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Capital

De salão de beleza a oficina, comércio abusa dos "gatos" em área invadida

Trabalhadores reconhecem ilegalidade, mas dizem que precisam garantir o sustento da família em área ocupada

Gabriel Neris e Clayton Neves | 12/07/2019 16:04
Oficina mecânica é simples e atende motoristas da região sul de Campo Grande (Foto: Clayton Neves)
Oficina mecânica é simples e atende motoristas da região sul de Campo Grande (Foto: Clayton Neves)

O “jeitinho brasileiro” que tomou conta da antiga área da Homex, no Jardim Centro-Oeste, região sul de Campo Grande, não atinge apenas casas e barracos. Quem precisa trabalhar também reconhece o furto de energia elétrica para manter o negócio e garantir o sustento da família.

Sob condição de anonimato, alguns trabalhadores conversaram com a reportagem. Quem passa pelo local encontra de tudo um pouco, bares, mercadinhos, mecânica, serralheria, salão de beleza, lojinhas de utilidades e de materiais de construção.

Um dono de oficina mecânica, de 46 anos, não esconde a ligação irregular de energia. Somente nesta tarde (12) cinco carros estavam na fila para conserto. Ele conta que está há somente cinco meses no local com a esposa, de 51 anos, e o filho, de 13 anos, e pede que a situação fosse regularizada.

“Não queremos ficar nessa situação, o ideal é que a Energisa viesse e instalasse o padrão para gente. É uma situação muita chata, ninguém se orgulha disso”, reconhecendo o furto de energia elétrica.

Portão levadiço foi consertado em serralheria do Centro-Oeste (Foto: Clayton Neves)
Portão levadiço foi consertado em serralheria do Centro-Oeste (Foto: Clayton Neves)
Lojinha de utilidades é mais um opção de compra para quem mora na região (Foto: Clayton Neves)
Lojinha de utilidades é mais um opção de compra para quem mora na região (Foto: Clayton Neves)

O trabalhador conta que nenhum dos equipamentos é de 220 volts, o que aumentaria o consumo de energia furtada. Ele mostra que entre os materiais tem uma lixadeira, furadeira e o resto do serviço é manual. “É o meu ganha pão. O sustento é 100% do trabalho”, diz ele, que está no ramo há 15 anos.

Já um serralheiro, de 41 anos, relata que está há dois anos na região com a esposa e dois filhos. Diz que antigamente morava na região do Caiobá, com salário mensal de R$ 1,5 mil, porém não tinha condições de pagar cerca de R$ 600 de aluguel e sustentar a família, formada pela mulher e filhos de 1 e 2 anos. O homem conta que as dificuldades o levaram a essa situação.

“Ninguém aqui quer isso. Isso é furto, a gente compreende. Ninguém quer permanecer assim. A gente só queria água, luz e moradia digna. Preciso disso aqui para o sustento da minha casa”, diz ele. O homem ainda reconhece que tem maquinário de 220 volts na serralheria, montada em frente de casa.

Placa anuncia salão de beleza em residência do Jardim Centro-Oeste (Foto: Clayton Neves)
Placa anuncia salão de beleza em residência do Jardim Centro-Oeste (Foto: Clayton Neves)

Aos 71 anos, um senhor toca a loja de materiais de construção, pequena e simples, como a maioria dos estabelecimentos. Ele diz acreditar que o espaço consuma energia próxima a uma residência por não utilizar equipamentos eletrônicos. Já são dois anos e meio morando no Centro-Oeste.

“Aqui ninguém quer tirar proveito. Se a Energisa está tomando prejuízo é por causa dela mesma que não quer vir regularizar a situação”, reclama. O senhor cobra um plano para que possam tirar todos da clandestinidade e diz que as lojinhas são apenas para o sustento das famílias. “Ninguém vai enriquecer”.

O caso – Equipes da Energisa cortaram o “gato” de energia que abastecia os barracos do Jardim Centro-Oeste na manhã de quinta-feira. A ação foi suficiente para os moradores, revoltados, protestarem e bloquearem o anel viário de Campo Grande durante cinco horas.

Na madrugada de hoje, por volta de 1h, os moradores da comunidade se reuniram e iniciaram o trabalho de religação dos fios. A região conta atualmente com cerca de 2,4 mil famílias.

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