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Capital

Investigação continua sobre tiros no trânsito disparados por delegado

MP pediu "novas diligências" em inquérito que inocenta delegado e viu crimes em atitude de motorista

Anahi Zurutuza | 26/07/2023 17:21
Veículo Renault Kwid, que teve três pneus furados, passando por perícia, no dia da confusão (Foto: Campo Grande News/Arquivo)
Veículo Renault Kwid, que teve três pneus furados, passando por perícia, no dia da confusão (Foto: Campo Grande News/Arquivo)

Apesar da conclusão que o ex-delegado-geral Adriano Garcia Geraldo, que parou carro à bala durante confusão no trânsito, em fevereiro do ano passado, agiu no “estrito cumprimento do dever legal”, a Polícia Civil terá de continuar investigando o episódio. Embora o inquérito policial, tocado pelo delegado Wilton Villas Boas, tenha sido relatado ao Poder Judiciário, em 17 de maio deste ano, o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) devolveu a investigação à corporação no dia 3 deste mês.

Por meio de nota à imprensa, a Polícia Civil informou que “novas diligências policiais” estão em andamento, sem explicar quais, e o inquérito é acompanhado pela Corregedoria-Geral. A corporação também registrou que embora a investigação tenha concluído que o delegado não cometeu crime ao abordar motorista após “fechada” no trânsito e atirar quando a condutora não obedeceu a ordem de parada, ele ainda pode responder administrativamente.

“A conclusão da esfera criminal é apenas o primeiro passo, e a Corregedoria-Geral dará continuidade à apuração na esfera administrativa, em procedimento próprio, visando esclarecer possíveis irregularidades funcionais decorrentes da situação que se envolveu o ex-delegado-geral”, explica o texto divulgado nesta tarde.

Confusão no trânsito – No dia 16 de fevereiro de 2022, para parar motorista de um Renault Kwid, após ordem de parada e perseguição, Geraldo, que era o chefe da Polícia Civil em Mato Grosso do Sul e estava em um Chevrolet Cruze (viatura descaracterizada), atirou, estourando três pneus do veículo conduzido por jovem artesã, de 25 anos.

Tudo aconteceu após “fechada” e “buzinada” no trânsito, no cruzamento da Avenida Mato Grosso com a Rua Ceará, em plena “hora do rush”. O delegado deu sinal sonoro e de luz, mas a motorista não parou. Ele emparelhou o veículo, mas a condutora do Kwid continuou seguindo até que no cruzamento das ruas Nortelândia e Antônio Maria Coelho, Geraldo conseguiu fazer a primeira abordagem, descendo do Cruze. A motorista, mesmo assim, não abriu o vidro e deu marcha à ré, momento que o delegado atirou nos pneus do carro.

A condutora conseguiu virar à esquerda na Antônio Maria Coelho, subir a Rua Dr. Paulo Coelho Machado, virar na Mato Grosso, fazer retorno e parar no estacionamento de escola de inglês, na Mato Grosso com a Paulo Machado, onde desceu do carro só depois da chegada de uma amiga.

A moça afirmou, inicialmente, que não sabia que se tratava de um policial e se assustou. Ela inclusive ligou para o 190 pedindo ajuda por estar sendo perseguida por “um homem” que atirou contra o carro dela. Na delegacia, ela usou o direito ao silêncio, alegando que só falaria em juízo.

Câmera de escola de Inglês gravou momento que motorista estaciona; delegado-geral desce e bate no vidro do carro dela (Foto: Reprodução)
Câmera de escola de Inglês gravou momento que motorista estaciona; delegado-geral desce e bate no vidro do carro dela (Foto: Reprodução)

Relatório do inquérito – Para investigação da Polícia Civil sobre episódio, a mulher, que mostrou o dedo do meio para o então delegado-geral, cometeu pelo menos dois crimes, desobediência e direção perigosa.

De acordo com o relatório do inquérito, assinado por Wilton Villas Boas, titular da 3ª DP (Delegacia de Polícia) e que atuou como corregedor neste caso, “restou evidente que a abordagem realizada se tratava realmente de uma abordagem policial, um tanto questionável no início, mas muito evidente no seu desfecho, não havendo dúvidas, que com a presença de várias viaturas da Polícia Militar e de vários policiais militares fardados, o questionamento e não acatamento de ordem se mostrou desarrazoável”, registrou, referindo-se ao período que a motorista recusou-se a descer do veículo, já parada no estacionamento, após a chegada da PM.

A jovem poderia ter sido “enquadrada” por um terceiro crime – o de injúria – “ofensa à integridade moral do ofendido, praticada, no caso, por meio de gesto, com a extensão do dedo do meio da mão esquerda, simbolizando um instrumento fálico”, também anotou Villas Boas no documento, de maio deste ano. Acontece que não foi formalizada queixa por parte de Geraldo no prazo legal.

Para o corregedor, a ordem de parada foi dada pelo delegado diante de “fundada suspeita”. Sobre o fato de o policial ter atirado em rua movimentada, em horário de pico, o delegado que investigou a ocorrência não considerou exagero, explicando que o colega não fez disparos enquanto dirigia, mas no momento que estava a pé e que atirou contra os pneus do carro “a curta distância”.

Lembrou ainda que na pistola Glock de Garcia Geraldo estavam 17 munições intactas e que em situações de “grande carga emocional” “não é incomum” que armas sejam descarregadas totalmente. “O policial agiu com a moderação necessária”, escreveu Villas Boas.

Imagens – A motorista tinha câmera instalada no veículo e chegou a afirmar que as imagens gravadas provariam que ela havia sido vítima de abuso de autoridade. Durante a abordagem, antes de descer do carro, escondeu o cartão de memória na boca, mas depois, ao ser levada para a delegacia, o entregou.

Não foi possível recuperar as imagens, pois o dispositivo estava danificado. A investigação se baseou, porém, em imagens das câmeras de segurança instaladas ao longo do trajeto e depoimentos.

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