"Por que ele fez isso?", diz avó em júri de ex-militar que matou esposa
Ex-militar é julgado nesta sexta-feira, em Campo Grande, por feminicídio
"Por que ele fez isso? Não era tão simples ter largado?". O questionamento é de Alcilete Albuquerque de Freitas, avó de Natalin Nara Garcia de Freitas Maia, morta aos 22 anos pelo marido, o ex-militar da Aeronáutica, Tamerson Ribeiro de Lima Souza. Alcilete foi ouvida durante o júri do ex-militar, que ocorre nesta sexta-feira (25), no Fórum de Campo Grande.
A avó contou que Natalin chegou a comentar algumas vezes que queria se separar, pois o relacionamento com Tamerson não estava bem. "Mas falou que se separasse dele, ele a mataria". Ao lembrar dos momentos, a avó chorou. Comentou que a filha de Natalin, de 5 anos de idade, pergunta da mãe com frequência. "Ela fala 'vozinha to com uma saudade da minha mãe, tão grande', eu respondo 'olha sua mãe está lá no céu'".
A mãe de criação de Natalin, Simone Vilela de Jesus Floriano, de 37 anos, também foi ouvida no júri. Contou que presenciou apenas uma briga entre o casal e também confirmou que Natalin queria se separar. "Ele se fazia de sonso para tudo. Ela [Natalin] falava sempre 'o Tamerson me tira do sério'", afirma a tia.
No dia do crime, após ter matado Natalin, Tamerson ligou para Simone. "Me ligou perguntando se eu tinha notícias da Natalin, estava preocupado, chorou um pouco e falava que estava com medo de ter acontecido alguma coisa com ela. Não foi de boa a ligação", comenta. Ao saber pela polícia que ele quem teria matado Natalin, Simone diz não ter acreditado. "Pensei 'é mentira', não acreditei, porque ele era a pessoa que eu depositava todas as esperanças de um futuro para a filha da Natalin", ponderou.
Júri - Tamerson foi denunciado pelo crime de homicídio triplamente qualificado pelo motivo torpe, asfixia e feminicídio, além da ocultação de cadáver. O júri desta sexta-feira é presidido pelo juiz Aluízio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri.
O crime ocorreu no dia 4 fevereiro deste ano. Na denúncia, o Ministério Público de Mato Grosso do Sul descreveu que o réu agiu por motivo torpe, pelo fato da vítima chegar em casa embriagada e o ter xingado. Além disso, há indícios de que a filha do casal, de 4 anos, presenciou o crime.
O caso – No dia 6 de fevereiro deste ano, o corpo de Natalin foi encontrado na margem da BR-060, saída para Sidrolândia. A investigação aponta que a jovem foi morta em casa. Tamerson Souza alegou ter sido agredido pela esposa, que chegou embriagada e sob efeito de drogas. Para se defender, tentou segurá-la aplicando um golpe mata-leão e a mulher desmaiou.
O ex-militar justificou que não teve intenção de matá-la. Com medo de ser preso, Souza colocou o corpo no porta-malas do veículo e, no outro dia, levou a filha para a escola com o corpo dentro do carro. Ele deixou a menina e depois seguiu para a rodovia e jogou o cadáver em meio a um matagal.
Quando a polícia chegou à casa do casal e o questionou sobre Natalin, disse que a esposa havia ido embora. Também tentou despistar as amigas dela, respondendo as mensagens no celular e se passando pela vítima. Segundo investigação, chegou a dizer para a filha, antes de o corpo ser localizado, que a mãe passou mal e morreu no hospital.