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Jovem fugiu dopado e mãe ficou chocada ao saber que o internou em "manicômio"

Dependente químico percorreu 12 km até a casa da mãe, que gastou R$ 8,6 mil e está endividada

Caroline Maldonado | 14/07/2023 18:25
Jovem fugiu dopado e mãe ficou chocada ao saber que o internou em "manicômio"
Com 57 anos, mãe do jovem que ficou mais de três meses na clínica clanfestina conta como foi enganada (Foto: Juliano Almeida)

O caso da clínica clandestina que a Justiça mandou fechar no Bairro Chácara dos Poderes, nesta semana, veio à tona porque dois jovens fugiram e percorreram 12 quilômetros a pé até chegar em casa. Um deles foi levado de volta por funcionários do local e o outro, de 27 anos, conseguiu conversar com a mãe antes que ela autorizasse o que a clínica chamava de “resgate”, ou seja, levá-lo de volta ao lugar, classificado pela Defensoria Pública como "manicômio".

A mãe, de 57 anos, prefere não divulgar o nome, mas conta que pagou mais de R$ 8,6 mil à clínica durante três meses, tempo em que foi enganada, porque o rapaz era ameaçado se contasse o que sofria no local.

Conforme a Defensoria Pública, o local parecia um "manicômio" com situações desumanas, como tortura psicológica, cárcere privado, abuso de medicamentos e instalações insalubres. A mãe confirma que no lugar jovens e idosos ficavam dopados o tempo todo, perambulando pelo espaço da chácara.

Ela chegou a desconfiar da versão do filho porque ele estava dopado quando chegou em casa. Quando ela foi à clínica, anteriormente, só teve acesso ao pátio da chácara. A mãe combinou a “internação” por R$ 1,8 mil por mês e a remoção, chamada de “resgate” pela direção da clínica, por R$ 700.

Enganação - Somente depois que o filho estava lá, ela foi informada das regras da casa. Ela não poderia vê-lo mais antes de 30 dias e, além da mensalidade, tinha que pagar por cigarros e itens da cantina, além de comprar materiais de limpeza e higiene. Ela internou o rapaz lá porque o filho de uma amiga e vizinha estava lá há menos de um mês e havia contado que o lugar era bom.

Jovem fugiu dopado e mãe ficou chocada ao saber que o internou em "manicômio"
Área externa da clínica clandestina (Foto: Divulgação/Defensoria Pública)

Passado esse tempo, ela foi até lá e falou com filho que “não falava coisa com coisa” e estava “melancólico” nas palavras dela. “Percebi que ele estava dopado, mas achei que isso fazia parte do tratamento, porque eles disseram que lá tinha médicos, psiquiatra, psicólogo, enfermeiro e tudo”, contou a mãe.

Castigo - Durante a visita da família, o filho não podia contar o que sofria, porque seria “protocolado” nos termos que os funcionários usavam para definir o castigo, segundo a mãe. Ela questionou por que ele não usava as roupas que comprou para ele e sim roupas usadas fornecidas pela clínica.

Esse protocolo era um sossega-leão para dormir a semana inteira. Eu não tinha noção disso. Só então veio tudo à minha mente. Outras pessoas ficaram dopadas lá no patio. Tinha um menino que andava com uma bola na mão em círculos, outro senhor de idade andando também, todos no mesmo ritmo”, conta a mãe.

Ela trabalha como cuidadora e gastou toda a renda dos últimos três meses, limite do cartão de crédito, além de fazer empréstimo com pessoas que a ajudaram para custear o que pensavam ser um tratamento psiquiátrico.

Jovem fugiu dopado e mãe ficou chocada ao saber que o internou em "manicômio"
Nas mãos da mãe do jovem, imagem da Santa Luzia, a qual faz orações pela proteção e recuperação do filho (Foto: Juliano Almeida)

É uma tristeza eles usarem do nosso desespero. Friamente te cobram valor e não quer saber, porque se não tiver valor eles não levam. Quando fui lá com uma pessoa junto porque eu estava desesperada com o que meu filho contou, eles não queriam entregar as coisas do meu filho se eu não pagasse mais uma mensalidade”, relata.

No local, estava o filho da vizinha que também tinha fugido, mas foi levado de volta à clínica. “Estava dopado. O conheço desde criança, mora aqui no bairro. Abracei ele e ele gemeu de dor, pediu para não apertar. Aí eu não suportei mais e saímos de lá”, lembra a mãe, que resolveu buscar a Defensoria.

O caso ganhou repercussão nesta quinta-feira (13), quando a Defensoria Pública emitiu nota à imprensa detalhando denúncias feitas em maio deste ano e uma vistoria no local, constatando situações desumanas como tortura, cárcere privado, abuso na manipulação de medicamentos, instalações insalubres e total ausência de prescrições médicas adequadas.

Hoje, na fachada do lugar, existe uma placa em nome de Comunidade Terapêutica Nova Vida, que se apresenta como lugar para acolher dependentes químicos. A nova direção informou que a clínica que funcionava ali antes fechou e agora a comunidade ocupa o espaço.

Jovem fugiu dopado e mãe ficou chocada ao saber que o internou em "manicômio"
Área externa da clínica clandestina no bairro Chácara dos Poderes, onde mãe podia visitar filho sem entrar na casa (Foto: Henrique Kawaminami)

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