Onda de assaltos leva terror, pânico e medo às escolas da periferia
Onda de assaltos vem levando terror e medo às escolas da periferia de Campo Grande. Professores e estudantes manifestam preocupação e relatam que os crimes ocorrem a luz do dia e, em alguns colégios, são registrados mais de um na mesma data. Na maioria dos casos, os bandidos chegam abordo de motocicletas e, munidos de revólver ou faca, anunciam o assalto. A ousadia é tanta que alguns obrigam os alunos a buscar dinheiro em casa.
Há dois anos na Escola Estadual Flavina Maria da Silva, no Jardim Botafogo, Natália Fernanda de Souza Rodrigues, de 16 anos, não suporta mais a violência no portão do colégio. Ontem (3), ela viu duas colegas sofrerem com a ação dos bandidos. Uma ficou sem celular e a outra precisou ir até sua casa para entregar R$ 180.
“Pouco depois das 13h, uma aluna, que estava atrasada, chegou correndo no portão e implorando para abri-lo. Ela gritava ser vítima de assalto, só assim a porteira deixou ela entrar. Na ocasião, dois homens, abordo de uma moto, mostraram um revólver e a obrigaram entregar o celular”, relatou Natália. “No mesmo dia, os dois tiveram a cara de pau de assaltar outra garota, que chegava no colégio. Ela estava sem o celular e foram capaz de levá-la até em casa para pegar dinheiro”, acrescentou.
A própria Natália, há um mês escapou de perder o celular. “Estava perto da escola, quando apontaram um revólver e uma faca, disse que estava sem o telefone e os bandidos foram até um colega, que caminhava pouco a frente, e anunciaram o assalto. Ele foi obrigado a entregar o aparelho, caso contrário, poderia morrer”, contou a estudante.
Segundo ela, “a situação está feia no bairro”. “Todos os dias, um aluno é vítima de assalto e os bandidos estão roubando na porta do colégio, está de mais”, desabafou. “Queremos segurança, queremos guardas, como nas escolas municipais”, disse. Neste sentido, a comunidade escolar se organizou e está fazendo um abaixo-assinado em busca de policiamento. “Até hoje, nunca vi uma viatura da polícia em frente ao colégio”, disse Natália.
Diretor da Escola Estadual Zélia Quevedo Chaves, no Bairro Iraci Coelho, Hunter Vilalba Pinto, é outro que manifestou preocupação com a onda de assaltos. “Desde março, a situação vem se agravando”, comentou. “Não tem horário para o crime, estão pichando, roubando e assaltando”, emendou.
Na segunda-feira passada, conforme ele, dois marginais, munidos de uma arma de fogo e uma faca, correram atrás de um estudante em busca do celular. O diretor contou ainda que, na semana passada, às 6h40, duas alunas foram assaltadas. “Puxaram o cabelo delas e as obrigaram a entregar o celular”, relatou. “Toda semana, tem casos. Ou os estudantes entregam o que tem ou morrem”, continuou.
Preocupado, o professor já encaminhou ofícios à polícia em busca de policiamento preventivo. “Mas, até agora, eles só vêm quando chama, no dia que acontece um crime”, afirmou. “O fato é que estamos perdendo para as drogas. Parece que as autoridades só vão acordar quando acontecer uma tragédia, quando matarem uns 10 no portão”, avaliou. “Enquanto isso, estamos reféns dos bandidos”, concluiu.
Presidente do Conselho de Diretores das Escolas Estaduais, Mairenilce Peixoto dos Santos disse que “todas as escolas, principalmente da periferia, sofrem com a falta de segurança”. “É um problema sério”, assegurou. “Para piorar, o policiamento escolar acabou”, lamentou.
Diretor da Escola Estadual Adventor Divino de Almeida, na região central da cidade, Inivaldo Gisoato avalia que o problema “é um reflexo da sociedade”. “A criminalidade aumentou de forma geral e é evidente que as escolas não vão ficar imunes”, comentou. Há 10 anos no comando do colégio, ele também nunca viu uma viatura da polícia monitorar a região. “Falta segurança”, reforçou.
O outro lado - Por meio da assessoria de imprensa, a Polícia Militar informou que “faz o policiamento escolar, priorizando os horários de entrada e saída e as regiões com maior índice de criminalidade”. Para reforçar a segurança, eles realizam com frequência a Operação Saturação.
Na ação, os policiais chegam de surpresa para abordar o maior número possível de pessoas a fim de flagrar armas de fogo, drogas e pessoas com débito na justiça. O plano é tirar de circulação ameaças. A assessoria disse ainda que oficiais de área vão até as escolas para ouvir dos diretores os problemas mais frequentes. O objetivo seria se aproximar da comunidade.
Já a assessoria de imprensa da SED (Secretaria de Estado de Educação) afirmou que não cabe a pasta a responsabilidade do que acontece do portão para fora das escolas. Dentro dos colégios, a equipe desenvolve projetos de conscientização para combater a violência e envolver a família com os estudantes.