Obra inacabada compromete saúde de índios, denuncia vereadora
Virgínia Magrini denunciou ao MP falta de estrutura para atendimento de médicos e odontólogos na aldeia Panambizinho
A falta de estrutura do posto de saúde da aldeia Panambizinho, no distrito de Panambi, em Dourados, está comprometendo o atendimento médico e odontológico aos índios daquela comunidade, denunciou nesta terça-feira a vereadora Virgínia Magrini (PP). Através da assessoria, a vereadora informou que denunciou o caso ao MPF (Ministério Público Federal) e ao Ministério Público Estadual.
Segundo Virgínia, há dois anos os índios do Panambizinho recebem atendimento médico em meio aos entulhos e obras inacabadas. A infraestrutura básica do local deveria ter sido entregue em 2013 e custou aos cofres públicos mais de R$ 182 mil do Fundo Municipal de Saúde. “O atendimento é realizado em salas sem água, energia, portas, janelas, móveis e, principalmente, sem banheiro. Quando é necessário, pacientes e profissionais usam a vegetação ou utilizam o banheiro de casas vizinhas”, afirma ela por meio da assessoria.
Sem água – Conforme a assessoria de Virgínia, o dentista Hermes Hespanhol atende os índios em um veículo cedido pela Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) de forma improvisada e precária. “Estamos aqui diariamente há alguns anos. O ‘Brasil Sorridente Móvel’ de alguma forma, ajuda, mas não basta. O veículo foi disponibilizado em 2012, mas poderia estar auxiliando outro profissional em assentamentos. Só consigo tratar urgência básica. É uma pena que todo nosso material instrumental esteja guardado em sacolas e deixadas ao chão. Não posso desenvolver programas com as crianças, como flúor ou escovação aqui no posto. A água que uso para trabalhar e beber, trago de casa”, disse Hespanhol.
Ainda de acordo com a vereadora, o programa Hiperdia, que faz atendimento semanalmente nas unidades básicas de saúde a diabéticos e hipertensos, não estaria sendo colocado em prática na aldeia, assim como acompanhamento de pré-natal, controle de tuberculose e saúde mental.
O clínico geral Maurício Baena afirmou, também através da assessoria de Virgínia Magrini, que o atendimento do profissional ainda está sendo realizado. “Aqui contamos com uma enfermeira, um nutricionista e um dentista. Estamos diariamente tentando ajudar esse povo, que vem até o local porque precisa e temos o dever de ser mais humano. Mas não temos infraestrutura nenhuma. Fazemos coleta de preventivo, por exemplo, em uma sala que improvisamos uma porta e fechamos a janela com papelão. Nem água tem para lavar as mãos entre um atendimento e outro”.
De acordo com o conselheiro de Saúde Indígena Reginaldo Aquino da Silva, garrafas pet e baldes com água são levados diariamente ao posto de saúde para a higienização dos profissionais quando necessário. Ele ainda relatou à vereadora que os animais entram e dormem na unidade de saúde, por falta de portas e janelas.
“No início do ano, pulgas tomaram conta das salas e o atendimento foi suspenso por uma semana”, lembrou Reginaldo. Sem local adequado para funcionar como uma farmácia, os medicamentos estão guardados em arquivos velhos e enferrujados, em uma sala que molha quando chove e podem ser roubados a qualquer momento, afirma Virgínia Magrini.
Prefeitura – O Secretário de Saúde, Sebastião Nogueira, foi procurado pelo Campo Grande News, mas afirmou que sua pasta não é responsável pela execução das obras. Já o secretário de Planejamento, Luis Roberto Martins de Araújo, não foi encontrado para falar sobre o caso.
O Campo Grande News apurou que a construção do posto de saúde está parada porque a empreiteira que venceu a licitação abandonou a obra, o que forçou a prefeitura a fazer outro processo licitatório. A retomada deve ocorrer nas próximas semanas.