Cimi contesta versão sobre tráfico: "usada para tentar justificar massacre"
Governador disse que existe uma plantação de maconha no lado paraguaio cultivada pelos indígenas
A fala do governador Eduardo Riedel (PSDB) de que a área contestada pelos indígenas guarani-kaiowá em Antônio João, a 319 quilômetros de Campo Grande, é de interesse do tráfico de drogas causou a reação das entidades ligadas à defesa dos povos indígenas.
Por ocasião do relatório sobre o conflito entregue a ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), a fazenda Barra, local onde houve o confronto, fica a cinco quilômetros de um rio que faz divisa com o Paraguai e, bem ao lado, existe uma plantação de maconha, cultivada pelos indígenas.
“Os indígenas estão no local que é considerado estratégico pelos traficantes para a exportação da maconha. Essa situação se arrasta há mais de um ano e existe uma ordem judicial para que a policiais fiquem no local garantindo a segurança dos proprietários”.
Em resposta, o advogado do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Anderson Santos, disse não ser verdade, que hoje em dia se tornou comum falar sem compromisso com a realidade.
“Essa estória de tráfico já foi usada pelo governo do Estado para tentar justificar o massacre ocorrido em Amambai quando vitimaram o indígena Vitor Fernandes em operação de despejo sem ordem judicial realizada pela Polícia [Militar] estadual”.
Vitor Fernandes morreu em 2022 em confronto com policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar. O caso aconteceu em Amambai, distante 351 quilômetros de Campo Grande, e ficou conhecido como Massacre de Guapoy.
“Pergunta-se, no episódio, quantos traficantes foram presos? Tanto em Amambai quanto em Antônio João. Esse é o serviço de inteligência do Estado?”, completa.
Decisão judicial – Anderson também critica a medida do juiz federal de Ponta Porã que permite o policiamento ostensivo na fazenda barra. A decisão é baseada numa ação de interdito proibitório, que é quando o particular tem uma ameaça, um boato, de que poderá ser esbulhado e requer ao juízo um mandado proibitório contra o suposto réu.
“E a decisão é clara ao permitir, mesmo sendo também uma decisão equivocada, o policiamento ostensivo, devendo preservar a vida e a integridade física das pessoas, mas nada disso tem sido observado pela PM, para eles a decisão permite qualquer tipo de violação contra a comunidade indígena. Imagine você se em toda ação de interdito fosse disponibilizado efetivo policial para proteger bem particular? Isso é inédito. Será que o cidadão comum, assalariado terá também essa proteção do Estado?”
Confronto - A Aty Guasu (Grande Assembleia Guarani-Kaiowá) acusa a Polícia Militar de Mato Grosso do Sul de “massacre” e afirma em postagem nas suas redes sociais que equipes da Tropa de Choque atacaram a área de “retomada”, na Fazenda Barra, com intenção deliberada de matar.
Imagens gravadas pelos guarani-kaiowá mostram indígenas correndo, fumaça provocada por bombas usadas pelos policiais e o corpo de Neri no chão (veja o vídeo abaixo). Policiais que estiveram no local afirmaram ao Campo Grande News que os indígenas investiram contra a tropa usando inclusive armas de fogo.
Em resposta, ainda segundo a versão dos policiais, o indígena foi atingido e morreu. A reportagem apurou que após o confronto da semana passada, iniciado com o incêndio na ponte de acesso à fazenda, equipes da Polícia Militar permaneceram na área, por determinação da Justiça Federal, para impedir ocupação da propriedade. Na segunda-feira (16), os indígenas teriam ocupado parte da Fazenda Barra.
Policiais teriam conversado com as lideranças e firmado um acordo, para que a área não fosse ampliada. Entretanto, ainda segundo policial que está no local, os indígenas teriam avançado. Diante da tensão, a Tropa de Choque foi acionada para reforçar a segurança, já que havia ameaça de ataque contra policiais, proprietários rurais e funcionários das fazendas.
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