita Federal, cumpriu 19 mandados de busca e apreensão. As ações foram na mansão de Giroto, na residência de João Amorim, na Proteco, Seinfra (Secretaria Estadual de Infraestrutura) e empresas.
Foram apreendidos 100 mil dólares, três mil euros, R$ 210 mil em espécie e R$ 195 mil em cheques. Conforme a CGU, foram verificados contratos de R$ 45 milhões, que tiveram R$ 11 milhões de superfaturamento por meio de sobrepreço ou pagamento além do executado. As obras são do aterro sanitário de Campo Grande (2012) e da MS-430.
De acordo com a Receita Federal, somente duas empresas movimentaram R$ 600 milhões em cinco anos. O alvo é combater uma organização criminosa suspeita de fraudar licitações em obras públicas no Estado. O grupo é acusado de cometer sete crimes: sonegação fiscal, formação de quadrilha, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, corrupção ativa, corrupção passiva e fraudes em licitação.
O nome da operação faz referência ao insumo usado nas obras identificadas, como pavimentação e ações de tapa-buracos.