ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
JULHO, SÁBADO  06    CAMPO GRANDE 18º

Interior

Esquizofrênico, Camilo agora descansa ao lado da mãe que ele esquartejou

Homem de 36 anos matou a mãe em 2017 e foi morto por colega de cela em Dourados

Helio de Freitas, de Dourados | 30/04/2021 14:42
Jazigo no Cemitério Parque de Dourados, onde mãe e filho estão sepultados (Foto: Helio de Freitas)
Jazigo no Cemitério Parque de Dourados, onde mãe e filho estão sepultados (Foto: Helio de Freitas)

Camilo Vinicius D’Amico Freitas nasceu no dia 9 de setembro de 1984. Filho da veterinária Pierina Maria D’Amico, Camilo teria oportunidade de poucos para se dar bem na vida, se tornar profissional renomado como a mãe, já servidora concursada do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Mas o desfecho da história foi bem diferente, foi trágico, macabro e triste. Esquizofrênico, Camilo matou e esquartejou a mãe em dezembro de 2017. Gaúcha de Santa Maria (RS), Pierina tinha 60 anos.

Na noite de quarta-feira (27), ele foi morto por companheiro de cela na PED (Penitenciária Estadual de Dourados), onde estava recolhido há três anos e quatro meses. A morte ocorreu durante outra crise provocada pela esquizofrenia.

O corpo de Camilo foi sepultado hoje (30), no mesmo jazigo em que a mãe foi enterrada, no Cemitério Parque de Dourados, região oeste de Dourados. O jazigo tem três gavetas. Na primeira estão os restos mortais de Pierina e a segunda foi ocupada pelo corpo do filho.

Pierina com o filho Camilo em evento recreativo em Dourados (Foto: Reprodução)
Pierina com o filho Camilo em evento recreativo em Dourados (Foto: Reprodução)

Doença e tragédia – Acometido pela doença já na fase adulta da vida, Camilo deixou o curso de Medicina que tinha iniciado e passou a viver sob efeito de medicamentos. A esquizofrenia é transtorno psiquiátrico caracterizado por alteração cerebral que dificulta o julgamento sobre a realidade.

Pierina nunca abandonou o filho. Dedicou boa parte da vida a cuidar de Camilo. O levava sempre que podia a eventos públicos. Era mãe dedicada, afirmam pessoas que conviveram com a família.

Mas a doença venceu. Durante crise provocada pela esquizofrenia, Camilo matou a mãe no início de dezembro de 2017. Na casa em que moravam na rua Rua Antônio Spoladore, no Parque Alvorada, ele esquartejou o corpo, abriu o tórax e o abdome e espalhou as vísceras pelos cômodos.

Fora de si, Camilo usou três facas para cortar partes do corpo. Decepada do braço, a mão direita foi jogada por cima do muro e ficou na calçada.

A empregada de Pierina chegou a ir até a casa na manhã do dia 8 de dezembro de 20017, chamou pela patroa, mas como ninguém saiu para atender ao portão, ela foi embora.

Na tarde do mesmo dia, uma sexta-feira, feriado municipal por ser Dia da Padroeira, vizinho da veterinária viu a mão no chão e chamou a polícia. Policiais militares e guardas municipais foram ao local e encontraram Camilo no quintal, nu, visivelmente transtornado, fora de controle.

Fora de si, Camilo atende policiais no portão de casa no dia em que foi preso (Foto: Adilson Domingos)
Fora de si, Camilo atende policiais no portão de casa no dia em que foi preso (Foto: Adilson Domingos)

Sedado por socorristas do Samu (Serviço Móvel de Urgência), Camilo foi encaminhado para o Hospital Universitário, onde ficou com escolta policial até ser levado para o presídio.

Segundo a perícia, o assassinato de Pierina ocorreu entre os dias 6 e 7 de dezembro de 2017. Camilo passou pelo menos um dia inteiro trancado na casa onde partes do corpo da mãe estavam espalhados.

A Justiça chegou a determinar a transferência de Camilo para o hospital Nosso Lar, em Campo Grande, mas a instituição alegou que não tinha estrutura para mantê-lo isolado e o paciente continuou no presídio.

Em janeiro de 2018, a Justiça negou a transferência dele para instituição especializada em outro Estado e determinou que Camilo fosse mantido na Penitenciária Estadual de Dourados.

Morte na cela – Na noite de quarta-feira, logo após o jantar, Camilo teve outra crise e ficou descontrolado na cela que dividia com outros três detentos.

Juliander de Oliveira Alcântara, 28, condenado a 20 anos por matar um advogado e queimar o corpo em fevereiro de 2017, colocou pano na boca de Camilo supostamente para tentar acalmá-lo, mas acabou matando o companheiro asfixiado.

O preso era responsável em cuidar de Camilo, para que ele tomasse os remédios na hora certa depois da janta. Juliander contou que ele e os outros detentos costumavam amarrar Camilo e colocar pano na boca dele sempre que estava agitado.

A situação se repetiu pela última vez na quarta à noite. Ao perceber o companheiro inconsciente, Juliander disse que tentou reanimá-lo com respiração boca a boca e massagem no peito, mas Camilo já estava morto.

Juliander foi autuado em flagrante por homicídio e vai continuar por muitos anos na cadeia. Camilo foi enterrado hoje de manhã. Agora descansa ao lado da mãe, única pessoa que assumiu o risco de perder a vida para cuidar dele.

As três facas usadas por Camilo para matar e esquartejar a mãe (Foto: Adilson Domingos)
As três facas usadas por Camilo para matar e esquartejar a mãe (Foto: Adilson Domingos)


Nos siga no Google Notícias