ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, SEXTA  22    CAMPO GRANDE 28º

Interior

Justiça extingue ação do MPF que queria indenizar índios por violência

Juiz afirmou ser “impossível” diminuir crimes contra índios; mortes violentas em reserva são 500% superiores à média de MS

Helio de Freitas, de Dourados | 01/06/2015 11:48
Cruzes marcam local onde ocorreram mortes de índios na reserva de Dourados; MPF diz que falta segurança pública (Foto: Divulgação/MPF)
Cruzes marcam local onde ocorreram mortes de índios na reserva de Dourados; MPF diz que falta segurança pública (Foto: Divulgação/MPF)

A Justiça Federal negou ação do MPF (Ministério Público Federal) que pedia indenização por danos morais e materiais aos índios da reserva de Dourados, cidade a 233 km de Campo Grande. Formada pelas aldeias Bororó e Jaguapiru, a reserva tem índice de mortes violentas 500% acima da média estadual e segundo o MPF isso ocorre por falta de políticas de segurança pública em benefício dos guarani-kaiowá.

De acordo com a Procuradoria da República em Dourados, a extinção sem julgamento do mérito foi determinada pelo juiz da 1ª Vara Federal, Fábio Kaiut Nunes e seria a quarta decisão semelhante tomada pelo mesmo magistrado em relação a ações propostas pelo MPF em defesa dos índios.

Na ação, o MPF pedia indenização por danos morais e materiais decorrentes da “inércia” dos poderes públicos na concretização de direitos fundamentais. Para o órgão federal, enquanto os índices de violência da população total de Mato Grosso do Sul diminuem anualmente, o mesmo não acontece entre os índios.

“Na Reserva de Dourados, por exemplo, o quantitativo de mortes por causas violentas é 500% superior aos índices registrados para todo o Estado”, afirma nota da assessoria do Ministério Público Federal.

Ação impossível – Em seu despacho, o juiz afirma ser “impossível” o objeto da ação, por não ter como assegurar que a implementação de política pública nas aldeias “redundará em diminuição dos índices de mortalidade no prazo de cinco anos, especialmente no que se refere às mortes decorrentes de agressão”.

Ainda conforme o juiz, a definição de política para garantia da segurança pública é matéria de mérito administrativo, “de forma que a atuação do Judiciário somente se justifica diante de manifesta ilegalidade”. Ele também negou o pedido do Ministério Público Federal de reparação por danos morais e materiais, por conta das mortes violentas nas aldeias indígenas.

Pouca terra – De acordo com o MPF, Mato Grosso do Sul tem a segunda maior população indígena do país – cerca de 70 mil pessoas divididas em várias etnias. Mesmo diante dessa realidade, apenas 0,2% da área do Estado é ocupada por terras indígenas.

“As áreas ocupadas pelas lavouras de soja (1,1 mi hectares) e cana (425 mil hectares) são, respectivamente, dez e trinta vezes maiores que a soma das terras ocupadas por índios em MS”, afirma o órgão.

Homicídios e suicídios – Ainda conforme o Ministério Público Federal, a região sul do Estado, na fronteira com o Paraguai, tem 44 mil índios que sofrem com um dos mais elevados números de homicídios e de suicídios do país. Em Dourados, na maior reserva indígena do Brasil, mais de 12 mil pessoas dividem 3.600 hectares. A densidade demográfica é de 0.3 hectare/pessoa.

Nas aldeias de Dourados, segundo o MPF, a taxa de assassinatos é três vezes maior que a média nacional. Já os suicídios ocorridos entre os índios em Mato Grosso do Sul são quase sete vezes maiores. Formando 2,9% da população estadual, os índios contribuem com 19,9% dos suicídios.

Nos siga no Google Notícias