Índios são hostilizados e perseguidos após ocupação, denuncia Aty Guasu
Em carta divulgada pelo Cimi, conselho promete união dos povos indígenas da região para pressionar governo a demarcar territórios
Índios estariam sendo hostilizados e perseguidos na cidade de Caarapó, a 283 km de Campo Grande, após a ocupação de propriedades vizinhas à reserva Tey Kuê, no mês passado. A denúncia foi feita pelo Conselho Aty Guasu, em carta divulgada no site do Cimi (Conselho Indigenista Missionário).
No sábado (2), representantes das comunidades indígenas da região sul se reuniram na fazenda Yvu, onde os índios foram atacados a tiros por fazendeiros e seguranças, no dia 14 de junho, para exigir das autoridades a punição dos autores do assassinato do agente de saúde Clodiodi de Souza, 26, e dos ferimentos em outros seis guarani-kaiowá.
“O que vemos hoje é uma manobra política do Sindicato Rural e da Associação Comercial de Caarapó em tentar convencer os pequenos proprietários e as pessoas que trabalhavam nas fazendas, colocando-as contra os indígenas, que têm sido hostilizados e perseguidos na cidade”, afirma trecho da carta.
Durante o encontro, o Conselho da Aty Guasu prometeu lutar junto com a comunidade para a demarcação das áreas incluídas no decreto de identificação o território “DouradosAmambaipeguá I”, publicado no dia 13 de maio deste ano pela Funai. O decreto engloba 65 mil hectares e atinge Caarapó, Amambai e Laguna Carapã.
“Nós do conselho estamos juntos nesta luta e que se for preciso vamos unificar todos os territórios guarani e Kaiowá para garantir a demarcação do Dourados-Amambaipeguá. O conselho da Aty Guasu e todos os kaiowá e os guarani agradecem e reconhecem a luta de vocês da região de Caarapó e pela disposição de vocês em encarar a morte para defender a vida de nossas futuras gerações”, afirma a carta.
Sem recuo – Com críticas pesadas aos ruralistas, a quem responsabiliza diretamente pelo desfecho em Caarapó e em Antonio João, no ano passado, o Aty Guasu manda um recado para a Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul e para os Sindicatos Rurais: apesar de vocês serem assassinos e continuarem atacando nossos Tekoha, não daremos nenhum passo atrás na luta pelas nossas terras que foram roubadas e que cada um que cair morto por vocês será um motivo a mais para que nossa luta se fortaleça. A cada tiro um novo passo, a cada cova aberta, nova terra retomada. Garantimos isso”.
Dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, os índios cobraram a punição dos responsáveis pelo ataque do dia 14 em Caarapó: “Frente a este massacre covarde nós exigimos Punição Imediata aos assassinos que são amplamente conhecidos e reconhecidos. Agradecemos o esforço do MPF para fazer justiça, porém, lamentamos profundamente a inércia dos outros setores. Vocês não podem ficar parados frente a tantas provas, vídeos e registros. Isto é mais que omissão, é participação e aceitação do crime de genocídio”.
Ameaças – Na carta, o Aty Guasu também afirma que não aceitará a prisão de índios da aldeia Tey Kuê, que são acusados de tentativa de homicídio, roubo e dano ao patrimônio pelo ataque a três policiais militares, também no dia 14 passado. Os policiais foram espancados e tiveram as armas e coletes levados pelos índios. A viatura foi queimada, assim como um caminhão que fazia serviço em uma das fazendas ocupadas.
“Não aceitaremos que nenhuma das lideranças indígenas de Tey kuê e de qualquer um dos acampamentos de retomada seja presa. Nós não matamos ninguém, apesar da dor coletiva de todas as famílias pelo ataque e o assassinato de Clodiodi. Se por acaso acontecer [prisões de índios], saibam que entenderemos isso como uma declaração de deboche e guerra contra nosso povo. Se esta perseguição acontecer, teremos então que desacreditar no Estado por completo e retomar nossos territórios por nossas próprias mãos”, afirmam os índios.
Ainda na carta, o Aty Guasu promete paralisar todas as rodovias do Estado e “declarar guerra” ao governo caso haja prisões de índios. “Aqui um pai perdeu um filho, nós perdemos um importante parente e nosso solo tradicional foi manchado novamente de sangue. Se um apenas for levado todos nós, de todas as tekoha, iremos nos levantar, queimaremos os canaviais, destruiremos as plantações, mataremos os bois e retiraremos as usinas e as rodovias que ainda estão dentro de nossos tekoha nos explorando”.