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Interior

Há cem dias como prefeita, Délia deixa 27 mil alunos sem uniforme e material

Prefeita de Dourados completa nesta segunda-feira cem dias de administração, mas estudantes ainda não receberam kit escolar e alunos que moram na zona rural estão sem transporte

Helio de Freitas, de Dourados | 10/04/2017 11:22
Alunos de escolas municipais de Dourados ainda não receberam uniforme e materiais (Foto: Divulgação)
Alunos de escolas municipais de Dourados ainda não receberam uniforme e materiais (Foto: Divulgação)
Délia Razuk enfrenta dificuldade nos primeiros cem dias de governo (Foto: Helio de Freitas)
Délia Razuk enfrenta dificuldade nos primeiros cem dias de governo (Foto: Helio de Freitas)

Os 27 mil estudantes das escolas municipais de Dourados, cidade a 233 km de Campo Grande, ainda não receberam o uniforme e o kit de materiais, entregues pela prefeitura desde 2012. As aulas já começaram há dois meses e os alunos estão indo para a escola com o uniforme do ano passado.

Filhos de trabalhadores pobres da periferia, sem dinheiro para comprar até um lápis e um caderno, há 60 dias usam o que sobrou do ano passado.

Completando cem dias de administração nesta segunda-feira (10), a prefeita Délia Razuk (PR) ainda não anunciou quando os alunos vão receber o uniforme e o kit de materiais escolares, que até o ano passado incluía lápis, caneta, apontador, borracha e caderno, além de um par de tênis e mochila.

O Campo Grande News tenta há uma semana obter informações da prefeitura sobre a previsão de entrega do uniforme e do kit de materiais, mas a assessoria de imprensa não se manifestou. Uma nova tentativa foi feita ontem em contato com a diretora de comunicação, Elizabeth Salomão, novamente sem sucesso.

Além da falta do uniforme e materiais, a atual administração vem acumulando medidas que afetam crianças e jovens que estudam nas escolas de Dourados.

Sem arte e cultura – Primeiro foi o Nace (Núcleo de Arte, Cultura e Esporte), criado na administração de Murilo Zauith (PSB) e deixado de lado pela atual prefeita.

No dia 30 de janeiro, Délia baixou um decreto determinando contingenciamento de R$ 79,6 milhões dos recursos previstos no orçamento 2017 de todas as secretarias e fundações da prefeitura.

Apesar de a educação ser uma das pastas menos afetadas pelo corte, a medida atingiu em cheio o programa criado em 2012 e que atendia 500 alunos da rede municipal de ensino.

Estudantes de escolas da periferia acima dos cinco anos de idade frequentavam aulas de balé, street dance, teatro, mangá, desenho artístico e arte em quatro escolas particulares da cidade, que não tiveram os contratos renovados.

Na época, o secretário de Cultura de Dourados, Gil Esper, anunciou que o Nace não é prioridade da atual administração e que o programa vai ser remodelado, para atingir mais crianças e adolescentes. Entretanto, não falou quando isso será feito.

Alunos sem transporte – Assim que as aulas começaram, no dia 13 de fevereiro, a prefeitura anunciou mudanças no sistema de transporte escolar e mais uma vez afetou crianças da periferia e da zona rural.

Estudantes que moram em bairros distantes das escolas do Centro, como o Jardim Guaicurus, ficaram sem transporte depois que a prefeita mandou cortar o serviço.

Délia alegou falta de dinheiro para manter o transporte, mas enfrentou forte protesto oposição na Câmara de Vereadores e dos pais, que apontaram falta de segurança para mandar crianças pequenas nos ônibus do transporte coletivo regular.

Na mesma semana, a prefeita recuou e retomou o serviço, mas apenas para alunos do 1º ao 5º ano do ensino fundamental. Estudantes do 6º ao 9º ano e do ensino médio são obrigados a usar o transporte coletivo comum – serviço considerado inseguro pelos pais das crianças.

Mais alunos a pé – Estudantes da zona rural que frequentam aulas em escolas estaduais e particulares da cidade também ficaram a pé. A prefeitura cortou o serviço alegando falta de dinheiro e quer que o governo do Estado pague a conta.

Na semana passada houve uma tentativa para convencer a prefeita a revogar a medida, mas o transporte continua suspenso. “Foi sem sucesso. Lamento a decisão da prefeitura”, afirmou o vereador Madson Valente (DEM), que representa a comunidade rural no Legislativo.

A reunião foi realizada na Secretaria de Educação, com a presença de pais dos estudantes prejudicados. A prefeitura prometeu aumentar duas linhas de ônibus e atender os estudantes da zona rural, mas não disse quando isso deve ocorrer. “Disseram que estão sem condições para isso”, afirmou Valente.

O transporte desses alunos da zona rural – alguns moram a 70 km da cidade – existiu por 36 anos e só agora em 2017 deixou de ser feito pela prefeitura.

“O que o município está impondo aos pais é complicado, porque muitos não têm condições de pagar passagem e alimentação para os filhos. Não tem renda compatível para isso”, afirmou o vereador. Pelo menos cem famílias estão sendo prejudicadas.

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