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Cidades

De 6 laudas e 2 dias, nasceu música que eterniza imagem de Pedrossian

Jornalista conta história do nascimento da canção de Renato Teixeira

Osvaldo Júnior | 23/08/2017 17:00
Pedro Pedrossian, ex-governador falecido nesta terça-feira, foi homenageado com música Homem Pantaneiro (Foto: Divulgação)
Pedro Pedrossian, ex-governador falecido nesta terça-feira, foi homenageado com música Homem Pantaneiro (Foto: Divulgação)

“Charque sobre a sela, que amanhã tem dono e é de quem vive aqui”. O verso, cantado por Renato Teixeira, poetiza o cotidiano pantaneiro na música “Homem de Miranda”. Criada como jingle de Pedro Pedrossian na campanha eleitoral para o governo de Mato Grosso do Sul em 1990, a canção foi além de sua finalidade inicial, ganhou as rádios, caiu no gosto popular e passou a integrar o repertório das músicas regionais.

Bastaram apenas seis laudas e dois dias, por um lado, e talento imensurável, por outro, para nascer a música. “Ele só pediu informações sobre o dia a dia do homem do Pantanal”, lembra-se o jornalista Oscar Ramos Gaspar, que esteve à frente da Secretaria de Comunicação do Estado de 1987 a 1989 e, depois, de 1992 a 1994. Na campanha de 1990, Oscar foi assessor especial de Pedrossian.

“Pesquisei sobre o assunto, preparei cinco ou seis laudas sobre curiosidades do cotidiano no Pantanal”, acrescenta o jornalista. O material foi levado a São Paulo, onde ficava a produtora de Renato Teixeira. “Ele precisou de dois dias, no máximo, para fazer essa maravilha”, disse Oscar, até hoje admirado com o talento do compositor e cantor, que ele define como “um grande artista”.

Entre as situações do dia a dia levantadas pelo jornalista, está o uso de varas, tipo de porteira antiga e de construção simples, comum no Pantanal. Renato Teixeira transformou a informação no seguinte verso: “Cinquenta porteiras, cinco varas, tudo começou assim.”

A vida dura do homem pantaneiro, que dificulta até mesmo sua alimentação, também foi relatada por Oscar a Renato. “Os pantaneiros colocavam ou colocam (não sei se é assim ainda hoje) o charque entre a sela do cavalo e o bacheiro. Eles faziam isso para esquentar a carne”, descreve. O bacheiro, explica ele, é o pano de lã que é posto no lombo do cavalo, embaixo da sela.

Essa estratégia do pantaneiro para esquentar a carne foi poetizada assim por Renato Teixeira: “Charque sobre a sela que amanhã tem dono e é de quem vive aqui. E é de quem trabalha com tanta beleza, pensar no porvir”.

Renato Teixeira fez a música em dois dias (Foto: Divulgação/site oficial do cantor)
Renato Teixeira fez a música em dois dias (Foto: Divulgação/site oficial do cantor)

Em nenhum momento, a letra faz referência direta a Pedrossian, falecido na madrugada de ontem (dia 22). A ideia era justamente essa, de acordo com Oscar. “Não tinha nada do tipo: 'vote em Pedrossian'”, exemplifica.

A intenção era associar a imagem do então candidato com o homem pantaneiro. A força semântica da expressão “Homem Miranda”, que foi tantas vezes usada em referência a Pedrossian, certamente não seria a mesma, caso a relação com a campanha fosse explícita.

A distância planejada entre a letra e a política também contribuiu para que a música caísse no gosto popular, ganhasse as rádios e entrasse no repertório das músicas regionais.

Canção foi entoada no velório de Pedrossian, quando bandeiras de MS e MT foram colocadas sobre caixão. (Fotos: Marcos Ermínio)
Canção foi entoada no velório de Pedrossian, quando bandeiras de MS e MT foram colocadas sobre caixão. (Fotos: Marcos Ermínio)

“Quando ouvir pela primeira vez a música, disse ao Renato: 'Não sei se tenho mais raiva de mim ou mais inveja de você'”, conta Oscar, rememorando a conversa que teve com o compositor. “Eu explique ao Renato que precisei de, pelo menos, 15 dias para escrever as laudas com informações do Pantanal, enquanto ele só precisou de dois dias para fazer aquela maravilha de música”, contou. “Eu poderia escrever centenas de páginas, mas não teria a beleza da canção”, completa.

Depois, foi a vez do próprio Pedrossian ouvir a música. “Ele ficou muito emocionado. Chorou copiosamente e disse que, enquanto o Renato cantava, vinha à sua memória toda sua infância”, finaliza o jornalista.

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