Bancas do bicho saem da paisagem e deixam para trás de bíblia a revista pornô
Equipes da prefeitura e do Garras saíram as ruas para tirar das calçadas estruturas usadas para vender apostas
Parte da paisagem urbana de Campo Grande há quatro décadas, as bancas metálicas onde eram vendidas apostas ilegais no jogo do bicho começaram a ser arrancadas dos espaços públicos nesta quarta-feira (8), revelando achados inusitados em seu interior. De geladeira a altar religioso, além de papéis indicando que ali funcionava um ponto de jogatina, foram encontrados pelas equipes que foram às ruas.
A tarefa delas é tirar do passeio público 87 guichês, cujos responsáveis receberam prazo de 10 dias da prefeitura, em mais um reflexo da Operação Omertà, deflagrada em setembro de 2007, contra organização criminosa cuja chefia é atribuída ao empresário Jamil Name e ao filho dele, Jamil Name Filho. Ambos estão presos há mais de um ano.
Durante esta manhã, a equipe de reportagem do Campo Grande News acompanhou a retirada de ao menos quatro banquinhas e em uma delas os resquícios de quem trabalha ali chamaram a atenção.
Na calçada na Avenida Monte Castelo, próximo ao 2º Distrito Policial, as equipes encontraram dentro do guichê anotações e talões referentes ao jogo do bicho e títulos de capitalização da empresa Pantanal Cap, lacrada desde a semana passada
(Confira nos vídeos no início do texto e abaixo).
Encontrou-se também geladeira, revistas pornográficas, botijão de gás e até livro sobre tropas militares de elite de outros países e dvds piratas. Foi preciso abrir o cadeado com uma ferramenta, depois do aviso de que haviam materiais como eletrodoméstico.
No pequeno espaço, também foi encontrado um fogareiro, erva de tereré, bíblias e um altar com crucifixo. A banquinha estava no local havia 16 anos, segundo um chaveiro que trabalha ao lado. O responsável era um idoso, que não estava mais por ali.
" Acho triste tirarem as coisas dele desse jeito. Ele era aposentado e usava aqui para complementar a renda e se distrair um pouco”, afirmou o vizinho.
Sei que é ilegal, que existe uma máfia perigosa matando gente, mas porque o governo não regulariza assim como os jogos da loteria?”, questionou Manoel Paes Benevides, 53 anos.
A ação provocou surpresa em quem se acostumou a ser vizinho das banquinhas.
“Não sou a favor nem contra a operação”, afirmou Joselito Souza Araújo, 64 anos, que trabalhou por anos ao lado de um dos pontos do jogo do Bicho, na Avenida Castelo Branco, no Bairro Monte Castelo.
Para ele, era algo que “nunca imaginou que iam tirar porque sempre existiu na cidade”. Araújo afirmou sentir dó de quem estava na ponta da venda do jogo do bicho e precisa trabalhar para ganhar o sustento.
Quantas ? A cargo de equipes do prefeitura de Campo Grande com apoio de policiais do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos, Assaltos e Sequestros), a operação de hoje não tem prazo para terminar. Hoje, o “roteiro” previa retirada de 11 bancas no Centro da cidade e mais 8 em bairros da região Norte.
Estão sendo usados 4 caminhões, dois deles equipamentos com guincho.
O jogo do bicho é contravenção penal segundo a lei brasileira. Para a Operação Omertà, que lacrou as bancas em setembro, a atividade é sustentada por uma organização capaz de matar para manter a estrutura criminosa.