Motorista que mostrou dedo do meio a delegado cometeu 2 crimes, conclui polícia
Para apuração da Polícia Civil, Adriano Garcia Geraldo “cumpriu dever legal” ao parar carro de jovem à bala
Para investigação da Polícia Civil sobre episódio ocorrido em fevereiro do ano passado, em plena "hora do rush", na Avenida Mato Grosso, em Campo Grande, a motorista de 25 anos, que mostrou o dedo do meio para o então delegado-geral Adriano Garcia Geraldo, cometeu pelo menos dois crimes, desobediência e direção perigosa. A autoridade policial, por sua vez, agiu no “estrito cumprimento do dever legal”.
No dia 16 de fevereiro de 2022, para parar a condutora de um Renault Kwid, após ordem de parada e perseguição, Geraldo, que era o chefe da Polícia Civil em Mato Grosso do Sul e estava em um Chevrolet Cruze (viatura descaracterizada), atirou, estourando três pneus do veículo conduzido pela jovem.
Tudo aconteceu após “fechada” e “buzinada” no trânsito, no cruzamento da Avenida Mato Grosso com a Rua Ceará. O delegado deu sinal sonoro e de luz, mas a motorista não parou. Ele emparelhou o veículo, mas a condutora do Kwid continuou seguindo até que no cruzamento das ruas Nortelândia e Antônio Maria Coelho, Geraldo conseguiu fazer a primeira abordagem, descendo do Cruze. A motorista, mesmo assim, não abriu o vidro e deu marcha à ré, momento que o delegado atirou nos pneus do carro.
A condutora conseguiu virar à esquerda na Antônio Maria Coelho, subir a Rua Dr. Paulo Coelho Machado, virar na Mato Grosso, fazer retorno e parar no estacionamento de escola de inglês, na Mato Grosso com a Paulo Machado, onde a jovem desceu do carro só depois da chegada de uma amiga.
De acordo com o relatório do inquérito, elaborado pelo delegado Wilton Villas Boas, titular da 3ª DP (Delegacia de Polícia) e que atuou como corregedor neste caso, “restou evidente que a abordagem realizada se tratava realmente de uma abordagem policial, um tanto questionável no início, mas muito evidente no seu desfecho, não havendo dúvidas, que com a presença de várias viaturas da Polícia Militar e de vários policiais militares fardados, o questionamento e não acatamento de ordem se mostrou desarrazoável”, registrou, referindo-se ao período que a motorista recusou-se a descer do veículo, já parada no estacionamento, após a chegada da PM.
A jovem poderia ter sido “enquadrada” por um terceiro crime – o de injúria – “ofensa a integridade moral do ofendido, praticada, no caso, por meio de gesto, com a extensão do dedo do meio da mão esquerda, simbolizando um instrumento fálico”, também anotou Villas Boas no documento, de maio deste ano. Acontece que não foi formalizada queixa por parte de Geraldo no prazo legal.
Para o corregedor, a ordem de parada foi dada por Geraldo diante de “fundada suspeita”. Sobre o fato de o policial ter atirado em rua movimentada, em horário de pico, o delegado que investigou a ocorrência não considerou exagero, explicando que o colega não fez disparos enquanto dirigia, mas no momento que estava a pé e que atirou contra os pneus do carro “a curta distância”.
Lembrou ainda que na pistola Glock do então delegado-geral estavam 17 munições intactas e que em situações de “grande carga emocional” “não é incomum” que armas sejam descarregadas totalmente. “O policial agiu com a moderação necessária”, escreveu Villas Boas.
Outro lado – A moça afirmou, inicialmente, que não sabia que se tratava de um policial e se assustou. Ela inclusive ligou para o 190 pedindo ajuda por estar sendo perseguida por “um homem” que atirou contra o carro dela. Na delegacia, ela usou o direito ao silêncio, alegando que só falaria em juízo.
A motorista tinha câmera instalada no veículo e chegou a afirmar que as imagens gravadas provariam que ela havia sido vítima de abuso de autoridade. Durante a abordagem, antes de descer do carro, escondeu o cartão de memória na boca, mas depois, ao ser levada para a delegacia, o entregou.
Não foi possível recuperar as imagens, pois o dispositivo estava danificado. A investigação se baseou, porém, em imagens das câmeras de segurança instaladas ao longo do trajeto e depoimentos.
O inquérito sobre o caso tramitou por mais de um ano, com várias prorrogações, autorizadas com a concordância da 64ª Promotoria. A documentação toda foi enviada à Justiça. Em consulta, no site do TJMS (Tribunal de Justiça), consta em nome da motorista registro somente sobre o envio do inquérito, não havendo informações sobre o oferecimento de denúncia por parte da Promotoria.
Demissão - Dois dias depois da confusão, o delegado Adriano Garcia Geraldo decidiu entregar o comando da Polícia Civil em Mato Grosso do Sul. A carta de demissão do cargo de delegado-geral foi entregue no dia 18 de fevereiro de 2022, ao secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, Antônio Carlos Videira, e ao então governador Reinaldo Azambuja (PSDB).
Atualmente, o delegado ocupa cargo de diretor do interior no Ciops (Centro Integrado de Operações de Segurança Pública).
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