Produtores denunciam índios armados e delegado diz que cerco é “factoide”
Produtores de Caarapó, a 283 km de Campo Grande, acusam os índios que invadiram a fazenda Nossa Aparecida de estarem armados e de atirar contra um grupo de proprietários rurais na segunda-feira. Fotos enviadas ao Campo Grande News pelo Sindicato Rural do município mostram pelo menos três índios com armas. Já o delegado da Polícia Civil, Benjamin Lax, disse que o suposto cerco feito por fazendeiros aos índios trata-se de “factoide”.
O presidente do Sindicato Rural, Antonio Umberto Maran, informou hoje que além da tentativa de ataque com paus e flechas à caminhonete em que estava o proprietário da área, Ademir Bacchi, no domingo, os índios teriam disparado tiros na direção de um grupo de produtores rurais, na segunda-feira, dia 8.
“Os produtores foram lá com um fotógrafo para tirar fotos do acampamento e foram atacados. Os índios saíram do mato e começaram a atirar”, afirmou Antonio Maran. Entretanto, ninguém ficou ferido e um dos tiros teria acertado uma caminhonete “de raspão”, segundo o líder ruralista.
Já o Cimi (Conselho Indigenista Missionário) publicou em seu site declarações de índios que estariam no acampamento, relatando ataques dos fazendeiros. Segundo a entidade ligada à igreja católica, o proprietário de uma fazenda vizinha à área invadida teria ligado para um dos índios e oferecido dinheiro para deixarem o local. “Ofereceu dinheiro para sairmos e quando eu disse que não aceitaria ele anunciou o ataque”, diz o índio Edson Chamorro, conforme o Cimi.
Maran acusou o Cimi de distorcer os fatos ao acusar os produtores de ataque aos índios. Em seu site, o órgão acusou os fazendeiros de fazerem um cerco ao acampamento montado na fazenda e de atirarem contra os índios.
Ainda segundo o Cimi, que cita depoimentos de supostas vítimas, uma adolescente indígena de 17 anos teria sido baleada. “Eram todos Hilux, carro de luxo, de fazendeiro. Chegaram e já foram atirando”, afirma o Cimi, atribuindo a declaração ao índio Otoniel.
“Isso é um absurdo, uma vergonha. Foram os índios que atiraram e não houve nenhuma reação dos produtores. Vamos fazer uma nota de repúdio ao Cimi, que joga a sociedade contra o produtor. Aí quem parece bandido somos nós”, afirmou Antonio Maran.
Factoide – O delegado de Caarapó, Benjamin Lax, considerou “factoides” as denúncias de que os produtores cercaram e atacaram os índios, assim como a história de que uma índia teria sido ferida a tiros.
“Os produtores foram ao local para observar, saber o que estava acontecendo na área invadida. Isso não é cerco. E se fosse verdade que uma garota índia tivesse sido ferida e estivesse desaparecida, por que os pais não vieram na delegacia para denunciar? Se uma filha sua é ferida e desaparece você procura a imprensa ou a polícia?”, questionou o delegado.
Benjamin afirmou não ser atribuição da Polícia Civil atuar em questões de disputa por terra envolvendo índios, por isso não poderia agir para desarmar as pessoas do acampamento. Segundo ele, isso cabe à Polícia Federal e à Força Nacional.
Mesmo sem ter ido à área invadida, o delegado disse que o clima de tensão não existe e que apesar da invasão não há confronto. “Os índios estão querendo fazer parecer algo realmente grande, o que não é. Não aconteceu nada de relevante”, disse Benjamin Lax ao Campo Grande News.
Ele minimizou também a tentativa de ataque à caminhonete ocupada pelo proprietário, no domingo. “Não foi um ataque. Os índios atiraram umas varetas, uns gravetos contra a caminhonete que nem arranharam o vidro. Não dá nem para chamar de arco e flecha”. O caso foi registrado pelos produtores em Boletim de Ocorrência na delegacia em que Lax é o titular.
Na segunda-feira, equipes da Força Nacional foram a Caarapó, mas não chegaram a ir até a fazenda invadida. Ontem uma equipe da Polícia Federal esteve na área.
Pedido de reintegração – Antonio Maran negou hoje que os índios tenham sido expulsos da fazenda pelos proprietários rurais. Segundo ele, o grupo montou dois barracos na área, de 65 hectares, usada para plantio de soja.
“Eles podem ter deixado os barracos, mas continuam na fazenda”. Segundo o presidente do Sindicato Rural, o proprietário, Ademir Bacchi, vai entrar na Justiça com pedido de reintegração de posse.