Pouco estacionamento e muito "aluga-se" faz comércio acender alerta no Centro
Quem mantém portas abertas observa o aumento de gente vivendo nas ruas e furtos por usuários de drogas
Várias portas fechadas, baixa movimentação de pessoas nas ruas e lojas vazias. Esse foi o cenário encontrado pela reportagem do Campo Grande News no Centro da Capital, na tarde dessa quinta-feira (22).
Com até três imóveis por quadra para alugar, os comerciantes que ainda mantém as portas abertas sentem a clientela minguar e as vendas diminuírem. Apenas na Rua 14 de Julho, entre as Ruas Cândido Mariano e Maracaju, foram contabilizados oito imóveis desocupados, com uma placa de "aluga-se" na frente.
Em dezembro de 2022, a prefeitura concluiu a segunda etapa da revitalização do Centro da Capital, do Programa Reviva Campo Grande, lançada na gestão Marquinhos Trad. A área reformada abrangeu o quadrilátero formado pelas avenidas Fernando Corrêa da Costa, Mato Grosso, Calógeras e Rua José Antônio, contemplando toda a extensão da Rui Barbosa, Cândido Mariano, 13 de Maio e o entorno da antiga Estação Rodoviária. Foram investidos R$ 100 milhões na execução de 30 quilômetros de recapeamento e reconstrução de 35 quilômetros de calçadas, adaptadas às regras de acessibilidade.
Na 14, o processo terminou bem antes, mas os comerciantes já reclamam de canteiros quebrados e tampas de esgoto danificadas. Funcionários temem a falta de policiamento e a presença de usuários de drogas e pessoas em situação de rua, que cometem pequenos furtos na região e afastam a clientela. Quem ficou relata que viu várias portas vizinhas abaixarem e alguns pontos estão para alugar há mais de três anos.
A vendedora Cicera Melo, 45 anos, trabalha em uma loja de aviamentos localizada na Rua 13 de Maio há seis anos e relata que os donos do empreendimento já comentaram sobre vender o ponto. A vendedora cita que o ponto ao lado está para alugar há três anos. "Também veio a pandemia, aí acabou de vez, só ladeira abaixo”.
Outro problema para qual a vendedora não vê solução é a vida das pessoas que moram nas ruas e os usuários de drogas. "Eu chego aqui com medo de entrar. Se você deixa algo aqui na frente, tem que pagar funcionário só pra ficar olhando”.
Não tinha uma segurança na rua. Cadê a segurança? Quando a gente mudou, sempre tinha policiais andando aqui, agora não tem. Você vai gritar socorro e não tem uma segurança”, declara a vendedora Cícera Melo.
A vendedora Rozineia Amaral, 41 anos, relata que a loja onde trabalha foi furtada em plena luz do dia enquanto atendia um cliente na tarde desta quarta-feira (21). "O cara veio e roubou o casaco. O cliente viu e foi tentar tomar dele, e ele mostrou a faca e veio pra cima”, relembra.
Rozineia trabalha no local há 11 anos e conta que já passou por vários momentos de apuro durante o expediente. A funcionária já teve o celular roubado e chegou até a correr atrás do ladrão. “Não tem segurança, tá abandonado aqui. Ta todo mundo indo embora. Isso aqui vai acabar. A gente torce pra melhorar, mas tá difícil".
Dono de uma loja de roupas na esquina da Rua 14 de Julho, José Batista de Carvalho, 63 anos, estava parado olhando para uma placa escrito "aluga-se", quando foi abordado pela reportagem. “O Reviva Centro e o covid enterraram todos os comerciantes aqui do Centro", ponderou.
O comerciante relatou à equipe do Campo Grande News que após a revitalização, não há quase local para estacionar e o movimento diminuiu. Carvalho aponta que o preço do aluguel e o crescimento do comércio nos bairros também contribui com a baixa movimentação. "Sem contar que nos bairros tem tudo, e aí o povo dificulta vir no Centro. Muitos [comerciantes] estão migrando para o interior, para os bairros, e até indo embora”.
O Campo Grande News tentou ampliar o debate ouvindo prefeitura e associações que reúnem comerciantes do Centro, mas não obteve retorno.
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