Na volta da palavra livre, médicos defendem "kit prevenção" na Câmara Municipal
Médicos foram à Câmara Municipal para apresentar protocolo do "kit prevenção para tratamento contra covid-19
Depois de três meses sem uso da palavra livre na Câmara Municipal de Vereadores, momento em que integrantes da sociedade pode se manifestar, três médicos puderam retomar o sistema na sessão desta terça-feira (14) para defesa do uso do kit preventivo contra o novo coronavírus (covid-19).
Estiveram presentes o nutrólogo e toxicologista Sandro Benites, o angiologista Mauri Comparin e a mastologista Marilana Geimba de Lima, a convite do vereador Wilson Sami (MDB).
Marilana Lima descreveu o protocolo já apresentado à prefeitura de Campo Grande da Hidroxicloroquina até o 5º dia do início dos sintomas. O tratamento prevê, ainda, Azitromicina 500mg ou Claritromicina 500mg, Sulfato de Zinco 110 mg, a Ivermectina 6 mg e a Vitamina D3 como medicamento adicional.
Mauri Comparin listou estudos desenvolvidos na França e nos EUA que demostraram a eficácia da profilaxia. Comparin criticou o uso da Hidroxicloroquina no estágio avançado da doença. “Ali não fazem efeito, independentemente deles [medicamentos], os pacientes iriam a óbito”.
O médico disse que não há como se aguardar a comprovação científica propagada por alguns infectologistas, que rechaçam o uso do medicamento por conta de outros estudos que indicam a ineficácia do tratamento. Comparou o atual cenário a queda de prédio. “Não vou esperar o engenheiro fazer o cálculo, é o momento de salvar, de tirar as pessoas do prédio”, disse.
Antes da conclusão dos pronunciamentos dos médicos, os vereadores manifestaram-se. Com exceção de Eduardo Romero (Rede), que disse não ter posicionamento definido, mas era favorável ao debate científico, os demais indicaram apoio à adoção de protocolo, com aval do paciente e avaliação médica.
Andre Salinero (Avante) criticou o uso político do “kit prevenção”, discussão que deve se ater aos integrantes do sistema de saúde. “Não é de governante, discussão política da hidroxicloroquina tomou um viés que prejudica a todos”.
Antonio Cruz (PSDB), que também é diretor do Hospital Evangélico, disse que o tratamento preventivo à base de ivermectina e zinco é usado há meses na instituição e, segundo ele, com resultado. “Fizeram comédia, um drama na intenção de não se fazer tratamento precoce para que povo adoecesse”, afirmou.
Carlos Augusto Borges (PSB) também lamentou que se fizesse uso político do debate e que era importante o posicionamento médico sobre o tema e não de “leigo falando em cima de Jet ski”, em clara referência ao presidente da República Jair Bolsonaro, defender da hidroxicloroquina. “Tem que governar o país e não falar de remédio, ele não entende nada”.
O vereador Otávio Trad (PSD) lembrou a proximidade do colapso do sistema de saúde com o aumento de casos graves para internação e que adoção de protocolo pode ser eficaz em determinadas situações.
Também se manifestaram os vereadores Roberto Santana dos Santos (Repúblicanos), Lídio Leite (PSDB), Dharleng Campos (MDB) e Cida Amaral (PSDB).
Após a exposição dos vereadores, Sandro Benites finalizou a participação dos médicos, dizendo que ainda há tempo de reparar os erros estratégicos no Brasil, como a orientação de somente procurar o médico em caso de falta de ar. “É erro crasso, quanto tem falta de ar, os pulmões estão comprometidos, a chance de sucesso é mínima”.
Também criticou a “demonização” da cloroquina e da ivermectina, alegando que não há histórico conhecido de intoxicação e complicações pelo uso dos medicamentos e o argumento de aguardar publicação científica. “Não dá para esperar publicação enquanto milhões morrem”.
O uso desses medicamentos é polêmico e não tem unanimidade na comunidade científica. As sociedades brasileiras de Infectologia e de Pneumologia e Tisiologia já se manifestaram contrárias ao uso dos remédios justamente por não haver eficácia comprovada.
Infectologistas ouvidos em reportagem no Campo Grande News também reprovaram o uso do medicamento.
No Hospital Regional, onde Sandro Benites trabalha, comunicado interno liberou os médicos que quiserem prescrever o kit, mas vetou adotar o sistema como protocolo da instituição.
A prefeitura já consumiu R$ 863 mil em remédios que irão compor o “kit prevenção” que ficará à disposição aos médicos que optarem por essa prescrição. Os remédios vão complementar a remessa enviada pelo governo federal de 10 mil comprimidos de cloroquina.