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Cidades

De carro de luxo a mansão: sonhos “de rico” moveram vítimas de golpe

Nenhuma das vítimas recebeu valores prometidos já que datas para os retornos eram sempre adiadas por golpistas

Guilherme Henri e Marta Ferreira | 21/11/2017 17:30
De carro de luxo a mansão: sonhos “de rico” moveram vítimas de golpe
Primeira página de contrato que ficou na posse de esteticista de 29 anos (Foto: Arquivo Pessoal)

As vítimas da quadrilha de golpistas alvo da Operação Ouro de Ofir já haviam feito planos "de rico" para o dinheiro que nunca chegou. Casas em condomínios de luxo, reformas e até lista de empreendimentos extravagantes faziam parte do sonho de quem apostou tudo o que tinha, no que segundo a polícia, não passava de uma farsa.

A operação foi desencadeada nesta terça-feira (21) pela Polícia e Receita Federal. Levantamento preliminar aponta que pelo menos 25 mil pessoas em todo o país caíram na conversa das pessoas contratadas dos presos Celso Éder Gonzaga de Araújo, Sidney Peró, Anderson e outro suspeito que está foragido.

Conforme corretora de alto padrão, que pediu para não ter o nome divulgado, as vítimas do golpe eram conhecidas entre corretores da Capital como “clientes do ouro”. “Recebíamos em média cerca de seis clientes no mês que tinham estes valores exorbitantes a receber”, revela a corretora.

Ela detalha que os “clientes do ouro” não tinham um perfil específico. Eram de classe mais baixa, alta e até pessoas com alto nível de instrução acadêmica. “Tenho relato de receber estes clientes há pelo menos cinco anos. Os empreendimentos mais pedidos são no condomínio Dhama e eles não poupam nos pedidos, pois querem ver casas de R$ 1 milhão para cima”, diz.

De carro de luxo a mansão: sonhos “de rico” moveram vítimas de golpe
Em um dos investimentos esteticista investiu R$ 6 mil (Foto: Arquivo Pessoal)
De carro de luxo a mansão: sonhos “de rico” moveram vítimas de golpe
Contratados eram assinados e autenticados em cartório (Foto: Arquivo Pessoal)

O problema é que os clientes começaram a colocar em “maus lençóis” os corretores, que em muitos casos se sentiam constrangidos e precisavam tomar cuidados redobrados com os donos das casas desejadas pelas então vítimas. “Começamos a adotar a cautela de só mostrar empreendimentos onde não havia moradores, pois a história de sempre ter um grande valor para receber devido a aquisição destes títulos de ouro era a mesma”, comenta.

Ainda de acordo com a corretora em alguns casos os “clientes do ouro” chegavam a dizer que se a corretagem fosse boa até ela receberiam uma casa milionária no pacote. “Teve uma cliente que chegou com uma lista de empreendimentos milionários e ainda pediu sugestões de onde poderia investir esse dinheiro”, lamenta.

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Policiais federais e agentes da Receita Federal durante operação na Company Consultoria Empresarial (Foto: Guilherme Henri)

Apenas melhorar a casa – Diferente deste perfil, mas ainda vítima dos golpistas, um esteticista de 29 anos, que pediu para ter a identidade preservada procurou o Campo Grande News depois de ver as noticiais da operação onde investiu cerca de R$ 10 mil.

Ele conta que em pouco mais de um ano investiu todo o dinheiro que tinha, na época em uma transição de empregos. “Estava apertado e fui apresentado ao ‘negócio’ por amigos. O olho foi gordo, mas estava fragilizado devido a minha situação financeira”, diz.

Diferente de outras vítimas, o esteticista relata que mesmo nunca recebendo nenhum valor prometido conseguiu dar a volta por cima e hoje já não dependia nem do valor investido, contudo, a necessidade de reformar a casa em que mora o fez lembrar as economias que até então estavam esquecidas. “Há dois meses comecei a cobrá-los para receber pelo menos o que investi, pois queria reformar minha casa, contudo, a conversa era a mesma, o dinheiro sempre ia sair, ia sair, mas nunca chegava”, desabafa.

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Delegados Henry Tamashiro, Cleo Mazzotti e Guilherme Farias em coletiva (Foto: André Bittar)

Quem também passou pela mesma situação foi um maquiador de 30 anos. Porém, a vítima que pediu para não ter o nome revelado, afirma ter sido mais cauteloso do que amigos próximos, que investiram um alto valor. “Coloquei R$ 1.500 e isso tem uns três anos. Quando cobrava o então retorno de até R$ 1 milhão sempre passavam datas que não se concretizavam”, lamenta.

Além deles, pela manhã um pintor e um vigia acompanharam de longe a operação Company Consultoria Empresarial, que seria uma das sedes dos golpistas. Enquanto o pintor disse que investiu R$ 1 mil, o vigia pode ter amargado prejuízo de R$ 20 mil.

Representação - Devido ao número expressivo de vítimas e teor das promessas, a PF ainda comunicou o Banco Central e ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras que esclareçam a existência ou não dos requerimentos em tramite na instituição, validade dos documentos mencionados e legitimidade da transação que subsidia os contratos de doação, utilizando seus respectivos sites, segundo consta na representação da PF pela prisão dos envolvidos no esquema. 

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Celso Éder Gonzaga de Araújo foi preso nesta manhã (Foto: Marcos Ermínio)
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