Promotor clama a Jesus para levar júri a punir dupla por morte em lava a jato
Considerações finais de José Arturo Iunes, da equipe de acusação, comoveram plenário
Em tom de pregação, o promotor José Arturo Iunes, da equipe que acusa dupla pelo assassinato de Wesner Moreira da Silva, de 17 anos, apelou para Jesus e para a mãe da vítima como estratégia para comover e convencer júri a condenar Thiago Giovanni Demarco Sena, 26 anos, e William Enrique Larrea, 36 anos, por homicídio. As considerações finais arrancaram lágrimas de quem estava no plenário, principalmente de Marisilva Moreira, 50, que perdeu o filho em 2017, por causa de agressão em lava a jato.
Wesner teve uma mangueira de ar comprimido introduzida no ânus. Ele passou mal, vomitou, foi levado para posto de saúde e depois, transferido para a Santa Casa, onde morreu. A pressão do ar fez o adolescente perder metade do intestino grosso e causar lesões nos pulmões, estômago e em região próxima ao coração. Ele morreu após hemorragia grave e parada cardiorrespiratória.
José Arturo disse que fez tudo o que podia nas manifestações do processo e que aguardaria o julgamento sereno, respeitando a decisão dos sete jurados. Mas pediu que a plateia rezasse para que a justiça fosse feita. “Reze, reze para aquele que nasceu na Rua 25 de Dezembro, para pegar um compressor de ar, para pegar uma mangueira de ar e purificar esse ar daqui desse plenário com justiça. É esse purificador de ar que a gente quer aqui nesse plenário, dona Marisilva”, disse, referindo-se a Jesus Cristo, que nasceu no dia 25 de dezembro.
A mãe de Wesner se levantou e, com as mãos para o céu, respondia cada frase do promotor, como uma réplica às estrofes do sermão de um pastor. “Que façamos justiça. Justiça que quer seu filho Luciano, justiça que quer sua prima Patrícia, justiça que quer o médico Pedro Paulo, o técnico em enfermagem Maurício, justiça que quer o primo Deivid, justiça que quer a Tânia, a assistente social. Justiça que quer esse senhor que veio hoje aqui, que esteve no plenário, na audiência, com a prova técnica, prova incontroversa”, afirmou.
O acusador foi interrompido pelo juiz Carlos Alberto Garcete de Almeida, que conduz o julgamento. “A família de réu e da vítima não fazem parte do julgamento e não podem ser usados...”, dizia quando José Arturo pediu que a mãe de Wesner se sentasse.
O promotor chamou os réus de mentirosos por alegarem que usaram mangueira por cima da roupa da vítima. “Essa alegação que colocou a mangueira por cima da calça é mentira, é falsidade, é hipocrisia, é mendaz”, disse, repetindo a palavra mendaz (que mente) três vezes, aos berros.
A promotora Lívia Carla Guadanhim Bariani, outra integrante da acusação, também emocionou a plateia ao falar. Ela exibiu vídeo com o depoimento da mãe de Wesner e disse, apontando para Marisilva, que espera “justiça principalmente para aquela mãe”.
Lívia e José Arturo querem convencer os jurados a condenarem Thiago e Willian por homicídio qualificado com dolo eventual (quando a pessoa assume o risco de matar). Os réus choram bastante, em vários momentos.
Caso – Na denúncia, o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) detalhou que tudo começou com uma “brincadeira de mau gosto” no lava a jato onde o adolescente trabalhava. Wesner pediu que William comprasse Coca-Cola. “De novo? Agora toda hora é Coca-Cola!, respondeu o colega, pegando pano de limpar carros para bater na vítima.
Em certo momento, Wesner pediu para que o colega parasse, mas não foi atendido. O rapaz correu, mas William foi atrás dele e o imobilizou, agarrando-o pela frente e segurando braços e tórax. Logo em seguida, carregou o adolescente até onde estava Thiago, o dono do estabelecimento.
Conforme denúncia, Thiago pegou a mangueira de ar, utilizada para limpeza de carros, retirou a bermuda e a cueca de Wesner, ligou compressor e o introduziu no ânus do adolescente.
O adolescente morreu no dia 14 de fevereiro de 2017. Laudo pericial atestou que óbito por ruptura espontânea do esôfago, com choque hipovolêmico por hemorragia torácica aguda maciça.