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Interior

Esquizofrênico, Camilo agora descansa ao lado da mãe que ele esquartejou

Homem de 36 anos matou a mãe em 2017 e foi morto por colega de cela em Dourados

Helio de Freitas, de Dourados | 30/04/2021 14:42
Jazigo no Cemitério Parque de Dourados, onde mãe e filho estão sepultados (Foto: Helio de Freitas)
Jazigo no Cemitério Parque de Dourados, onde mãe e filho estão sepultados (Foto: Helio de Freitas)

Camilo Vinicius D’Amico Freitas nasceu no dia 9 de setembro de 1984. Filho da veterinária Pierina Maria D’Amico, Camilo teria oportunidade de poucos para se dar bem na vida, se tornar profissional renomado como a mãe, já servidora concursada do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Mas o desfecho da história foi bem diferente, foi trágico, macabro e triste. Esquizofrênico, Camilo matou e esquartejou a mãe em dezembro de 2017. Gaúcha de Santa Maria (RS), Pierina tinha 60 anos.

Na noite de quarta-feira (27), ele foi morto por companheiro de cela na PED (Penitenciária Estadual de Dourados), onde estava recolhido há três anos e quatro meses. A morte ocorreu durante outra crise provocada pela esquizofrenia.

O corpo de Camilo foi sepultado hoje (30), no mesmo jazigo em que a mãe foi enterrada, no Cemitério Parque de Dourados, região oeste de Dourados. O jazigo tem três gavetas. Na primeira estão os restos mortais de Pierina e a segunda foi ocupada pelo corpo do filho.

Pierina com o filho Camilo em evento recreativo em Dourados (Foto: Reprodução)
Pierina com o filho Camilo em evento recreativo em Dourados (Foto: Reprodução)

Doença e tragédia – Acometido pela doença já na fase adulta da vida, Camilo deixou o curso de Medicina que tinha iniciado e passou a viver sob efeito de medicamentos. A esquizofrenia é transtorno psiquiátrico caracterizado por alteração cerebral que dificulta o julgamento sobre a realidade.

Pierina nunca abandonou o filho. Dedicou boa parte da vida a cuidar de Camilo. O levava sempre que podia a eventos públicos. Era mãe dedicada, afirmam pessoas que conviveram com a família.

Mas a doença venceu. Durante crise provocada pela esquizofrenia, Camilo matou a mãe no início de dezembro de 2017. Na casa em que moravam na rua Rua Antônio Spoladore, no Parque Alvorada, ele esquartejou o corpo, abriu o tórax e o abdome e espalhou as vísceras pelos cômodos.

Fora de si, Camilo usou três facas para cortar partes do corpo. Decepada do braço, a mão direita foi jogada por cima do muro e ficou na calçada.

A empregada de Pierina chegou a ir até a casa na manhã do dia 8 de dezembro de 20017, chamou pela patroa, mas como ninguém saiu para atender ao portão, ela foi embora.

Na tarde do mesmo dia, uma sexta-feira, feriado municipal por ser Dia da Padroeira, vizinho da veterinária viu a mão no chão e chamou a polícia. Policiais militares e guardas municipais foram ao local e encontraram Camilo no quintal, nu, visivelmente transtornado, fora de controle.

Fora de si, Camilo atende policiais no portão de casa no dia em que foi preso (Foto: Adilson Domingos)
Fora de si, Camilo atende policiais no portão de casa no dia em que foi preso (Foto: Adilson Domingos)

Sedado por socorristas do Samu (Serviço Móvel de Urgência), Camilo foi encaminhado para o Hospital Universitário, onde ficou com escolta policial até ser levado para o presídio.

Segundo a perícia, o assassinato de Pierina ocorreu entre os dias 6 e 7 de dezembro de 2017. Camilo passou pelo menos um dia inteiro trancado na casa onde partes do corpo da mãe estavam espalhados.

A Justiça chegou a determinar a transferência de Camilo para o hospital Nosso Lar, em Campo Grande, mas a instituição alegou que não tinha estrutura para mantê-lo isolado e o paciente continuou no presídio.

Em janeiro de 2018, a Justiça negou a transferência dele para instituição especializada em outro Estado e determinou que Camilo fosse mantido na Penitenciária Estadual de Dourados.

Morte na cela – Na noite de quarta-feira, logo após o jantar, Camilo teve outra crise e ficou descontrolado na cela que dividia com outros três detentos.

Juliander de Oliveira Alcântara, 28, condenado a 20 anos por matar um advogado e queimar o corpo em fevereiro de 2017, colocou pano na boca de Camilo supostamente para tentar acalmá-lo, mas acabou matando o companheiro asfixiado.

O preso era responsável em cuidar de Camilo, para que ele tomasse os remédios na hora certa depois da janta. Juliander contou que ele e os outros detentos costumavam amarrar Camilo e colocar pano na boca dele sempre que estava agitado.

A situação se repetiu pela última vez na quarta à noite. Ao perceber o companheiro inconsciente, Juliander disse que tentou reanimá-lo com respiração boca a boca e massagem no peito, mas Camilo já estava morto.

Juliander foi autuado em flagrante por homicídio e vai continuar por muitos anos na cadeia. Camilo foi enterrado hoje de manhã. Agora descansa ao lado da mãe, única pessoa que assumiu o risco de perder a vida para cuidar dele.

As três facas usadas por Camilo para matar e esquartejar a mãe (Foto: Adilson Domingos)
As três facas usadas por Camilo para matar e esquartejar a mãe (Foto: Adilson Domingos)


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